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Socorro Poesia


Viver é também ler, ver, testemunhar, viver coisas horrendas. Nesses momentos parece não haver saídas elegantes, nem futuros promissores. Atentos caminhemos em cada dia, protegendo quem é frágil, protegendo a nossa vida e preservando a dignidade humana. Por vezes parece que só a poesia nos salva...


1. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert


“Olhamo-nos nos olhos”


“Olhamo-nos nos olhos pela internet.

Eu transmito-te este domingo à tarde,

a voz do vizinho através da parede.


Tu transmites-me a distância que existe

depois do que consigo ver pela janela.


Durante a noite mudou a hora e, no entanto,

continuamos no tempo de ontem.


Como é raro este domingo, não podemos

garantir que amanhã seja segunda-feira.


O futuro perdeu-se no calendário, existe

depois do que conseguimos ver pela janela.


O futuro diz alguma coisa através da parede,

mas não entendemos as palavras.


Lavamos as mãos para evitar certas palavras.

E, mesmo assim, neste tempo raro, repara:

tu e eu estamos juntos neste verso.


O poema é como uma casa, tem paredes

e janelas, é habitado pelo presente.


Olhamo-nos nos olhos pela internet,

estamos verdadeiramente aqui.


O poema é como uma casa,

e a casa protege-nos.”


José Luís Peixoto

29 de Março de 2020


2. Poesia indicada pelo Bug Latino


“Emigrantes da Quarta Dimensão”


“Dá-me uma ajuda, ó médico das almas

Para escolher em que combate combater

Quem condeno eu à vida

Quem condeno eu à morte

Que me podes tu dizer


Encostado à árvore do tempo

Folhas vivas, folhas mortas, estações

Nada disto faz sentido

E o sentido do sentido não paga as refeições


Este torpor só tem uma solução

Sejamos deuses, é meter as mãos à obra

E no fazendo acontecendo

Deixar ir o coração

Que é o que nos sobra


Ao fazer-se o mundo nasce de si próprio

Ser avô é uma alegria atravessada

Dá para rir e p'ra chorar

Não temos nada com isso

E nada não é nada


Disseste um dia que tudo vale a pena

Tornar as almas mais pequenas é que não

Vamos sobre as duas patas

Juntar as partes da antena

Espalhadas pelo chão


Fecha a porta que vem frio lá de fora

Diz o coxo ao despernado, e eu aqui

Fui à procura de mim

Encontrei-me mesmo agora

E ainda não fugi


O tempo corre por entre pívias e manhas

E tudo fica cada vez mais como está

Mas ao correr desta pena

Não fico à espera que venhas

Eu já sou o que virá”


João Mário Branco

Letra e música


Link da canção

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