
Poesia na dor
Dizem que os maiores poetas sofrem muito. Dizem o mesmo dos artistas, dos gênios. Dizem que eles conseguem encontrar poesia na dor. Dizem que eles de alguma forma se salvam dessa forma. Dizem que se conseguirmos encontrar poesia na dor, nos salvamos também. Não custa nada tentar...
1 . Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“E POR VEZES AS NOITES DURAM MESES”
“E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.”
DAVID MOURÃO-FERREIRA
2. Poesia indicada pelo Bug Latino
“A mulher”
“A mulher espera à beira do cais há dias.
A vida é força que já não domina.
O tempo não é alívio e a mulher se esquece à beira do cais.
A mulher é a beira do cais há séculos.
A esperança é um erro que já não engana.
O tempo não é um consolo e a mulher vai tomando a forma do cais.
A mulher é cimento de cais há meses.
Seus deuses já partiram nas velhas embarcações.
O tempo não é sacrifício e a mulher idolatra a sua espera à beira do cais.
A mulher é o enigma, o mar seca e a mulher persiste.
E cada vela que surge no horizonte trazendo atrás de si o possível barco,
reacende no olhar da mulher a missão de esperar.
A mulher é a espera à beira do cais.
Os corte, os pássaros, as feridas, seu corpo. Tudo prova que o tempo
não é amigo
e a mulher é uma pedra fincada no chão do cais."
CLAUDIA BARRAL
Salvador, Bahia
3. Poesia de Teresa Vilaça
“EM DOR”
“Os mortos
não compreendem
Que se calem os ventos
Que não voem os pássaros
Que se desfolhem as árvores
Que sequem os rios
Que cesse a chuva
Que descanse o sol
Fraternalmente nos
interrogam
Por que?
São quantos?
São tantos...
Choremos
por eles
Choremos
por todos
Choremos nossa
consciência
também morta
Até quando?
Até quando
consentiremos?”
T.Vilaça
Salvador , 19 de junho de 2020
POEMA DO DIA A DIA
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