Poesia da Leitura
- portalbuglatino
- 20 de mar. de 2024
- 1 min de leitura

“UM LIVRO, UM VASO, NADA”
“Todas as noites deixo
entre os livros a minha solidão,
abro a porta aos oráculos,
fundo a minha alma com o fogo
do salmista.
Que contrária
vontade de perigo me desvela,
quebra a vigilante
sede de viver na minha palavra.
Todas
as noites vivo inutilmente
a frustração do dia, recupero
as horas mortas da minha liberdade,
consisto no que fui.
(Mão esquecida entre os lençóis
rasga papéis, mancha o último
pedaço do meu sonho.)
Oh coração
sem ninguém – para quê
tantas páginas vãs, tantos
hinos vazios? Olha
em teu redor – que fica? Estamos
sós: toda
a vida cabe entre o calar
e o sonho. Aqui
a minha solidão é a minha alegria:
um livro, um vaso, um nada.”
José Manuel Caballero Bonald
(1926-2021)
Tradução de Egito Gonçalves
“Foi a Páscoa enxuta,
choveu no São João.
À Galiza a fome
logo chegará.
Com melancolia
olham o mar
os que noutras terras
têm de buscar pão.”
Rosalía de Castro
(1837-1885)
Tradução de Ernesto Guerra da Cal
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