
Viver sem poesia? É outra coisa, mas não é viver. Como existir sem conhecer poesias como estas que deixamos aqui hoje? Poesias verdade, poesias de todos. Mesmo sem as termos escrito, elas vivem em nós aguardando serem colocadas em palavras por alguém capaz de o fazer.
1. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“LÁGRIMA DE PRETA”
“Encontrei uma preta
Que estava a chorar,
Pedi-lhe uma lágrima
Para a analisar.
Recolhi a lágrima
Com todo o cuidado
Num tubo de ensaio
Bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
Do outro e de frente:
Tinha um ar de gota
Muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
As bases, os sais,
As drogas usadas
Em casos que tais.
Ensaiei a frio,
Experimentei ao lume,
De todas as vezes
Deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
Nem vestígios de ódio,
Água (quase tudo)
E cloreto de sódio.”
António Gedeão
Poesias completas
2. Poesia indicada pelo Bug Latino
“Súplica”
“Tirem-nos tudo,
mas deixem-nos a música!
Tirem-nos a terra em que nascemos,
onde crescemos
e onde descobrimos pela primeira vez
que o mundo é assim:
um labirinto de xadrez…
Tirem-nos a luz do sol que nos aquece,
a tua lírica de xingombela
nas noites mulatas
da selva moçambicana
(essa lua que nos semeou no coração
a poesia que encontramos na vida)
tirem-nos a palhota ̶ humilde cubata
onde vivemos e amamos,
tirem-nos a machamba que nos dá o pão,
tirem-nos o calor de lume
(que nos é quase tudo)
̶ mas não nos tirem a música!”
Noémia de Sousa
Moçambique
Emicida lê o poema
3. Poesia de Teresa Vilaça
“ADEUS”
“Sem esperanças
o amor insiste.
Escorregadio
tenta contornar
tempo presenças
necessidades
Esconde-se atrás de árvores
Mergulha em mar sem sol
Caminha em ruas desertas
Finge
Chora
Clama
Cala
Esquece a cada noite
apenas para tentar
outra vez
a cada manhã
O amor não compreende
Apenas outro
Irá curá-lo”
T.Vilaça
Salvador, 11 de agosto de 2020
POEMAS DO DIA A DIA
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