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A Arte de Chris Tigra

  • Foto do escritor: portalbuglatino
    portalbuglatino
  • 2 de jun.
  • 2 min de leitura


"É como quando uma mulher dá queixa de agressão sexual. Sempre vão dizer que é a mulher que está sendo violenta, que sua queixa vai destruir a vida daquele homem, como se o responsável pela agressão não fosse o agressor. Então há um paralelo entre a experiência de classe e a de gênero, as duas se parecem muito. E de qualquer forma, contar não é uma escolha. Não é uma escolha individual. É que chega uma hora que não temos escolha. Precisamos contar. Eu precisava contar. É por isso que a autobiografia é a arte dos sobreviventes. A autobiografia é a arte dos dominados. Na história da literatura, quem escreveu autobiografias? Negros, mulheres, homossexuais, sobreviventes de campos de concentração, sobreviventes da guerra. Porque há uma espécie de ligação direta entre a violência e a palavra, ao menos em certas situações. Às vezes a violência destrói a palavra, torna-a impossível, mas outras vezes, a violência produz a palavra. Lembro de uma reflexão muito bonita de Primo Levi, um sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, que conta num dos seus ensaios, "Os afogados e os Sobreviventes". Ele diz: "Eu não sobrevivi ao campo e depois contei a história; eu sobrevivi porque precisava de a contar." "E quando eu estava no campo, dizia a mim mesmo: "Preciso contar isto." E eu lembro, claro que numa situação muito menos violenta, que eu tinha esse sentimento quando era criança. Quando eu era pobre, quando os meninos cuspiam em mim na escola e me chamavam de bicha, eu tinha nove ou dez anos e pensava: "Um dia vou contar esta história. Esta será a minha vingança: contar esta história." Concluindo, isso significa algo muito interessante: que a violência, apesar de tudo, é vulnerável. Porque nos casos em que a violência produz a palavra, ela contém o risco de sua própria destruição. A violência é como um vírus do qual pegamos um pedacinho para fazer uma vacina e destruir o próprio vírus. A violência, quando impele as pessoas a falarem, faz com que elas relatem e enxerguem a violência e possam combatê-la. Esse é um espaço político e literário dentro do qual podemos manobrar. Se a violência nos faz falar, ela corre perigo e podemos tentar combatê-la. É o que acontece na história das mulheres, dos negros, dos povos oprimidos. Foram eles que escreveram livros. Foi Toni Morrison quem escreveu, não os colonizadores, os escravagistas. Ela é a grande escritora, não eles."

Édouard Louis

Filósofo


Chris Tigra

Fotografia da série IRRADIARÁ. Intervenção têxtil s/ fotografia séculos passados. Dimensões variadas

Artista visual, música e comunicadora social. Pós-Graduação em Artes e Contemporaneidade. Natural de São Paulo, filha de baiana com maranhense, vive e trabalha em Belo Horizonte. Arte e ativismo visando a transformação social. Concentra-se em situações, experiências e realidades marginalizadas, traçando paralelos entre as relações coloniais desde períodos históricos até aos dias de hoje.

Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger 2023/2024

@ ch_tigra


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