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“Quase Deuses” / “Something the Lord Made” (Youtube, 2004)


Outro filme inspirado na vida real, na década de 1960 e ainda vemos as mesmas coisas acontecerem repetidamente. Somos difíceis de aceitar qualquer mudança, é mesmo lamentável. Lá está o preconceito - nosso velho conhecido do dia a dia, as ínfimas oportunidades de galgar algum degrau, como vemos normalmente. O que não vemos nos jornais é a genialidade de mãos habilidosas que, dia a dia e durante décadas estiveram por trás do sucesso de um grande cirurgião. Ah sim, ele poderia ter-se conformado, já que socialmente fica sempre muito claro qual é o nosso lugar no mundo, mas ele não o fez e coroar sua vida com uma titulação indiscutível é nobre.

Grandes atores. Yasiin Bey, sem levantar a voz, dá uma aula de postura e cidadania, não negociando com heranças de preconceito que o diminuíssem diante de sua obra, dividindo a cena com a exuberância de Alan Rickman, mantendo cada segundo do filme aquecido pelas nossas emoções – coisa muito difícil e árdua de se obter.

O filme não é atual, mas deveria habitar todas as escolas do Brasil e ensinar que todo o esforço recompensa o reconhecimento – mesmo num país como o Brasil, onde ainda hoje as falhas dos ricos são muito mais invisíveis do que as das pessoas comuns – de multas de trânsito a desfalques e desvios milionários.

Passam décadas até que a vida entrega de volta o que recebeu de Vivian, mas... aos 63 anos, ainda me sinto premiada em ver que de alguma forma é possível seguir em frente.

Luz, fotografia, ambientação, figurino, roteiro, direção, interpretação vão te envolver que eu sei. É imperdível em todos os sentidos. Portanto, assistam, conversem, aprendam. Vai valer cada segundo.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


De 2004, eu sei. Mas faz total sentido ver agora, se não conhece a história. Dublado, eu sei, não é a mesma coisa mesmo. Mas foi só desta forma que o Bug o encontrou. Mesmo assim vale a pena pela história real, pela importância do que estes dois senhores fizeram e não só.

Você vai assistir ao início da cirurgia cardíaca. Num período onde o racismo profundo ainda tinha marcas muito profundas – banheiros separados, calçada prioritária para brancos, etc, etc, etc. É um horror assistir a esses detalhes horrendos que ainda hoje se percebem no dia a dia, de uma forma mais ou menos direta. Seres superiores, seres inferiores. Uma médica, a única, comenta com o Vivien que ela, mulher, apesar dos pesares, tem mais regalias do que ele, de pele negra. Vivien é uma pessoa que deveria ser um exemplo para todos nós. Interessado, curioso, talentoso, persistente, puro, determinado, focado, e tantas outras qualidades. Um homem, uma pessoa, um ser humano que viveu para algo, para contribuir, que aprendeu tudo o que teve oportunidade e que nos mostrou que as artes e os ofícios não são muito diferentes uns dos outros – marceneiro ou carpinteiro e cirurgião, canalizador e cirurgião, inventar ferramentas para construção ou para cirurgias. Sabemos disso mas temos o hábito horroroso de fazer castas entre os mais e os menos conceituados, importantes, nobres. Viven é alguém que nos deve servir de referência. As capacidades não são dotes dos mais ricos, nem dos brancos, nem dos homens. Depois de assistir a este filme me pergunto quantas inovações perdemos apenas porque as pessoas que as sabiam eram negras ou mulheres. É arrepiante para dizer o mínimo. Assista, perceba que estas mudanças têm de ser feitas a todo o instante, têm de ser mantidas e têm de ser vigiadas. É num instante que tudo se perde, basta um verme humano dizer uma daquelas frases lamentáveis sobre pessoas negras, ou mulheres, ou população lgbtqia+, para o mundo ficar de novo num estado de miséria de caráter onde parece que nada acontece ou aconteceu. As desigualdades só desaparecem se os que aceitam o status quo vigente, porque lhes agrada, decidirem abrir os olhos, perceber o que está errado mesmo nos pequenos detalhes e agir. E agir não precisa ser nada desagradável, pode ser apenas agir naturalmente, insistentemente e justamente.

Um filme que não pode de forma nenhuma perder. O link está abaixo.

Ana Santos, professora, jornalista


Sinopse: Uma dramatização da relação entre os pioneiros da cirurgia cardíaca Alfred Blalock e Vivien Thomas. Nashville, 1930. Vivien Thomas (Mos Def) é um hábil marceneiro, que tinha um nome feminino pois sua mãe achava que teria uma menina e, quando veio um garoto, não quis mudar o nome escolhido. Eleé demitido quando chega a Grande Depressão, pois estavam dando preferência para quem tinha uma família para sustentar. A Depressão o atinge duplamente, pois sumiram as economias de 7 anos, que ele guardou com sacrifício para fazer a faculdade de medicina, pois o banco faliu. Thomas consegue emprego de faxineiro, trabalhando para Alfred Blalock (Alan Rickman), um médico pesquisador que logo descobre que ele tem uma inteligência privilegiada e que poderia ser melhor aproveitado. Blalock acaba se tornando o cirurgião-chefe na Universidade Johns Hopkins, onde está pesquisando novas técnicas para a cirurgia do coração. Os dois acabam fazendo um parceria incomum e às vezes conflitante, pois Thomas nem sempre era lembrado quando conseguiam criar uma técnica, já que não era médico.

Direção: Joseph Sargent

Elenco: Cliff McMullen, Yasiin Bey, Luray Cooper

Trailer e informações:


Filme completo:


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