Quando o espetáculo começa, você vai ter a ideia exata do maior problema que ele vai ter: o ator tem bons momentos, tem uma forma de se mover em cena muito, muito, muito semelhante à forma do ator que fez "O assassinato de Versace", o texto tem excelentes cenas, com flashes que eu e Ana Santos tivemos das inúmeras pessoas envolvidas em atentados pelo mundo - especialmente os americanos - mas em termos de interpretação, ainda é um diamante bruto. Coisa 1: por quê ficou nu? Pra provar que era um cara perturbado? Se ele era um cara perturbado, o seria com roupa ou sem, isso não teria e não teve importância alguma no contexto cênico. Mas se não teve importância, por quê o nu? Coisa 2: Quando as intenções entravam, o texto ficava rico. Isso mesmo. Rico e ponto. Apenas a beleza do teatro funcionando. Mas seguidas vezes, faltaram as intenções e sem elas Alberto Abreu tentava colher obviedades que não fazem parte de uma mente como a que ele retratou no texto. E uma coisa muito importante também: O idioma falado no teatro é estranho porque embora tenha articulação perfeita, dicção perfeita, intenção trabalhada, precisa parecer realista, como se estivéssemos ali ouvindo um serial killer nos fazer confissões. E isso é muito, muito difícil.
Achei Alberto uma promessa, se trabalhar continuamente essas imperfeições e procurar um sentido realista para a ocupação do espaço e para o uso da relação entre o texto e a intenção, texto e articulação, texto e ritmo emocional. Mas numa cidade onde se costuma desprezar o drama, Eróstrato é uma atitude bem vinda, sem sombra de dúvida.
Ana Ribeiro - Voz, Direção de Teatro, Cinema e TV
Ator com corpo bonito e equilibrado, muito texto, cenário minimalista. Parabéns! Não é uma peça fácil. Mas talvez não necessitasse de tanto texto (peça longa), de nu (sem objetivo) e muitas vezes o corpo fala diferente das palavras (principalmente os olhos). Tive um pouco a sensação que a peça estava em modo ensaio, isto é, que se fosse trabalhada mais algum tempo, um mês, seria fenomenal.
Na Bahia (não sei se é no país todo), quando a peça de teatro termina, os atores agradecem e imediatamente começam a dar informações sobre os dias que ainda se vão apresentar, agradecem os apoios, a equipe técnica, etc. Parece um dever. Não entendo porque isso tem de ser feito. Na divulgação da peça já tem os dias, os locais, os apoios, etc. O ator necessita estar focado na peça e, quando termina, deveria poder sair desse "lugar onde esteve" na velocidade que lhe for mais adequada. E quem assiste também, porque a pessoa que morreu na peça no final, dali a segundos está falando como se nada tivesse acontecido. Não dá tempo confortável de viver os momentos finais das peças. Fica estranho.
Agradecemos pela cortesia em nos oferecerem dois ingressos.
Ana Santos - Corpo