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“PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”, “Esperança ferida” e “Debruçado sobre o abismo”Bug Sociedade

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    portalbuglatino
  • há 12 minutos
  • 9 min de leitura

Christina Motta
Christina Motta

“PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES” Bug Sociedade

No dia em que a Justiça se depara com os cérebros da tentativa de golpe aqui no Brasil e Trump continua afundando com gula a economia nos EUA, me custa acreditar que em Portugal a extrema direita deu mais um passo no legislativo. “Estranhos dramas de saúde”, comuns a todos esses governos e ex-governos histriônicos, claro que se repetiram em Portugal. Aqui engoliram até camarão inteiro – lá deve ter sido algo como uma bomba relógio porque nunca vi “um ataque” como o que foi mostrado. Sabe aquele jogador que faz drama, rola pelo chão é olha o monitor de rabo de olho? Ahn, ahn...

         O público – pobres de nós – nem chegou a comparar “a orelha atingida pela bala de fuzil”, “o estômago atingido por algo próximo a um míssil” e a cirurgia de 12 horas, com UTI transmitindo a vida do doente ao vivo e vendendo até capacete, entre uma tripa e outra. Ninguém reparou que a coisa “apelativa para a doença e dor” também está em comum com essa extrema direita meio histérica que renasceu no mundo, atualmente.

         No julgamento que começa hoje, eu espero generais corretos e capazes de confirmar que, “entre um camarão e outro”, tudo se fez para que a nossa República ruísse, nossa democracia acabasse e o povo – quem é esse personagem? – poderia viver ou morrer porque para eles, nós não temos importância, embora paguemos pela subsistência de todos – até dos golpistas.

         Inventaram polarização, mas para mim existem apenas democratas contra golpistas. Esquerda e direita podem conviver perfeitamente na democracia. Então a pergunta é simples: Trump e sua turma estão acabando com a democracia secular norte-americana (não me acostumei com o tal estadunidense), Bolsonaro tentou de um tudo para acabar com a nossa democracia, atacou as instituições de todos os jeitos e formas possíveis – ninguém “suspeita” que esse tal partido Chega pretende repetir a receita, como América e Brasil já experimentaram?

         O fato é que hoje, enquanto Portugal chora e se pergunta o que houve, a América continua sua vertiginosa queda na ladeira da economia e o Brasil começa a escrever uma parte nova – novíssima – da nossa história: queremos justiça, ao invés de anistia, lutamos e vencemos a tentativa de golpe, os golpistas pululam ao nosso redor, mas começam a visualizar que a mão do Supremo vai finalmente representar o povo. Ontem foram ações terroristas em postos de gasolina, nas ruas, incendiando ônibus, parando rodovias, explodindo torres de transmissão; hoje começamos a olhar nos olhos dos mandantes. Mas amanhã quero ainda ver os financiadores tremerem diante da força da democracia. Do povo. Da minha força. Me pergunto qual o motivo dos portugueses quererem aulas práticas de perdas de direitos, quando todos por lá, já estão reclamando pela perda de direitos. Lembro a eles que aqui morreram mais de 700 mil pessoas porque a compra da vacina de COVID foi postergada; lembro que toda a cultura foi destruída; lembro que a educação foi sucateada e que as pessoas chegaram a pegar comida de dentro do caminhão de lixo; ossos que antes iam para o cemitério dos açougues, eram disputados para que se tivesse ao menos uma sopa de osso sobre a mesa do brasileiro. Eu não estou discutindo o direito de se ser de esquerda ou de direita. Estou apenas mostrando coisas advindas da mesma extrema direita - suspeitamente terríveis e semelhantes. O Trump colocou o “Kennedy que odeia vacina”, à frente da sua distribuição; Bolsonaro deu remédio de vermes para combater a COVID, pedindo ampla convivência entre as pessoas. Portugal não vai se fazer pergunta nenhuma? Tantas semelhanças e nada? Vejam, não vou falar de heróis e de história porque essa geração não se sente arrebatada em deixar algo para o futuro. Falo apenas no meu mais frio e prático pragmatismo. Quem votou na extrema direita, viveu uma ditadura? Sabe o que é tortura? Que esforços fez para estudar? Encontrou tudo de mão beijada e agora acha isso pouco? Quer ser rico, ganhar 7 dígitos no digital e pronto?

         Votar na extrema direita de barriga cheia fica entre o revoltante e o ignorante.

         Contra todas as ditaduras. A favor de todas as democracias.

         SEM ANISTIA.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

“Esperança ferida” Bug Sociedade

Os tristes resultados das eleições legislativas deste domingo, em Portugal, meu querido país, me esmagam o coração. O recente partido da extrema direita “classificou-se” em terceiro lugar, continuando a subir a montanha política a grande velocidade. Algo está acontecendo na frente dos nossos olhos. A civilização jurou nunca mais ultrapassar os limites que se ultrapassaram na segunda guerra mundial, mas quantas vezes já foram ultrapassados, sem sabermos ou fazendo de conta que não sabemos? O perigo é cada vez maior, está cada vez mais perto e não faço a mínima ideia de qual será a distância a partir da qual seremos engolidos por completo.

Sinto uma energia de atuação e de comunicação, com o povo, muito diferente destes partidos e de seus políticos, em comparação com os políticos que navegam à sombra da história dos seus partidos. A energia e hipocrisia convincente de André Ventura está a conquistar os que não gostam de nada, ou estão indecisos, ou têm raiva das injustiças que sofrem, ou querem ser visíveis, ou foram humilhados e invisibilizados pelos outros partidos. Pensar em Mário Soares e ver quem ocupa o seu lugar no PS (Partido Socialista); pensar em Álvaro Cunhal e ver o estado em que está o seu Partido Comunista; pensar nos fundadores do Bloco de Esquerda - Francisco Louçã, Miguel Portas, Fernando Rosas - e perceber que o partido só terá uma deputada no parlamento - Mariana Mortágua; pensar nos vencedores – AD – e pensar nos partidos dessa aliança e quem são os políticos. Falta carisma, falta visão, falta tanta, mas tanta coisa...

Quem tem empregos através de concursos públicos, ou vende bens essenciais, ou tem riqueza familiar, vai vivendo seja qual for a veia política que respira o seu país. Mas quem sofre ou perde diariamente suas liberdades, como as minorias, ou quem tem empregos que dependem do clima político, ao viver em sociedades ou países mergulhados em decisões políticas desiguais e castradoras, sente-se acuado.  

Sossega-se o povo com os festejos do Sporting, pelo bicampeonato merecidíssimo, ou com o jogo do Bahia-Vitória.  A cidade de Salvador na hora do BA-VI parece um deserto sem som, com gritos e fogos de artifício nos momentos do golo/gol.

Tenta-se esconder a podridão dos bastidores do esporte e da música - A família “Neymar” tentou impedir na justiça a divulgação do “Podcast Neymar”, da UOL Prime, no Youtube, com 4 episódios de muita novidade triste dos negócios e contratos. Tentou mas felizmente que não conseguiu porque precisamos saber as verdades, pelo menos algumas.

O Julgamento de P. Diddy, está a expor muita coisa ruim do “fantástico” mundo da música.

Ontem um amigo nos recordou uma das canções incríveis de Chico Buarque. Termino com um trecho dessa canção: “As Caravanas”.

“Sol, a culpa deve ser do sol

Que bate na moleira, o sol

Que estoura as veias, o suor

Que embaça os olhos e a razão

E essa zoeira dentro da prisão”

Termino sem resposta, termino com a esperança ferida, termino tentando encontrar energia para seguir.

Tem de ser possível algo melhor do que isto. Tem de ser possível.

 

E em seguida um dos maravilhosos textos do Professor Jorge Bento, com sua gentil autorização, no nosso humilde Bug Latino. Este texto sobre as legislativas de domingo em Portugal.

Ana Santos, professora, jornalista

 

“Debruçado sobre o abismo” Bug Sociedade

Tenho olheiras e a barba por fazer. Quero que a escrita condiga com o aspeto.

 

O panorama sugere que chegamos a uma era em que os ideais e os sonhos emudecem, aterrorizados com o cenário ao redor. Estamos plantados diante do abismo; este assoma de todos os lados. Os dias de causas e utopias ficaram para trás; os de hoje são de enterro da crença na Humanidade. Talvez noutras épocas tenha existido a mesma sensação; mas quem viveu no regime fascista e cantou o tempo novo e regenerador do 25 de abril não concebe a via do retrocesso; e custa-lhe reconhecer o veredicto de Mussolini: “a alma fascista nunca morre.” As eleições de ontem foram idênticas às que levaram o Duce e Hitler ao poder e possibilitaram ao último implantar o tenebroso regime nazi.

 

Entramos numa longa travessia da noite e do medo. Apenas a arte, a música e a poesia podem dar-nos a mão para uma nova criação a partir do nada. Precisamos também de quem construa e toque sinos para romper a muralha e a desolação do silêncio. É como sino e sineiro que me dirijo aos jovens do meu país.

 

O jornal Le Monde do dia 17 anunciava, surpreendido, que 23% dos jovens portugueses, com idade entre os 18 e os 23 anos, iam votar na extrema-direita. Um dado estarrecedor, tanto mais que, na referida faixa etária, eles frequentam o ensino superior. A intenção da votação concretizou-se. Não me surpreendeu, porquanto vejo o que muitos desses jovens debitam nas redes sociais. Venho dizer-lhes o que merecem ler e ouvir.

 

Vós, que votastes nas várias franjas da extrema-direita, sois portadores do esplendor do mal e do estertor do bem. Os da minha geração estudaram muito para saber um pouco; vós não estudais nada e sabeis tudo. Sois a reencarnação dos jovens que levaram Hitler ao poder, integraram as SS, saquearam a biblioteca da Universidade Humboldt e fizeram fogueiras com os livros nas praças de Berlim. Tendes a alma cheia da trampa da ideologia do coach, do empreendedorismo, do sucesso e egolatria e vazia de alteridade, generosidade e solidariedade. Denegris o Portugal de Abril e branqueais o país negro e sombrio, da fome e miséria, da falta de liberdade, da opressão e das prisões políticas. Viajais e não adquiris visão do local e bitolas do universal. Fazeis de conta que não sabeis quão mal cotado era outrora e quão apreciado é agora Portugal por esse mundo afora. Simulais não saber quantas crianças e mães morriam nos partos, quantos funerais de anjinhos (nome dado aos nado-mortos) se realizavam diariamente nas aldeias, vilas e cidades. Não possuís a noção da média de idade da população de então e de quantas pessoas acediam ao mínimo cuidado médico; nem tampouco da elevada taxa dos que não sabiam ler e escrever ou do ínfimo número dos que andavam no ensino secundário e no superior. Ignorais que apenas a escassa minoria tinha habitação própria, dispunha de instalações de banho e usufruía de rede de saneamento. Também recusais saber que a imensa maioria não comia três refeições diárias, não gozava férias, não viajava, não ia a cafés, bares e restaurantes, desconhecia o dinheiro no bolso e uma conta bancária; e não dispunha de reforma e de qualquer tipo de assistência social. Para ela o automóvel e o telefone constituíam uma miragem.

 

Comi, pela primeira vez, um cibo de chocolate e fui a um restaurante aos 18 anos! Com a maioria da minha geração sucedeu o mesmo. Nós, da geração que sonhou e realizou o 25 de Abril, somos levantados do chão. E vós, sois o quê? Não aceitamos a sobranceria do vosso julgamento e detração. Não ansiais construir algo grandioso; quereis apenas destruir o que nós edificamos com trabalho, paixão e suor. Nós alteramos radicalmente o deprimente quadro anterior ao 25 de Abril. Sim, a minha geração cumpriu o seu fado; fizemos um país melhor, a despeito das condições que encontramos. Não há nada de mau do qual sejamos culpados.

 

Volto-me agora para os companheiros da Academia. Fomos para o estrangeiro realizar o doutoramento nos finais da década de 70. Regressamos e a Universidade foi o nosso glorioso campo de batalha. Criamos Faculdades e Cursos de valia igual ao que de melhor há lá fora; e deste modo atraímos alunos do mundo inteiro. Investimos nos estudantes o capital de agentes da esperança na vinda de um futuro radioso. Eles emigram, não para morar nos bairros de lata das grandes metrópoles; exercem ofícios nobres e funções de responsabilidade em instituições internacionais. Não há, pois, razão alguma para bater com o punho no peito. Edificamos obra de vulto e temos o entendimento de que não podíamos fazer tudo. Todavia, fizemos o bastante para que a carcaça da nação, com as qualidades que lhe acrescentamos, seja nesta hora uma plataforma de resistência. Não nos acabrunhemos. O ambiente seria pior se os neofascistas já tivessem definitivamente triunfado. Porém ainda não passaram sobre os nossos cadáveres. E, assim o espero, não passarão!

 

19.05.2025

Jorge Bento

@jorgeolimpiobento

Licenciado em Educação Física pelo Instituto Nacional de Educação Física (INEF) e doutorado em 1982 na Ernst-Moritz-Arndt-Universität Greifswald (Alemanha), era, até à data da sua jubilação, Professor Catedrático da Faculdade de Desporto da U.Porto desde maio de 1993, tendo sido Presidente do Conselho Científico (1986-1996). Entre 1995 e 1998, assumiu o cargo de Pró-Reitor da Universidade do Porto.

Primeiro diretor da FADEUP eleito – em 2010 – após a entrada em vigor das alterações estatutárias impostas pelo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, Jorge Olímpio Bento desempenhou as funções de Presidente do Conselho Superior do Desporto de Portugal (2001-2002) e foi Vereador do Pelouro do Desporto da Câmara Municipal do Porto (1997-1999). Em 2007 e 2012 foi distinguido como Doutor Honoris Causa, respetivamente pela Universidade Federal do Amazonas, em Manaus (Brasil) e pela Kasetsart University, Bangkok (Tailândia). Recentemente, o Comité Olímpico de Portugal (COP) agraciou-o com a Ordem Olímpica Nacional, a mais alta distinção daquele organismo, em reconhecimento do “inestimável serviço prestado ao desporto nacional, ao movimento Olímpico e a Portugal”.

 

 

@buglatino

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