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Poesia do Esforço

Lygia Pape
Lygia Pape

“Patrão”

“ah patrão, eu levantei

esta terra mestiça de Moçambique

com a força do meu amor,

com o suor do meu sacrifício,

com os músculos da minha vontade!

Eu levantei-a, patrão!

pedra por pedra, casa por casa,

árvore por árvore, cidade por cidade,

com alegria e com dor!

Eu a levantei!

Se teu cérebro não me acredita,

pergunta à tua casa quem fez cada bloco seu,

quem subiu aos andaimes,

quem agora a limpa e a põe tão bonita,

quem a esfrega e a varre e a encera...

Pergunta ainda às acácias vermelhas e sensuais

como os lábios das tuas meninas,

quem as plantou e as regou, e, mais tarde, as podou...

Pergunta a todas essas largas ruas citadinas,

simétricas e negras e luzidias, quem foi que as alcatroou,

[...]

Pergunta quem morre no cais

todos os dias - todos os dias! -,

para voltar a ressuscitar numa canção…

E quem é o escravo nas plantações de sisal

e de algodão,

por esse Moçambique além…

E tu bate-mês, patrão meu!

Bates-me...

E o sangue alastra e há de ser mar...

Patrão, cuidado, que um mar de sangue pode afogar

tudo... até a ti, meu patrão!

Até a ti…”

Noémia De Sousa 

(1926-2002)

Nascida no litoral sul de Moçambique, ela é conhecida como a “Mãe dos poetas moçambicanos” por sua influência nos poetas das novas gerações. Noémia de Sousa levou através de sua poesia a luta por liberdade do povo de Moçambique e a resistência da mulher africana para as páginas dos jornais de sua época. Seus poemas escritos entre 1948 e 1951 foram reunidos no livro Sangue Negro, publicado em 2001 pela Associação dos Escritores Moçambicanos.

                                    

“Cerimónia secreta”

“Decidiram transformar

o mamoeiro macho em fêmea

 

       prepararam cuidadosamente

       a terra à volta

       exorcisaram o vento

         e

       com água sagrada da chuva

       retiraram-lhe a máscara

 

       pintaram-no em círculos

 com

tacula

barro branco

sangue…

 

Entoaram cantos breves

enquanto um grande falo

fertilizava o espaço aberto

a sete palmos da raíz.”

Ana Paula Tavares

 

Conhecida no Brasil como Paula Tavares, é uma escritora de destaque da poesia angolana que se dedica ao trabalho como poeta, cronista, historiadora e professora. Atualmente é docente convidada na Universidade de Lisboa (Portugal) e também leciona na Universidade de Agostinho Neto, em Luanda (Angola). Na Universidade de Lisboa realizou o Mestrado em Literatura Brasileira e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e o Bacharelado e a Licenciatura em História. Sua escrita tem influência de alguns autores brasileiros como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Jorge Amado. Entre as obras de poesia da autora destacam-se os livros: Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001), Ritos de passagem (2007) e Manual para amantes desesperados (2007).

 

(nota ao editor e ao diagramador: a grafia é assim mesmo: cerimónia. e o poema, por ser moderno, deve ser disposto assim)


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