Poesia do Esforço
- portalbuglatino
- 10 de set.
- 2 min de leitura

“Patrão”
“ah patrão, eu levantei
esta terra mestiça de Moçambique
com a força do meu amor,
com o suor do meu sacrifício,
com os músculos da minha vontade!
Eu levantei-a, patrão!
pedra por pedra, casa por casa,
árvore por árvore, cidade por cidade,
com alegria e com dor!
Eu a levantei!
Se teu cérebro não me acredita,
pergunta à tua casa quem fez cada bloco seu,
quem subiu aos andaimes,
quem agora a limpa e a põe tão bonita,
quem a esfrega e a varre e a encera...
Pergunta ainda às acácias vermelhas e sensuais
como os lábios das tuas meninas,
quem as plantou e as regou, e, mais tarde, as podou...
Pergunta a todas essas largas ruas citadinas,
simétricas e negras e luzidias, quem foi que as alcatroou,
[...]
Pergunta quem morre no cais
todos os dias - todos os dias! -,
para voltar a ressuscitar numa canção…
E quem é o escravo nas plantações de sisal
e de algodão,
por esse Moçambique além…
E tu bate-mês, patrão meu!
Bates-me...
E o sangue alastra e há de ser mar...
Patrão, cuidado, que um mar de sangue pode afogar
tudo... até a ti, meu patrão!
Até a ti…”
Noémia De Sousa
(1926-2002)
Nascida no litoral sul de Moçambique, ela é conhecida como a “Mãe dos poetas moçambicanos” por sua influência nos poetas das novas gerações. Noémia de Sousa levou através de sua poesia a luta por liberdade do povo de Moçambique e a resistência da mulher africana para as páginas dos jornais de sua época. Seus poemas escritos entre 1948 e 1951 foram reunidos no livro Sangue Negro, publicado em 2001 pela Associação dos Escritores Moçambicanos.
“Cerimónia secreta”
“Decidiram transformar
o mamoeiro macho em fêmea
prepararam cuidadosamente
a terra à volta
exorcisaram o vento
e
com água sagrada da chuva
retiraram-lhe a máscara
pintaram-no em círculos
com
tacula
barro branco
sangue…
Entoaram cantos breves
enquanto um grande falo
fertilizava o espaço aberto
a sete palmos da raíz.”
Ana Paula Tavares
Conhecida no Brasil como Paula Tavares, é uma escritora de destaque da poesia angolana que se dedica ao trabalho como poeta, cronista, historiadora e professora. Atualmente é docente convidada na Universidade de Lisboa (Portugal) e também leciona na Universidade de Agostinho Neto, em Luanda (Angola). Na Universidade de Lisboa realizou o Mestrado em Literatura Brasileira e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e o Bacharelado e a Licenciatura em História. Sua escrita tem influência de alguns autores brasileiros como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Jorge Amado. Entre as obras de poesia da autora destacam-se os livros: Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001), Ritos de passagem (2007) e Manual para amantes desesperados (2007).
(nota ao editor e ao diagramador: a grafia é assim mesmo: cerimónia. e o poema, por ser moderno, deve ser disposto assim)
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