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“Projeto Milena Passos – LGBTQIA+” Bug Sociedade


Foto retirada da internet

LEI NOVA E ESPÍRITO EVOLUÍDO

Na semana passada, a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou a lei Milena Passos que tornou crime o molestamento em qualquer nível de pessoas LGBTQIA+.


Como assim molestamento? Nada de mais, nem de menos do que poder andar de mãos dadas na rua sem ter medo de apanhar, ir ao cinema ou no shopping com seu namorado ou namorada, conversar, rir, tocar sem ter medo de ser agredido ou mesmo morrer - ou seja - nada de mais ou de menos do que fazem namorados, familiares e amigos héteros. Parece pouco, mas é muito ter que escrever uma lei que torne normal a vida normal, de pessoas comuns e que pagam os mesmos impostos do que todas as outras.


O Estado da Bahia é muito agressivo com mulheres, gays e trans - ou seja, tudo o que é feminino. Ataques físicos fazem parte da rotina da cidade e as delegacias apontam essa terrível falta de amadurecimento masculina. Bater, matar, violar, violentar, assediar.


Para quem é hétero, total e absolutamente hétero masculino, dá o que pensar - viver numa sociedade hétero e saber que um dos maiores problemas que ela tem é um viver, um saber e um aceitar ser agressivo contra tudo o que é arquetípica ou mesmo fisicamente feminino. O ser feminino incomoda - por quê?


Não seria o caso de todos os heteros pensarem qual é o seu problema com o feminino? Querem mandar mais, dominar, querem a vida dos vikings do passado, a selvageria, o primitivismo de antes e o ser feminino atrapalha porque fala, cobra, chora, grita, denuncia?


A sociedade nos aparta umas das outras para nos distanciar e portanto enfraquecer, mas o ser feminino que cada uma de nós é, constitui a maioria. É também muito suspeito tentar colocar as mulheres hétero como diferentes, quando todo o resto do abuso é exatamente igual para nós todas: apanhamos, somos assediadas, violentadas e assassinadas pelo simples fato de que existimos - e eventualmente - resistimos e reagimos com todas as nossas forças. Portanto, vagão de Metrô separado indica primitivismo, falta de educação e machismo selvagem. Você pode ser homem hétero à vontade, mas para além do que o ser feminino diz sim, concorda, aceita - é barbárie, é crime e agora dá cadeia para o bem de todas nós. E o mesmo se dá para as que faltavam - nós, as femininas e feministas fomos final e totalmente alcançadas através de uma lei - já que pelo bom senso e o comportamento civilizado isso ainda nos escapava. Todas temos agora uma lei protetora - Maria da Penha e Milena Passos associadas para nos garantir um pouco menos de violência ao apontar o caminho da punição legal.


Fica para a população masculina e hétero o por quê, a pergunta, o questionamento: quando vários homens, covardemente e em grupo (sempre é em grupo) agridem a uma mulher trans verbalizam barbaridades a nós, na rua ou nos drogam para estuprar, vocês se sentem mais do que animais? Porque todos os seres femininos do planeta olham e veem isso - animais. Animais bestiais. Mas eu pergunto: isso não dá aquela terrível vergonha nos outros héteros? Nunca deu? Uma vontade que seja suficiente para interromper esse ciclo de violência contra nós todas? Para retirar os animais violentos de perto de nós, no momento em que a agressão está acontecendo? Para evitar tantas mortes?


É de se pensar e mudar de atitude porque ninguém pode ser agredido apenas pelo fato de existir e ser quem é. Esse espaço, o espaço da existência, não é negociável. Não pode ser nunca. Parabéns aos deputados estaduais que enfrentaram o preconceito que apequena, em nome do bem comum, do espaço de existência e da simbologia que existe em ser e se reafirmar como um ser feminino, no mundo.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Projeto Milena Passos – LGBTQIA+” Bug Sociedade


Projeto de Lei 22.845/2018, que pune a prática de atos de discriminação em razão de orientação sexual e identidade de gênero, foi aprovado na Bahia. Em 2022, quatro anos depois da sua “entrada”, em 28 de maio de 2018. Seu nome será uma homenagem à primeira mulher trans, no Brasil, a ocupar um cargo na Secretaria de Políticas das Mulheres - Projeto Millena Passos. Um passo, um pequeno passo, mas uma enorme porta que se abriu num estado com estatísticas horrendas de maus tratos e crimes à população lgbtqia+.


Os machistas e homofóbicos consideram que a população lgbtqia+ se “mostra” demais. Acham que deviam ser mais discretos, entre outros “acham”... E a verdade é que na Bahia a população lgbt é corajosa, não se omite, não se esconde e vive da forma mais aberta e verdadeira que a sua vida permite. Fala o que tem a falar, defende seus direitos aberta e publicamente, sem vergonhas nem bloqueios. Não sei se isso incomoda, intimida, confronta os machistas e homofóbicos com suas dúvidas, inseguranças e abuso de poder, mas pela forma criminosa como tentam silenciar esta população, parece que sim. Uma população que recusa a invisibilidade e que luta pelos seus direitos. Alguns, são excluídos violentamente das famílias ficando à mercê do mundo e do que ele tem de bom e menos bom. Falam, assumem, não se escondem. Viver em Salvador, é viver num lugar onde, em qualquer lugar, em qualquer profissão, as pessoas estão e são, sem filtros nem esconderijos. “Maravilhosas”!


Muita ousadia parece ser o rastilho para os que não suportam tanta coragem, nem aceitam que existam pessoas que querem viver como são, sem incomodar ninguém mas vivendo de verdade. Se paga muito caro por isso e não pode mais ser assim.


Portugal. O jornal Público de 17 de maio divulga o resultado de um estudo realizado pelo Centro de Psicologia da Universidade do Porto. Refiro um pequeno dado que já nos diz muito – 80% dos jovens escondem a sua orientação sexual aos professores e apenas 3,1% comunicam a todos os adultos da escola. Bom, parece claro que a 7 mil quilómetros da Bahia o problema tem outro ponto de vista. Os jovens escondem, vivem tudo sozinhos. Mentem, inventam namorados ou namoradas, a família faz de conta que não vê seu jeito mais feminino ou mais andrógino. Não dizer aos professores implica não dizer aos pais nem à família e, talvez dizer só a alguns amigos. Amigos com “boca pequena”, que são muito raros, por isso talvez digam a zero amigos. A “coisa” escondida vai avançando pela vida fora até o caminho ficar muito apertado – entre seus sentimentos e sua natureza, e aquilo que fingem ser. Se vão estudar para fora do país, a “saída do armário” é imediata, mas se ficam, ficam no faz de conta que sou hetero. Os que o rodeiam fazem de conta, na sua frente, mas nas costas, muita conversa rola. Os pais sentem-se apontados, culpados – “onde foi que a gente errou?” Ninguém erra nem ninguém acerta. Mas a farsa permanece. O vizinho artista é gay? Que coisa legal! Mas meu filho não! E a continuidade da família? Vamos falar com o médico para ele tratar do assunto ou, vamos convidar mais vezes aquela amiga dele... Ou, os pais e família são super fofos e acham o máximo ele ser gay, na sua presença, porque nas suas costas a banda toca outra música e desabafam o quanto isso os incomoda. E, muito raros, existem os que são sensacionais, felizmente. Acontece que as crianças crescem, viram jovens e observam tudo. Observam tudo e percebem que preferem viver a sua verdade sozinhas, ou escolhendo muito bem com quem falam. Porquê? Porque os adultos escondem, aprendem muito bem a esconder, mesmo com toda a gente sabendo. Bom, eles vão vendo como os adultos escondem e vão ouvindo o que os outros adultos falam nas costas. O resultado é claro: claro que não digo a ninguém! Aí, vem a classe docente que lamentavelmente tem percentagens demasiado elevadas de machistas e homofóbicos. Como o jovem confia? Nem pensar! Mas se nem os professores gay se sentem confortáveis e bem tratados se assumirem perante seus colegas... É o esconde, esconde, para meio mundo, enquanto outro meio mundo se diverte tentando apanhar em flagrante o colega de profissão, o aluno, o funcionário, o vizinho, enfim, a vida do dia a dia não se apresenta muito favorável para os corações se abrirem de par em par. Uma cultura mais silenciosa promove circulação dos segredos dos outros como tema de conversa, as comuns “conversas nas costas”, a hipocrisia a todo o vapor. Os adolescentes dependem dos adultos para viver. Melhor calar e deixar para quando tiverem autonomia financeira. Ou, tem os que, deixam para viver este lado seu no gueto, nas noites, nos bares e discotecas onde todos se assumem, escondidos, como se vivessem um segundo mundo, uma segunda vida. Uma fuga que vira um hábito que vira um vício... Uma forma de vida um pouco esquizofrênica e assustadora e mais assustadora ainda a quantidade de seres humanos que o fazem, acreditem... É muito preocupante...


Duas formas diferentes, dois problemas graves. Nenhuma forma está bem. Preciso da sua ajuda. O que pode fazer para tudo ser um pouco melhor? À sua volta, com os seus, com os que convive, consigo. Isto não está bem assim, pois não?

Ana Santos, professora, jornalista

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