Assistir aos documentários foi como uma necessidade, após a confusão na saída de Deltan Dallagnol - tanto barulho, tantas mentiras e manipulações, tanta perplexidade pela forma de “metralhadora” que ele assumiu em seu discurso. Achei-os por acaso, numa pesquisa. Portanto, a demanda foi levantada pelo momento importantíssimo da história em que vivemos.
Em LEVARAM O REITOR vê-se um documentário que mergulhou na pesquisa e coleta de informações do lado que foi sufocado, há 5 cinco anos. Uma ação digna, diante do movimento geral anterior – inclusive e a começar pela imprensa – que foi o mesmo empregado nos programas policiais/policialescos que assistimos diariamente – o silenciamento do suspeito, como se ser suspeito fosse igual a ser condenado e apenado. Um total e completo absurdo, normalizado por iniciativa e condução da imprensa.
Os cortes, a montagem, o que pode ser chamado de “visual” do “audiovisual” poderia ser remontado ainda hoje para que o filme fosse mais do que informação. Mas mesmo assim, LEVARAM O REITOR é imperdível, principalmente porque os fatos aconteceram há poucos anos. Nada disso aconteceu na ditadura, não foram os militares, nada disso. Foi, traiçoeiramente, pela operação Lava-Jato – sim, aquela em que se depositou tanta esperança de atacarmos a corrupção com seriedade.
Luiz Carlos Cancellier de Olivo, Reitor da UFSC, cria da casa, de aluno a reitor, poderia ter uma história voltada ao academicismo e a negociação e mediação de conflitos, criação e planejamento de políticas universitárias, projetos universitários, apenas. Mas toda essa versão da história acabou pela suposição de alguém que, ao invés de investigar antes, se certificar antes, prendeu antes. Operação Lava-Jato, aquela na qual todos confiamos e agora a olhamos, perplexos, vendo-a ruir por incompatibilidades diversas com a lei.
O Reitor? Morreu. Suicidou-se. E fez disso um ato político, como sabia fazer. Suas despedidas foram políticas e jamais sufocadas. Bem que tentaram. A Universidade Federal sabe como construir um debate e conseguiu. O fluxo foi interrompido, a Lava-Jato hoje é uma visão deteriorada do que imaginávamos como justiça e aplicação da lei. Mas Cancellier morreu nessa ação. Volto a dizer: política.
Em CAU, temos um filme de muito menor duração, mas a pesquisa continua presente como traço principal. No caso de CAU, há ali amor. É por isso que embora o filme tenha apenas 17 minutos, não poderia deixar de estar aqui porque onde há amor, há presença. Há a qualidade de biografar quem se ama e se foi. É um filme dolorosamente belo.
Ver aos dois filmes coloca o espectador diante de fatos importantíssimos que foram sendo “cavalgados” pela imprensa – que precisa muito se perguntar se a vida humana vale mais ou menos que uma manchete mal ou mesmo não investigada, se a policia federal é sempre neutra em suas investigações e se houve momentos onde os líderes do Brasil privilegiaram salvarem-se a si mesmos.
Ao Sul: Como sair da grandeza de Cancellier e cair, votar, acreditar, confiar em Bolsonaro? É uma pergunta difícil, mas que precisa ser respondida por alguém. Talvez por um povo inteiro.
Espero que ver a esses dois DOCS imperdíveis não nos roubem (mais ainda) a desilusão que trazemos, o peso que sentimos, ao pensarmos nessa Pátria amada, Idolatrada, chamada Brasil.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e Tv
Como se pode fazer uma coisa destas? Quando a justiça vai acontecer, em relação a tamanha crueldade?
Muito emocionante e tremendamente chocante. Chorei, por fora, mas muito mais por dentro. Como podemos ser transformados em nada, em segundos, mesmo depois de décadas de uma carreira de docência, pesquisa, trabalho, sei lá eu... Quem tem esse direito? Luiz Carlos Cancellier de Olivo foi um jurista, jornalista e professor universitário brasileiro. Num percurso curioso e galopante, era destinado para o cargo que ocupava. Foi reitor da Universidade Federal de Santa Catarina entre 2016 e 2017. Foi preso, junto com outros colegas da UFSC, com acusações, forma de prisão, tratamento na prisão, monstruosas. Humilhado, envergonhado. Em liberdade, foi impedido de ir a Universidade, contatar alunos e professores, ele um homem dedicado à vida acadêmica, vivendo num apartamento modesto, em frente ao edifício da Universidade. Suicidou-se, atirando-se do 5º andar do Shopping, com um pequeno bilhete no bolso: “Minha morte foi decretada quando fui banido da Universidade”.
O documentário mais longo nos mostra mais detalhes de como a situação eclodiu nesta situação absurda. As relações entre acadêmicos, as vaidades, a falta de conhecimento que pode levar à desconfiança, as pessoas que anseiam por sucesso e fama, as ações que se tomam ou se ordenam sem pensar na vida e dignidade humanas. É tudo demasiado ignóbil, assustador.
O Brasil é lindo, é rico, é fascinante, é um paraíso. O Brasil é aterrador, perigoso, injusto. Depende do momento, das circunstâncias da vida, das “idiossincrasias”, de quem você é, de onde veio, onde está.
Só encontramos estes documentários porque Ana Ribeiro fez umas pesquisas para uma direção de edição de um dos nossos episódios do programa Unissex. Sem essa pesquisa iríamos viver sem saber da sua existência, da existência de Luiz Carlos Cancellier de Olivo e do que foi vítima. Parecem ser mais interessantes documentários para ganhar dinheiro e menos interessantes os que dignificam a vida humana.
É assustador ver em que ponto estamos da humanidade.
Veja, divulgue, se cuide.
Que Deus e o Universo te protejam.
Ana Santos, professora, jornalista
Documentário CAU (Youtube, 2017)
Link do Documentário
Informações sobre o Documentário:
Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito - CONPEDI produz documentário sobre Luiz Carlos Cancellier de Olivo e provoca reflexão sobre os direitos humanos, os limites do Estado e o papel da imprensa brasileira.
O documentário foi exibido durante a abertura do XXVI Congresso Nacional do CONPEDI, realizado na capital do Maranhão, São Luís, entre os dias 15 a 17 de novembro de 2017.
A iniciativa fez parte da homenagem póstuma oferecida ao reitor da Universidade Federal de Santa Catarina em virtude de seu repentino falecimento. Na ocasião Luiz Carlos Cancellier de Olivo, “Cau”, como era conhecido pelos seus íntimos, recebeu o título de sócio honorário do CONPEDI em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à pesquisa e a pós-graduação em Direito no Brasil.
Para além de exaltar o acadêmico, o profissional dedicado, defensor da universidade pública e das instituições democráticas, o documentário CAU é uma profunda reflexão crítica acerca do papel e das ações que autoridades públicas e a mídia desempenham ao ferir profundamente as garantias fundamentais do direito.
||| FICHA TÉCNICA |||
PRODUZIDO POR TV CONPEDI
Diretor de Comunicação
Matheus Felipe de Castro
Equipe de Comunicação
Ana Carolina Vaz
Eduardo Soares de Lara
Marina Zanin
Roteiro
Ana Carolina Vaz
Eduardo Soares de Lara
Marina Zanin
Felipe Figueiraq/Vedere
Hugo Cavalheiro/Vedere
Imagens
Ana Carolina Vaz
Marina Zanin
Arquivo Agecom
Arquivo Carlos Damião
SEAD UFSC
TJUFSC
TV BAND
TV GLOBO
TV RECORD
TV UFSC
Edições, Arte e Finalização
Felipe Figueira/Vedere
Locução
Renata Kerber
Entrevistados
Emmanuel Tourinho
Lédio de Andrade
Leonardo Moraes
Nelson Wedekin
Orides Mezzaroba
Ricardo Fonseca
Colaboradores
Rui de Oliveira
Simone Fraga
Karina de Souza
NOVEMBRO DE 2017
"LEVARAM O REITOR"| Documentário sobre o caso Cancellier | TVGGN
Link do Documentário
Informações sobre o Documentário:
O documentário “LEVARAM O REITOR", da TVGGN, narra os últimos dias de vida de Luis Carlos #Cancellier e aprofunda todas as investigações abertas e processos judiciais contra o ex-reitor da UFSC e demais professores na Operação Ouvidos Moucos. A perseguição implacável resultou no suicídio de Cancellier, em 2017.
Financiado pelo público via Catarse, o documentário foi produzido ao longo de 6 meses de investigação, somando mais de 20 horas de gravações após a análise de milhares de páginas de peças judiciais de diversos órgãos – Tribunal de Contas da União (TCU), Controladoria-Geral da União (CGU), o inquérito da Polícia Federal, as denúncias do Ministério Público Federal (MPF) e os despachos da Justiça Federal, além de documentos de Fundações e outros obtidos pela investigação.
CRÉDITOS:
"LEVARAM O REITOR – QUANDO O MODELO LAVA JATO ADENTROU UMA UNIVERSIDADE" (Jornal GGN/2021)
ROTEIRO, ENTREVISTA, PESQUISA E PRODUÇÃO: PATRICIA FAERMANN
ASSISTÊNCIA DE ROTEIRO, ARTE, SOM E EDIÇÃO: NACHO LEMUS
IDEIA/PROPOSTA: LUIS NASSIF
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