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Poesia Materna


Alfredo Ceschiatti - Foto retirada do Site Governo Federal

“a mãe”

“Abortos não te deixam esquecer.

Você se lembra das crianças que gerou mas não teve,

Da polpinha molhada com pouco ou nenhum cabelo,

Cantores e trabalhadores que nunca viram a luz do dia.

Você nunca irá negligenciá-los ou bater

Neles, ou mandar eles se calarem ou lhes comprar um confeito.

Você nunca vai arrancar da boca o dedo que chupam

Ou espantar os fantasmas que aparecem.

Você nunca vai abandoná-los, controlando seu suspiro luxurioso,

Nem vai voltar para comê-los, com devoradores olhos de mãe.

 

Eu ouvi nas vozes do vento as vozes das minhas indefinidas crianças mortas.

Eu me contraí. Eu acalmei

Meus entes indefinidos, nos peitos em que eles nunca mamaram.

Eu disse, Queridos, se eu pequei, se eu tivesse decidido

Sua sorte

E suas vidas de ter um alcance incompleto

Se eu lhes roubei seus nascimentos e seus nomes,

Suas lágrimas de bebê e suas brincadeiras,

Seus amores estranhos ou fofos, seus tumultos, seus casamentos, suas dores, e mortes

Se eu envenenei o começo dos seus fôlegos,

Acreditem em mim que mesmo na minha assertividade eu não fui assertiva.

Mas mesmo assim porque deveria eu choramingar,

Choramingar que o crime não foi meu? —

Porque de todo jeito vocês estão mortos.

Ou melhor, pelo contrário,

Vocês nunca foram feitos.

Mas isso também, suponho,

É uma culpa: ai, o que é pra eu dizer, como dizer a verdade?

Vocês nasceram, tiveram corpo, morreram.

A diferença é que vocês nunca riram ou fizeram planos ou choraram.

 

Acreditem, eu amei todos vocês.

Acreditem, eu conhecia todos vocês, ainda que pouco, e amei, amei vocês

Todos.”

Gwendolyn Brooks 

Poeta, escritora e professora norte-americana. A primeira afro-americana a vencer o Prêmio Pulitzer (1950)

Trad.: Adelaide Ivánova

 

“Ponto de quebra”

“É a quinta vez

Vejo um copo quebrado em várias partes,

mas ainda cumprindo sua função.

Agora estava em um ônibus,

outras vezes eram vitrines

e também uma vitrine de um órgão público.

 

Tentando evitar

qualquer tipo de psicologia barata,

Eu penso na capacidade de ficar de pé

de algo que perdeu sua ordem interna

e as múltiplas feridas que resultam de um único impacto.”

Gustavo Yuste

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