Poesia de Luva Branca
- portalbuglatino
- há 12 minutos
- 2 min de leitura

“HEINRICH HEINE”
“Em uma dessas tardes
porei luvas brancas
fraque negro,
chapéu;
irei à rua Behren,
quando não estiver ninguém no café,
e ainda não tenha se formado a reunião
e ninguém possa me reconhecer
exceto Heinrich Heine,
pois devo falar com ele,
que sabe quanto oculta a glória e o veneno,
o exílio e o reino
(e o sabe muito bem).
Cético, burlão, sentimental crente…
(Assim o descreveu Gautier)
Porém, de quem falava?
Dele ou de nós?
Isto porque, quem não teve opinião
contra seus sentimentos?
Contra quem não grasnou
um corvo de fel?
Em uma dessas tardes…
Embrulharei os olhos de Teresa,
e os porei diante de Heine
de modo que compreenda que também
soube deles e os desenterrei.
Direi a ele que é meu modo de ser contemporâneo.
Faremos uma longa reverência
(são olhos de outro século,
descobertos por mim…)
Esta tarde talvez…
Quando o brumoso melro
salte de galho em galho
e apenas Heine se encontre no Café,
e ninguém jamais venha a saber
que andei entre valquírias, nornas,
parcas do norte,
que eu também fui um desenterrador.”
Heberto Padilla
Cuba, 1932-2000
“ESTADO DE SÍTIO”
“Por que esses pássaros estão cantando
se o milhafre-negro e a raposa se puseram donos da situação
e estão pedindo silêncio?
De repente o guarda-bosques terá que se dar conta,
porém será muito tarde.
As crianças não souberam manter o segredo de seus pais
e o lugar em que se escondia a família
foi descoberto mais rapidamente do que a duração do canto de um galo.
Afortunados os que olhas como pedras,
mais eloquentes que uma pedra, porque a época é terrível.
A vida deve ser vivida nos refúgios,
debaixo da terra.
As insígnias mais belas que desenhamos nos cadernos
escolares sempre conduzem à morte.
E a coragem, o que é sem uma metralhadora?”
Heberto Padilla
Cuba, 1932-2000
Imagem: Arnaldo Pomodoro
Quarta-feira, dia de poesia no Bug Latino. Dia de encanto. Venha se encantar com poetas incríveis.
A Plataforma que te ajuda a Falar, Pensar, Ser Melhor.




Comentários