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"Tome Tento" Bug Sociedade


foto retirada do site MinhaVida

“SÓ AS MÃES SÃO FELIZES?” Bug Sociedade

Ver as manchetes online é um desprazer em cascata: mortes, crimes, violência e atentados por todos os lados. Vendo-se assim, são homens descontrolados batendo e arrebentando coisas e pessoas por todos os lados. Mas lá no meio das notícias, escondidinha, aparece que o detido em prisão preventiva está deprimido e preocupado com a família – aí, mãe, pai, filhos saem do papel secundário (ou mesmo do papel de figurante) e ocupam milagrosamente o papel principal.

- Meus filhos estão com vergonha de irem à escola; minha mãe está desgostosa e diz que se eu peguei aquela montanha de dinheiro é porque tenho problemas; meu pai foi à polícia declarar que não entendeu a prisão...

Mas eu pergunto agora - e talvez haja alguém que entenda o suficiente da alma complexa dessas pessoas e que me responda: Se há agora tanta preocupação, lágrimas e emoções, por quê antes, na hora de desviar o dinheiro, invadir a terra, bater na namorada, matar o motorista, dar coronhada a torto e a direito por causa de um som alto, escravizar o empregado ou assediar a funcionária ninguém pensa na vergonha da mãe? Na sua lágrima combalida? No que o pai sentirá? No bullying que os filhos certamente irão sofrer na “escola rica”?

O que eu entendo é que o nível de impunidade nos altos extratos sociais é tão alto, que ninguém se vê preso. Ninguém se imagina com problemas judiciais, policiais ou mesmo legais. Nada. Se sentem livres e desimpedidos para invadirem todas as searas civis, criminais, familiares, econômicas e “soltarem a franga”.

Todo tipo de falcatrua é usada e assim aprendemos cada vez meios mais criativos de evasão de divisas, por exemplo. E se com o deputado cassado ouvimos “lá longe” uma “explicação marota” sobre “trust”, agora com o suspeito militar detido vamos aprender detidamente. Mas... quem pode ser tão rico a ponto de colecionar mansões? E se ouve agora falar em dinheiro vivo como se no Brasil o nível de violência urbana fosse o da Dinamarca – mas não. Vamos ter que aprender que tipo de segurança nos expõe à morte, enquanto algumas pessoas andam abanando maços de notas na compra de casas, trazendo dinheiro dos Estados Unidos, jóias da Arábia – esquecidas “ali em cima do armário da cozinha”, como se fossem 20 reles pãezinhos impermanentes, por serem facilmente “digeríveis”.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Tome tento” Bug Sociedade

Desde que nascemos, aprendemos.

Nos primeiros anos na escola: falar, escrever, contar, desenhar, pintar, esculpir, construir, etc.

Antes da faculdade o mundo precisa ser dividido para ser entendido com calma: Matemática, Língua Portuguesa, Inglês, Francês, Geografia, Física e Química, Filosofia, Educação Visual, Educação Física, História, etc.

Na faculdade, a profundidade dos temas, os alicerces para o rigor, os questionamentos e o ímpeto que nasce para buscar as respostas, a disciplina e o caminho. É a preparação para a grande viagem.

Quando iniciamos o mundo profissional somos umas crianças, achando que sabemos tudo. Temos as ferramentas, temos sustentação, uma vaidade que esborda, mas é hora de começar a cavar, a trabalhar, a ver e a ler diferente, a aprender sobre um mundo novo. É hora de começar, a sério. Aprende-se lendo muito e um pouco de tudo: jornais, livros acadêmicos, de literatura clássica ou moderna, de faz tudo, as bulas dos medicamentos, as instruções para concursos, para montar armários, etc. Confrontam-se os sonhos e as certezas com a prática da vida. Olhar os outros e aprender com suas experiências e suas práticas. Aprende-se olhando o melhor lado dos outros. Aprende-se a estar atento ao mundo e a se manter informado. Aprende-se a procurar pessoas que saibam mais do que nós, que nos estimulem a sermos melhores. Aprende-se a cumprir o presente e a prever o futuro. Olho atento na vida, no que existe de novo, no que é necessário aprender, mudar, avaliar. Um caminho de vida em que só se deixa de aprender quando se morre.

Por tudo isto, não é difícil imaginar os efeitos nefastos que as notícias de mentiras, aberrações, maldades, invenções, sensacionalismos, crimes, trapaças estampadas nas primeiras páginas dos jornais e repetidas até à exaustão nas redes sociais, provocam. É desanimador ler um jornal online, assistir aos telejornais na televisão. E é perigoso. É mostrado o que não se deve fazer a toda a hora. Já se sabe há muito que se deve mostrar ao cérebro o que deve fazer, não o que não deve. A mente aprende o que vê, e nem sempre filtra que o que vê a toda a hora está errado – principalmente crianças e jovens, que em casa, na sua rua, na escola, por todos os lugares onde vai, vê acontecer o mesmo.

As mentes se ocupam com os milhões que Cristiano Ronaldo ganha na Arábia Saudita, com o dobro de milhões que Lionel Messi parece que vai ganhar no mesmo lugar. Divulga-se muito menos os atletas e atores milionários que ajudam seus países e o mundo. Pepe Guardiola, considerado um dos melhores treinadores de futebol do mundo, censurou seu marcador de pênaltis, Haaland, o novo fenômeno de 22 anos, por ter cedido a marcação de pênalti a um colega que já tinha marcado dois golos e podia ter o seu hat-trick. O errado vencendo a generosidade por todos os lados. Rita Lee, uma pérola de coragem, talento e grandiosidade, morre, e meio mundo reduz sua caminhada a drogada e maluca. Tanto político drogado, maluco e mentiroso, mas como vestem terno, está tudo bem. Ou nos destreinamos de ler, de aprender o que é bom para as nossas vidas e só nos focamos nas patetices que nos rondam pelas redes sociais, pelos jornais e pelas conversas pobres do mundo de hoje, ou nem pensamos nisso – aproveitamos as oportunidades para ficarmos ricos e, portanto, termos o certificado de vencedor. Deve ser para mostrar na porta do Céu, antes de entrar.

Viver a vida como subir uma montanha. Você vai subindo na medida em que lê, aprende mais, tenta, erra e acerta. Mas com coisas que importam. Você fica parado na montanha se deixa de aprender o que precisa – por vezes até escorrega da montanha por parar de aprender, já que a montanha muda a todo o momento. As recompensas são claras: quanto mais alto se sobe, melhor vista se tem, mais se consegue ver, mais se entende – os significados são mais claros em relação à existência e isso, dizem, nos faz sentir bem estar, paz, serenidade.

Será que a meio da montanha tem metade da multidão parada olhando a tela do celular? Enquanto a outra metade escorrega de bunda, ladeira abaixo?

Ana Santos, professora, jornalista"

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