
“Quando estou entre as árvores”
"Quando estou entre as árvores,
especialmente entre os salgueiros e os espinheiros-da-virgínia,
mas também entre as faias, os carvalhos e os pinheiros,
elas emitem tantos sinais de alegria.
Eu quase diria que elas me salvam, e diariamente.
Estou tão distante de minhas expectativas sobre mim mesma,
nas quais eu reúno bondade, e discernimento,
e nunca me apresso no mundo,
mas caminho lentamente, e com frequência me curvo.
À minha volta, as árvores agitam suas folhas
e bradam: “Fique mais um pouco.”
A luz flui de seus ramos.
E elas convidam novamente: “É simples,” elas dizem,
“e você também veio
ao mundo para isso, para ir devagar, para ser preenchida
com luz, e para brilhar.”
Mary Oliver
Trad.: Nelson Santander
“Poema de sete faces”
“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade
Comentarios