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Poesia no Natal

Foto do escritor: portalbuglatinoportalbuglatino

Ana Tristany
Ana Tristany

“Escolhas”

“Escolhi amar apesar da solidão

Em meio a tanto “não”

Preferi dizer “sim”

Entregar afeto ao universo

 

Sentir também a dor

Se preciso for

Permitir o escorrer da lágrima

O amargor do medo

 

Lembrar que tudo passa

E o que fica gera vida nova

Faz brotar alegria e luz

Mansidão para o coração aflito

 

A vida encontra jeito

De se reinventar

De trilhar novo rumo

Junto à raiz de bem querer”

COSTA, Dayane Tosta

Nua e outros poemas. Vecchio: Salvador, 2019.

 

 

 

“PASSAGEM DO ANO”

 

“O último dia do ano

não é o último dia do tempo.

Outros dias virão

e novas coxas e ventres te comunicarão o

                                      [ calor da vida.

Beijarás bocas, rasgarás papéis,

farás viagens e tantas celebrações

de aniversário, formatura, promoção, glória,

                [ doce morte com sinfonia e coral,

que o tempo ficará repleto e não ouvirás o

                                      [ clamor,

os irreparáveis uivos

do lobo, na solidão.

 

O último dia do tempo

não é o último dia de tudo.

Fica sempre uma franja de vida

onde se sentam dois homens.

Um homem e seu contrário,

uma mulher e seu pé,

um corpo e sua memória,

um olho e seu brilho,

uma voz e seu eco,

e quem sabe até se Deus...

 

Recebe com simplicidade este presente do

                                         [ acaso.

Mereceste viver mais um ano.

Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos

                                         [ séculos.

Teu pai morreu, teu avô também.

Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras

                                [ espreitam a morte,

mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,

e de copo na mão

esperas amanhecer.

 

O recurso de se embriagar.

O recurso da dança e do grito,

o recurso da bola colorida,

o recurso de Kant e da poesia,

todos eles... e nenhum resolve.

 

Surge a manhã de um novo ano.

 

As coisas estão limpas, ordenadas.

O corpo gasto renova-se em espuma.

Todos os sentidos alerta funcionam.

A boca está comendo vida.

A boca está entupida de vida.

A vida escorre da boca,

lambuza as mãos, a calçada.

A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.”

Carlos Drummond de Andrade

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