“PRETA É CARINHO” e “Mecânica Quântica” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- 22 de jul.
- 6 min de leitura

“PRETA É CARINHO” Bug Sociedade
Aqui na Bahia, chamar de Preto, Pretinho, Preta - é carinho. Essa era a Preta Gil – uma querida. Não a conheci. Pra não dizer nunca vi, numa homenagem ao seu pai, na Câmara de Vereadores de Salvador, ocupamos a mesma sala, ambas com a preocupação fazer com que tudo corresse bem para o pai, Gilberto.
Numa semana com tantas perdas pra mim – até minha mãe postiça – com o Brasil sendo atacado de maneira abjeta e covarde por pessoas rastejantes, pela escória – ouvir no domingo que também a Preta, a pretinha morreu foi a coroação de uma semana de notícias difíceis.
Vendo pelo lado evoluído da vida, ela finalmente pode descansar – minha mãe postiça também. Estavam já combalidas. Vendo pelo lado trevoso, fiquei me perguntando que mal fizemos – só pode ser kármico – para termos que encarar golpistas aos berros e o boneco inflável amarelo Trump (com aquela boca sinistra) vomitando sua ignorância – afinal, ele não sabe nada do Brasil.
A Preta, a pretinha, ao contrário, sabia tudo da baianidade brasileira. Era direta, objetiva, honesta, se abria ao mundo com a sinceridade dos bons de espírito. Era “carioquissimamente baiana” e deixou essa marca num Brasil que aprendeu a gostar dela, a se chegar e ser “bem chegado” nos seus trios e nas suas festas. Há um pouco de júbilo em devolvê-las – ela e a minha mãe adotiva - ao Universo, creio eu.
Ao contrário, só consigo pensar que existem espíritos perdidos nas trevas da sua evolução e que tentam, por isso, mesmo, nos arrastar na sua descida, no seu encontro com o mal que são e fizeram. Por nossos erros passados, essas criaturas reunidas num só grupo vieram cair justo aqui no Brasil. Na Bahia se diz: “e vieram se parar aqui, os descompreendidos”. Pois é... os descompreendidos caem, mas querem nos levar a todos em sua queda. Mas só querem. Jamais um bom filho brasileiro – preto, pretinho – foge à luta e o boneco amarelo, com aquela sua boca estranha vai levar o mesmo rabo de arraia que levou da China por não perceber que nós, os pretos, pretinhos do Brasil, entendemos bastante de soberania e a defendemos com unhas, dentes e milhares de respostas atravessadas nas redes sociais. Nós, que vimos centenas de milhares serem induzidos à morte, convencidos de que a economia não podia parar, que a vacina dava AIDS, que o Supremo era isso e aquilo, que o povo deveria parar de chorar – arfando, fingindo falta de ar. Eu nunca vou esquecer isso e espero que PGR (Procurador Geral da República) também nunca esqueça – ainda mais agora que ele perdeu seu direito de ver a cara do Pateta – pelo menos factualmente porque metaforicamente tem muito pateta por aqui também.
A alma da Preta foi leve... junto com a da minha mãe postiça – eram boas almas. Mas aqui, sobraram tornozelos atados, pesados, ancorados nas maldades, na falta de cuidado com povo. Tornozelos atolados. E isso é só o começo. Quero ver quando chegar na hora da eternidade...
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Mecânica Quântica” Bug Sociedade
Talvez agora eu saiba coisas que não sabia, compreenda coisas que não compreendia, mas mesmo assim, saber um pouco do que a física, física quântica, física nuclear, têm descoberto nos últimos anos, é impactante. Saber por exemplo que numa escala microscópica, 3 elementos do mundo clássico já não existem, ficamos um pouco perdidos. Mas se lhe disser que os 3 elementos são: a causalidade, a localidade e a realidade, aí ficamos sem fala. 3 elementos vitais na nossa concepção de mundo, de pensamento sobre as coisas não existem no mundo micro. Como é? Onde estou afinal? Para onde vou?
Cada dia se sabe mais um pouco, cada dia a física vai informando o “senso comum”, de um pouco das descobertas, mas percebemos que algumas descobertas são explicadas bem devagar para não perdemos o “norte”, a estabilidade, a orientação, a sensação de que percebemos o mundo.
Somos poeira mas achamos que somos os donos do mundo. E em sociedade não conseguimos mudar isso. Porquê?
Quando a vida nos abana e nos dá mais um aviso tentando que a gente entenda que somos bem pequenos, nos assustamos e logo que é possível, voltamos para as certezas, esse mundo encantado que nos deixa felizes e com ideia de sermos poderosos, capazes, corajosos, maravilhosos.
Se prepare. O mundo sempre se dividiu para aceitar que o subconsciente e o inconsciente influenciam o comportamento - como Freud afirmou. Agora a ciência, a física mais precisamente, tenta docemente nos ensinar que talvez nem estejamos aqui, talvez seja tudo uma ideia, imaginação, uma construção mental. Que é ao olharmos que a mente constrói “o mundo”.
A teoria da relatividade não explica o que sucede no mundo microscópico, dominado pela mecânica quântica, mas descreve o espaço, o tempo, a gravidade no mundo macro. Acontece que as duas teorias são incompatíveis e o grande desafio da física moderna, tem sido, é e será, criar uma teoria que justifique as duas (teorias) e as “aglutine”, as justifique, as combine. Nós comuns mortais vamos vendo as inovações impressionantes no espaço, no mundo tecnológico, etc, mas no mundo microscópico as descobertas são cada vez maiores e mais surpreendentes. E talvez abalem mais ainda a nossa ideia de mente, de pensamento, do mundo, da matéria e da vida. Incrível como sabemos tão pouco, apesar de sabermos cada vez mais.
Observo imagens das nuvens e do vento filmadas antes de um tufão, em Zhuhai, na China e nada parece real. O que se lê e se sabe sobre o que acontece na Palestina, não parece real. Trump, Bolsonaro e sua família, parecem reais? Infelizmente são reais mas não parecem. Este é o nosso mundo macro, com a nossa “teoria da relatividade”. Nos preocupa muito mas está distante – pelo menos para já.
Ao mesmo tempo, o nosso mundo micro tem sempre novidades. Nunca nos deixa sem tarefas. A geladeira avaria e o técnico prepara-se para ganhar uns trocos a mais, adoecemos e nem a prima te ajuda aconselhando um médico, o dinheiro evapora mais rápido do que desejamos porque tudo está mais caro e nós vamos acumulando despesas regulares, medicamentos, necessidades, luxos. Chegam impostos, taxas, tributos, seguros, IPVA, imposto de renda, plano de saúde. O mundo micro, “regido pela mecânica quântica” tirando a cor dos nosso cabelos, colocando umas lembranças nas nossas barrigas, uns medos nas nossas inseguranças, umas dores um pouco por todos os ossos. Um mundo que por vezes parece asfixiante.
O que é real? Tudo isso com sol, sensação de segurança e proteção, calor, abraços e sorrisos não parece tão mau. Dizem os estudos e os especialistas. Dizem que é a forma como olhamos para o mundo – esse fenômeno chamado “ponto de vista. O tenista Novak Djokovic, no auge da sua carreira, quando parecia que estava a perder sem hipótese de recuperar, silenciosamente voltava e dava a volta por cima. Era impressionante. Como se não existisse outro caminho. E na vida? Como fugimos da morte? Penso em Preta Gil e em como foi capaz de enfrentar tudo sem esconder nada, sempre em direção à cura. Até não ser mais possível. Talvez ela já soubesse de tudo muito antes de nós. Talvez o problema seja: como ajudar os que ficam, a saber lidar com a morte dos que amam? Mesmo quando é esperada, mesmo quando não tem fuga? O que sabemos que vai acontecer e o que realmente acontece, são coisas muito diferentes. Precisamos ser melhores nisso.
Trump e Bolsonaro não são pessoas de bem. Estavamos com receio do que poderiam fazer. Mas quando começaram a fazer demoramos a reagir. Trump voltou e está destruindo a “barraca”. Ninguém se levanta? Ninguém interrompe a loucura? Ninguém diz a esta criança que está na hora de desligar a TV e o celular e de ir dormir? Parece um trator esmagando tudo por onde passa. Por favor, alguém se levante e trave esta loucura. Preta Gil foi ficando sem caminho, mas lutou, lutou tudo o que lhe foi possível. Mas nós estamos esperando São Sebastião? Tá certo...
Ana Santos, professora, jornalista
@buglatino
Terça-feira, dia de escrever sobre o que acontece no dia a dia. De crítica, de conselhos, de admiração, de espanto, de encontrar caminhos melhores para todos.
@buglatino
A Plataforma que te ajuda a Falar, Pensar, Ser Melhor.
Komentáře