“EU, ANA, MARILDA E AS MULHERES ASSASSINADAS” e “As tarefas para 2026” Bug Sociedade
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“EU, ANA, MARILDA E AS MULHERES ASSASSINADAS” Bug Sociedade
Quando a gente se encontra é sempre uma festa. Não daquelas comuns, com bebidas e comidas, mas com muitas palavras, temas, assuntos. Esse fim de semana não foi diferente, mas todos os assuntos evoluíram para o mesmo – por que os homens estão cada vez mais violentos e a gente não vê os estados criando políticas públicas? Por que o Tarcísio tirou dinheiro dos parcos investimentos contra os feminicídios, em São Paulo, embora continue falando que o estado está cada vez melhor? Mas como pode estar melhor se os homens estão usando requintes de crueldade para torturar, barbarizar e matar a nós, do gênero feminino? E vou continuar afirmando e reafirmando que mulher trans não chama mulher trans por outro motivo que não seja o de que mulher trans também é mulher – e os homens precisam realizar isso de uma vez por todas e acabar com essa frescura sexista na nossa mente.
Chegamos ao ápice da crueldade e a única voz de político que se levantou e firmou uma opinião abalizada foi a do presidente Lula. Mais uma vez: nada de esquerda ou direita. Apenas ele é o único que não perde a oportunidade de falar no assunto. Continuamos ouvindo barbaridades sexistas – esses deputados e senadores parece que não querem nos dar férias. A maior, nesse ano de 2025, foi o tal projeto onde as meninas engravidadas pelos tarados teriam que ter os filhos daqueles bastardos miseráveis, se não quisessem ser criminalizadas por os terem abortado. Para os tarados, pouca ou nenhuma atenção, mas para nós... simplesmente assassinato. Homicídio. Olhe que se precisa de muita cara de pau para criminalizar meninas de 10 anos que já menstruam – ou pior – é preciso muita cara de pau para acharem que uma menina de 10 anos que menstrua tem condições para ser mãe de alguém nesse mundo de meu Deus. O assunto me dá ânsia porque eu menstruei com 10 anos e brincava de luta – e ganhava – de todos os meninos do meu prédio. Isso era o que eu fazia aos 10. Diferentemente do que esses deputados patetas pensam sobre o que fazem as crianças do gênero feminino, eu nunca brinquei de casinha e ser mãe não passava na minha cabeça.
Homens absolutamente distanciados de quem somos não podem jamais receber voto nosso – já estou conclamando a procurarem o que eles falam sobre o tema porque não podemos simplesmente continuarmos a aparecer no jornal como a vítima do dia. Não podemos ser arrastadas de carro, pelo miserável. Não podemos aceitar a mínima violência, a mínima agressão sem dar logo o último aviso – e isso pode ser: “Você acha que vai sair assim com quem?” ou “mulher minha não usa, não fala, não come, não olha”. Não existe usar esse pronome possessivo contra a gente. Aliás, não existe ser possessivo com a gente. Não existe mais ocupar o lugar de “vítima de homem”. Nenhum homem. E vocês precisam finalmente entender seu papel aqui – e não é o de assistir, fazer “que pena” e trocar de canal! Queremos mais de vocês.
Internet precisa deixar de ser terra de ninguém, excelentíssimos inúteis! Nós lhes pagamos uma fortuna para nada?
Simplesmente que-re-mos ma-is de vo-cês. Mexam-se!
Todos vocês, por favor: Mexam-se. Já chega.
Marilda, Ana: algo vai nascer da nossa conversa. Não somos mulheres de engolir absurdos. Meninas, pelo mundo: Não caiam em papo de ninguém que diga que ser mulher é ser subserviente a alguém. Não aceitem políticos que não respeitam quem somos. Não aceitem conviver com homens violentos. E nós temos nossos números da sorte: 180. Denuncie sem dó, peça ajuda.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“As tarefas para 2026” Bug Sociedade
Mais um ano que termina. Um ano em que as consultas médicas, exames, resultados de exames, compras, reclamações, se fazem pela internet, pelo whatsapp, por e-mail.
Os mercados têm cada vez mais máquinas em vez de pessoas, assim como os aeroportos e os bancos.
O nosso celular é o nosso acesso ao mundo. Tudo o que fazemos precisa dele: senhas, QRCode, pix, documentos digitais.
A polícia, quando faz Blitz, olha o celular em busca dos carros e condutores que estão irregulares e até parece que estão “distraídos”.
O mundo ficou mais rápido, mas ficou mais esquisito. As máquinas estão cada vez mais “humanas” enquanto nós, os humanos, parecidos cada vez mais com máquinas. Corpos iguais, caras iguais, mamas iguais, bundas iguais, narizes iguais, dentes iguais, casas e carros iguais. Está estranho. Rebentamos na segunda pergunta incómoda e as máquinas são um exemplo de educação. Está estranho.
O que é de verdade? Que corpos? Que notícias? Que pessoas?
Dizem que vai ficar mais estranho ainda. Vamos começar a resolver problemas falando com o celular, com a televisão, com as máquinas que existem por todo o lado. Está estranho.
Metade de mim sabe que tenho de esforçar para saber e me integrar, metade de mim não quer nada disso. Uma metade tenta entender porque tudo está mudando e porque precisa sobreviver, tenta se adaptar e tenta melhorar, enquanto a outra metade tenta mergulhar mais vezes no mar, tenta sujar mais as mãos na terra, tenta se manter biologicamente viva e leve. Está estranho.
O “Atlas da Violência 2025”, com dados de 2013 a 2023, realizado pelo Governo Federal, Ministério do Planejamento e Orçamento, da Ministra Simone Nassar Tebet, publicado em 14 de maio pelo site ANDES, Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, apresenta muitas informações preocupantes sobre a violência no Brasil. Deixo os seguintes resultados gerais sobre mulheres: valores superiores a 50% em negligência, em meninas dos 0 aos 9 anos, predominância da violência sexual entre os 10 a 14 anos, predominância de violência física dos 15 aos 19 anos, violência física que se mantêm dos 20 aos 69 anos e se mantêm ao longo da vida. A partir dos 80 anos aumenta a percentagem de negligência.
Mulheres educadas para serem obedientes, ou para serem silenciadas e excluídas se não forem obedientes, ou violentadas e assassinadas. Feminicídios cometidos das formas mais horrendas que nem a nossa imaginação consegue alcançar. E a vida seguindo normalmente. Está estranho. Cada dia uma notícia pior. O caso da Taynara, a jovem mulher atropelada, enganchada propositadamente por baixo do carro e arrastada em enorme velocidade por quilómetros é impressionante. Perder as pernas, a bacia e parte das suas costas, por desgaste a alta velocidade, contra o asfalto, me deixa muitas perguntas no ar além de um carinho eterno por ela. E Taynara lutou, tentou sobreviver. Tentou muito! Que menina especial!
Acho que precisamos estar atentas, sempre e para sempre atentas. Umas pelas outras.
Como um ser humano é capaz e depois ainda ter a coragem de dizer que não foi com intenção? Que intenção falta naquelas imagens? Como algum advogado aceita defender uma pessoa assim? Sei que todos temos direito a defesa, mas penso que existem limites e este tipo de situação deve ser analisada. Novamente digo que não devia ser permitido estas pessoas poderem esconder a cara quando são presas. Você faz uma atrocidade destas e depois esconde a cara? Meu coração sangra sempre que leio mais um caso horroroso e meu coração nunca vai parar de sangrar por Taynara. Nunca mais.
Homens precisando se tratar, outros ofendidos por se sentirem lesados quando as mulheres falam mal deles, em geral. Outros em silêncio, seguindo sua vida, mantendo as conversas de macho, de virilidade, de “fortão”, de quem tem sempre razão, de crítica às mulheres que não lhes obedecem. Preste atenção à sua volta e me diga se estou errada. Como eu queria estar errada... Não dá mais para dizer que não tem nada a ver com o que acontece de errado. Cada homem pode fazer algo. Algo. Sempre tem algo, por mais pequeno que seja. Ajude, por favor. Isto está fora de controle...
Mulheres que educam os filhos da mesma maneira como viram serem educados os pais, tios, irmãos, primos e vizinhos. Mulheres que tentam educar seus filhos de uma forma mais humana e correta, mas o ambiente familiar, social, escolar, abafa totalmente suas tentativas.
Caros companheiros e companheiras deste mundo, o ano de 2026 está chegando com muitos trabalhos de casa difíceis e importantes para todos e todas. Desejo muito que estejamos à altura deles e os saibamos enfrentar e resolver. Todos e todas. Não tem ninguém perfeito nesta história. Muito menos deixar de fazer seus trabalhos de casa porque é rico ou influente. Acorde!
Bom Ano 2026 para todas e para todos.
Ana Santos, professora, jornalista
Imagem: Estátua de Zeus na Olímpia, de Fídias
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