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Poesia parceira



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Sou tudo e nada. Triste e alegre. Atleta e sedentária. Útil e inútil. Poderosa e nada. A poesia me entende, me aceita e me conforta nos dias mais felizes ou nos dias mais nebulosos.


1. Poesia indicada pelo Bug Latino


“Dialética”


“É claro que a vida é boa

E a alegria, a única indizível emoção

É claro que te acho linda

Em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo

E tenho tudo para ser feliz


Mas acontece que eu sou triste...”


Vinicius de Moraes



2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert


“Dispersão”


"Perdi-me dentro de mim

Porque eu era labirinto

E hoje, quando me sinto.

É com saudades de mim.

Passei pela minha vida

Um astro doido a sonhar.

Na ânsia de ultrapassar,

Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,

Não tenho amanhã nem hoje:

O tempo que aos outros foge

Cai sobre mim feito ontem.

(O Domingo de Paris

Lembra-me o desaparecido

Que sentia comovido

Os Domingos de Paris:

Porque um domingo é família,

É bem-estar, é singeleza,

E os que olham a beleza

Não têm bem-estar nem família).

O pobre moço das ânsias...

Tu, sim, tu eras alguém!

E foi por isso também

Que me abismaste nas ânsias.

A grande ave doirada

Bateu asas para os céus,

Mas fechou-as saciada

Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,

Assim me choro a mim mesmo:

Eu fui amante inconstante

Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro

Nem as linhas que protejo:

Se me olho a um espelho, erro -

Não me acho no que projeto.

Regresso dentro de mim

Mas nada me fala, nada!

Tenho a alma amortalhada,

Sequinha, dentro de mim.

Não perdi a minha alma,

Fiquei com ela, perdida.

Assim eu choro, da vida,

A morte da minha alma.

Saudosamente recordo

Uma gentil companheira

Que na minha vida inteira

Eu nunca vi... Mas recordo

A sua boca doirada

E o seu corpo esmaecido,

Em um hálito perdido

Que vem na tarde doirada.

(As minhas grandes saudades

São do que nunca enlacei.

Ai, como eu tenho saudades

Dos sonhos que sonhei!... )

E sinto que a minha morte -

Minha dispersão total -

Existe lá longe, ao norte,

Numa grande capital.

Vejo o meu último dia

Pintado em rolos de fumo,

E todo azul-de-agonia

Em sombra e além me sumo.

Ternura feita saudade,

Eu beijo as minhas mãos brancas...

Sou amor e piedade

Em face dessas mãos brancas...

Tristes mãos longas e lindas

Que eram feitas pra se dar...

Ninguém mas quis apertar...

Tristes mãos longas e lindas...

Eu tenho pena de mim,

Pobre menino ideal...

Que me faltou afinal?

Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...

Desceu-me n'alma o crepúsculo;

Eu fui alguém que passou.

Serei, mas já não me sou;

Não vivo, durmo o crepúsculo.

Álcool dum sono outonal

Me penetrou vagamente

A difundir-me dormente

Em uma bruma outonal.

Perdi a morte e a vida,

E, louco, não enlouqueço...

A hora foge vivida

Eu sigo-a, mas permaneço...

Castelos desmantelados,

Leões alados sem juba..."


Mário de Sá-Carneiro

Paris - maio de 1913.


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