"DESASTRE NAS REDES" e "Preconceito do Favoritismo do Endogrupo" Bug Sociedade
- portalbuglatino
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"DESASTRE NAS REDES" Bug Sociedade
De muitas maneiras as pessoas parecem estar brincando com coisa séria, no mundo. O marketing, que apareceu discretamente e se disseminou em todas as direções, criou a ilusão de que ele, apenas o papel de embrulho do produto, do conteúdo, é mais importante do que a essência de quem somos, de nossa evolução social.
As músicas ficaram cada vez mais iguais porque o “modelo de consumo” é esse; a letra da música nem precisa ser compreensível. As pessoas pararam de ler – bom motivo para que não se precise escrever. Os E-books técnicos, têm a mesma essência, os tutoriais na internet têm a mesma essência, os cursos online que nos massacram a cada mudança de canal do YouTube têm mais que a mesma essência – tem as mesmas palavras e as mesmas histórias de vida(!), as fotos dos cards e carrosséis desses cursos têm pessoas de braços cruzados avisando que só deve se inscrever quem quiser ficar rico.
Enquanto isso, brainrot, vicio em telas, falsos TDAH, redução de inteligência, dissonância cognitiva, perda de atenção, empobrecimento da comunicação oral e perda cada vez maior de vocabulário, problemas de aprendizagem nascidos da falta de experiência corporal e a inconsequente, mas presente – adultização de crianças. Os pais – acho que ainda não entenderam que precisam proibir, monitorar, castigar, conversar, apontar os perigos da vida porque criar um filho não é um tipo de recreação entre adultos. Ouvir dos pais que o menino pequeno não gosta de andar e falar, já virou lugar comum nas conversas e repisar que para andar e falar não “tem querer” causa – pasmem – espanto. Algo como se eu estivesse exigindo uma performance genial de uma criança normal.
Desinformação, fake News, pós verdade, narrativa nasceram para disfarçar o peso semântico da palavra mentira e mentiroso – e as pessoas nem perceberam. Elas apenas aceitam e consomem.
As crianças – brincando distraídas com seus celulares - estão perdendo incessantemente suas capacidades. Todos usam óculos. Todos estão perdendo expressividade porque celular não tem mímica facial e dançar virou um jogo de sensualidade que envolve desde crianças muito pequenas até adultos – adultização vem dessa mistura, percebem? O machismo e a pedofilia estão cada vez mais ao redor das nossas vidas e os pais apenas dão graças a Deus por seus filhos estarem em segurança no quarto, com a INTERNET LIGADA! Internet é selvageria, podridão e descontrole, mas os pais ainda não entenderam que mesmo dentro de casa, seu filho está exposto aos maiores perigos da existência, se estiver com a internet ligada o tempo inteiro e sem monitoramento nenhum.
O número de casos de automutilação e os de tentativas de interrupção da vida aumentaram em crianças e idosos. Crianças e idosos – vou repetir. Um mundo embrulhado pra presente e com nada dentro. Nenhum sentimento. Um mundo onde criança pode virar objeto de consumo e velho não serve pra mais nada, está fora do fluxo.
Que espécie de papel de embrulho de conteúdos pode ser mais importante que o próprio conteúdo, pode disfarçar conteúdos criminosos, pode desmobilizar as defesas dos pais para protegerem seus filhos? Você acha que passar os próximos 15 minutos, 30 minutos, 60 minutos tirando fotos do seu almoço é mais importante do que almoçar? Do que conversar enquanto almoça?
É cada vez mais fácil vender a imagem de que você vai vencer - e se não vencer – a culpa é sua. A discussão desses temas deveria ser política de estado. Do contrário, o papel de presente, na internet, vai destruir o nosso conteúdo interno, nossas emoções, nossos sonhos e ideais.
Apenas relembrando que o seu ideal não é ficar rico, ganhar 7 dígitos, nem dizer “alô galera do YouTube”, mas sim exercer seu talento, se aprofundar nele e ajudar o mundo – esse enorme coletivo que está sendo individualizado criminosamente – em um lugar mais parceiro e menos agressivo.
Adultização, brainrot, vicio em telas, falsos TDAH, redução de inteligência, dissonância cognitiva, perda de atenção, empobrecimento da comunicação não podem ser manchetes – são desafios humanos. Sua geração será a última a saber empunhar uma caneta e escrever? A ler fluentemente? A imaginar soluções? Me diga você, que ainda lê.
Ou não lê mais?
Quem é você?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
"Preconceito do Favoritismo do Endogrupo" Bug Sociedade
Podemos chamar também de viés cognitivo de favoritismo de endogrupo. Sabe quando você defende sua família, ou amigos, sem nem saber o que aconteceu? É mais ou menos isso.
"O pessoal do meu clube tem sempre razão, a justiça está sempre do meu lado e do lado dos que eu gosto".
Um viés tremendamente comum, que como em todos os viés, precisamos ter a noção real sobre a sua existência. Saber que existe e que deturpa o nosso julgamento.
É evidente que devemos defender os que amamos, sobre isso não existe nenhuma dúvida. Mas igualmente importante é sabermos os fatos, ouvirmos as duas partes e, depois disso, ter a coragem de aceitar quando a razão não está do lado dos que defendemos e amamos. Isso não quer dizer que é para abandonar os amigos, nem quer dizer que os que amamos deixam de ter valor. Quer apenas dizer que precisamos entender, aceitar e lidar com a hipótese de que as pessoas que amamos, apesar de as considerarmos perfeitas e sempre justas, podem não o ser, em algum momento. E estaremos lá para as defender, para as respeitar, e também para as chamar à razão. Se ainda conseguirmos que elas enfrentem os erros, se tornem melhores pessoas depois disso, será perfeito.
Muitas situações de violência no dia a dia se iniciam do nada, como sabemos. Partem de percepções erradas, de noções de poder sobre os outros, de proteger "os seus" quando eles nem foram ameaçados ou nem querem ser protegidos, de ego, de vaidade, de ciúme. No meio desse caos todo está implícito o desejo de fazer "justiça com as próprias mãos", sem nem ouvir ninguém, sem nem tentar resolver as questões com palavras, sem nem ter a necessidade de saber a verdade e de ter a certeza sobre o que está acontecendo. E, depois de tudo isso, ainda e igualmente importante, a não escolha de resolver pela educação, pela gentileza, pelo acordo, pela partilha, pela colaboração, pela entre-ajuda.
Não sei dizer em que estado de gravidade estamos, mas concordam comigo que está bastante grave. Não resolvemos mais nada como humanos civilizados, mostramos essas formas brutais nas televisões e em todas as redes sociais, normalizamos essa forma, e sem darmos conta estamos a dizer às crianças e jovens o caminho. Elas não ouvem que está errado. Elas veem e entendem as viralizações, percebem toda a gente falando do assunto, aprendem que é assim que se é humano. E se em casa as situações se resolvem dessa forma, pior ainda.
Também me questiono porque estes homens, machos, musculados, que nem são capazes de ter os movimentos fluídos e completos no seu corpo por causa do volume exagerado dos músculos, passam a atacar quem supostamente deviam defender - até exageradamente se pensarmos no preconceito do favoritismo do endogrupo. Portanto, quando as pessoas comuns precisam de ter cuidado com este preconceito para não defenderem cegamente quem amam, só porque são as pessoas que eles amam, porque estas pessoas atacam ferozmente quem dizem que amam? Dizem que amam, aprenderam em algum lugar que amar é isso, na hora do ego o seu preconceito de favoritismo de endogrupo abandona a namorada e junta-se a quem? Aos "parças" da academia? É o medo dos "parças" rirem da sua cara? Que medo é esse de a mulher os enganar quando quem engana por divertimento são normalmente eles? Está tudo bem quando são eles a enganar e está tudo estragado quando o "traído" são eles? Que justiça é essa? Estes julgamentos bizarros de ver a namorada a falar com outro homem, de a namorada receber uma mensagem de um amigo, de ela não atender de imediato o telefone, e outras formas, significar traição, é muito preocupante.
Tanto tamanho, tanto músculo, existem afinal para o ataque, não para conviver, nem viver, nem estar com os outros.
Musculados mas sem quaisquer ferramentas cognitivas, sem qualquer confiança em si, qualquer capacidade de ver o mundo como ele é.
Musculados com um cérebro desligado.
Talvez seja tudo a procura de encontrar razões para agredir os outros. Se "acham" que alguém intimidou a mãe ou a mulher, partem tudo. Se "consideram" que a mulher ultrapassou não sei bem o quê, partem a sua cara de forma vil e covarde e ainda se queixam ao juiz que lhes dói muito a mão e o braço devido às fraturas.
A febre dos produtos que as pessoas que frequentam as academias compram e tomam é muito grave. São produtos danosos à saúde e para além disso, já se sabe há muitas décadas, que aumentam tremendamente a agressividade de quem toma. Não acreditam? Olhem à vossa volta. Leiam as notícias. Ainda não acreditam? Se calhar até já começaram a tomar, também. Um bocadinho. Seu corpo mudando com rapidez, as mulheres olhando. Você se sentindo poderoso. As pessoas amigas que sabem que isso é errado e perigoso, você não ouve, você inclusive ri, acha que elas estão desatualizadas. E segue. Em direção a um caminho de agressividade sem volta.
Os "nossos" não têm razão sempre e não é por isso que deixam de ser os "nossos".
Combater esta pandemia do corpo inchado, de músculos falsos, de agressividade explosiva vai ser para quando? Que negócio é este? Porque todas as pessoas parecem saber o mal que faz mas ninguém com poder faz nada?
Isto não é educação física, isso não é esporte, isso não é educação, isso não é civilização.
Ana Santos, professora. jornalista
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