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Poesia nunca desiste


Recordar e seguir. Lamentar e seguir. Chorar e seguir. Sofrer e seguir. Viver é seguir.


1. Poesia indicada pelo Bug Latino


“O poema”


“dentro de mim

morreram muitos tigres

os que ficaram

no entanto

são livres”


Lau Siqueira


2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert


“O Saco de Retalhos”


"Velho saco, onde estavas?

No baú das coisas mortas,

esquecidas como tu?

Guardado na gaveta

como as sedas, as cassas,

os ramos de violeta,

a poeira e as traças?


Velho saco, onde estavas?

Pendurado numa daquelas portas

que um dia se fecharam

sobre a infância, o passado,

e nunca mais se abriram?

Ou no sótão,

na trouxa dos farrapos,

misturado com os trapos?


Velho saco dos tempos esquecidos,

nos teus retalhos desbotados

reconheço os meus bibes,

as chitas e os percais dos meus vestidos.

Estes velhos riscados

foram saias, corpetes, aventais

de criadas que então eram meninas.

E estas cambraias, estas sedas finas,

usou-as minha mãe.


Ó velho saco, feito de retalhos,

rever-te fez-me bem.

Este linho desfeito, remendado,

foi lençol de noivado,

e quantas vezes te vi pôr na cama,

ó minha ama,

esta chita vermelha de ramagens.


Meu velho saco, meu livro de imagens,

rever-te fez-me bem.

Não sei, porém,

que travo amargo esta alegria tem,

que tristeza me fez, que nostalgia,

ver surgir na distância

a minha infância,

descosida, em farrapos,

e reencontrar a minha mocidade

remendada e puída

numa saca de trapos.


Ó saco, ó velho saco de farrapos,

já não sei, afinal,

se ver-te me fez bem ou me fez mal."


FERNANDA DE CASTRO (1900-1994)

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