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Um Fã do Bug, 75 anos, Brasil

Segredos de Família

Atualizado: 5 de fev. de 2020



Um irmão de criação/meio filho adotivo veio nos visitar e as histórias rolaram. Coisas que eu nunca soube apareceram e a pergunta que eu faço é se cada família protege seus segredos porque revelar tudo apanha as entranhas mesquinhas desprevenidas e elas podem sair da escuridão onde as colocamos.

Meu irmão adotivo criado por mim como filho tinha uma família biológica que eu procurava todos os finais de dia, tentando colocá-lo perto da avó, que afinal era minha vizinha. Ela nunca me aceitou muito bem, nem ao neto. Meu irmão/filho me disse que a família da avó tinha alguns parentes andarilhos - visitavam uma irmã, ficavam por lá uns meses, se desentendiam com cunhados, iam para a casa de outro irmão, lá ficavam outros tantos meses... a avó dele era assim. Teve, pois, uma resistência enorme a ficar com crianças, quando a esposa do filho morreu aos 20 e poucos anos de tuberculose... ela era livre, vivia 3 meses em cada lugar... pra herdar 2 filhos e uma casa dela, própria, dada pelo filho que precisava de alguém pra tomar conta das crianças órfãs... como ele mesmo explicou com muita simplicidade: "precisa ter amizade. Sem amizade, o sangue não significa nada." - ou seja: não rolou química.

Bem, já seria uma história meio triste, se fosse assim, mas ainda piorou. O pai do meu irmão postiço teve 2 filhos. Um, ficou lá em casa. A outra irmã foi dada a um irmão dele que o proibiu de dizer que era o pai. Então, todos sabiam que ela era filha de um, mas ela era filha do outro. Meu irmão sabia que era irmão dela, mas ela não sabia que era irmã dele. Se supunha prima, filha do tio que ela achava que era seu pai. Já seria a hora de colocarmos um "emogi" de boca aberta, aqui. Mas ainda piora mais - e olha que estou tentando ser objetiva!

A mentira era endossada com uma certidão de nascimento falsa. Ou seja, a menina tinha 2 certidões. Uma com seu nome e filiação real e outra totalmente imaginada pelo tio.

E agora vem a melhor parte: no dia da morte do irmão, o pai verdadeiro - que era visto como tio - aos prantos, desonrou a promessa feita e contou a história verdadeira da menina. Disse que aceitou a situação bizarra porque não tinha como criar duas crianças e não podia ficar sem ver seus filhos porque os amava. Sua solução foi contentar-se com o papel de tio, sofrendo por não ser chamado de pai, mas vendo a filha, tendo-a na família.

Este pai, já que seus 2 filhos estavam encaminhados, casou-se e teve outros 2 - mas como meu irmão emprestado diz "sem amizade, o sangue não responde" - esses 2 outros irmãos não reconheciam os outros 2 como parentes. Meu irmão, já adulto, andava de bicicleta em Vila Isabel, no Rio de Janeiro e o viu passando de carro. Foi atrás pra conversarem e propôs: Marcamos quando pra gente conversar? Ao que ouviu: "A gente se esbarra por aí" - ode ao acaso pra qualquer carioca que se preza. Então decidiu deixar pra lá. Já bastava sua irmã biológica e personagem da primeira confusão ter ficado de fora da herança de um parente porque sua certidão (que ela não sabia ser falsa), foi a base para todos os documentos que vieram depois, como identidade, CPF... Os dois meio irmãos apenas não quiseram aceitá-la como parte de nada, a começar da partilha...

Para quem acha que uma mentirinha à toa não causa dano... acho bom colocar as barbas de molho e se repensar na vida...


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