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“Outubro Rosa” Bug Sociedade


Parte de obra de Tércia Marques

“OUTUBRO NEM TÃO ROSA ASSIM”

Por algum motivo que não entendo bem, todos falam da mulher nos meses de outubro, como se o mundo inteiro pudesse ser programado para ir ao ginecologista uma vez – justamente no mês de outubro, como se houvesse um horário à espera de bilhões de pessoas, pelo mundo. Sou um pouco implicante com categorizações. Seria mais fácil se a sociedade tivesse sido feita como Kant a imaginou para nós: "age de tal maneira que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio".


No outubro rosa, vale então percebermos que ele só faz sentido, se pudermos contar com o apoio do sistema de saúde em todos os 12 meses do ano, indicando, marcando, utilizando e usufruindo dos resultados. Mas diante do pouco caso e atualmente descaso do poder executivo para com todas nós, não consigo ver cor alguma nem nos outubros, nem tão pouco nos outros meses.


Ainda mais: há dinheiro para um orçamento secreto, com gastos que não são explicáveis, discutíveis, mas não há dinheiro para a pesquisa, para a ciência. Não há dinheiro nem para absorventes. Que espécie de momento trevoso é esse? Imputar descaso e abandono a uma ou outra ideologia é nos emburrecer a todos. O fato é que as mulheres da ciência do Brasil estão descobrindo saídas para questões importantes, mas ao invés de serem amparadas e conduzidas para a indústria, precisam jogar em todas as posições, enquanto os “paxás da política” se enchem de dinheiro que, indiscutivelmente é suspeito, já por ter origem confusa e mal explicada. Algum senhor deputado, ao se colocar contra a compra de absorventes ou o investimento em alta tecnologia no tratamento do câncer feminino, pensa mesmo que faz isso por puro e simples partidarismo e ideologia? Sem resvalar nunca para interesses marginais, dinheiros inexplicados, trocas espúrias? Duvido.

Os outubros no Brasil nunca foram cor de rosa, em cores puras, historicamente falando, mas agora o tom de rosa está mais nebuloso, negligenciado e geme na porta de postos de saúde e hospitais públicos, onde é mais premente nos empurrar a solução absurda de um kit Covid que “resolve tudo” pela posição teimosa e malcriada do Governo! Também nunca me imaginei relacionando malcriação a um governo – já que se supõe que quem o ocupa esteja maduro para fazê-lo, o que no nosso caso...


O fato é que uma cientista brasileira, associada a parceiros especialistas em alta tecnologia, desenvolveu um sensor que, ao contato com a pele, “percebe” proteínas atípicas que causam o câncer de mama. Ela já é cientista – precisa agora sair como um cavaleiro andante em busca da indústria ou a indústria já deveria estar esperando por ela na porta da Universidade para que logo ali, no futuro, nós possamos obter esse sensor nos hospitais públicos, nos postos de saúde, nas farmácias? Por que o Brasil espera pelo negócio da China e não se dedica a apoiar e transformar em bons negócios o que seus talentos produzem de espetacular?


Nesse outubro rosa, como em todos, não fico feliz. Ao contrário, minha posição continua a mesma o ano inteiro: sinto frustração e impotência por ver que com ou sem pandemia, as pessoas que detêm o poder fazem sempre coisas inexplicáveis, coisas a serem ocultadas. Mas cada vez menos, senhores. Cada vez menos, tenham a certeza. Logo, logo vocês terão que enfrentar mulheres – como aquele empresário xenófobo disse na CPI da Covid – DESCONTROLADAS pela consciência da pouca ou nenhuma consideração para com o povo brasileiro, para com a mulher brasileira.


Por isso e pela percepção de sua importância, meus sinceros cumprimentos aos senadores que desbancaram os terraplanistas bizarros, os puxa-sacos insuportáveis, os gagás autoritários e a falta de sentido de tentar transformar o algoz em vítima da circunstância. E para fatos, não há gritos, berros ou argumentos – já dizia a minha avó – e isso ainda tá valendo.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“O Mês Rosa” Bug Sociedade

Ser mulher é enfrentar muitos riscos, muitos desafios, muitas responsabilidades pela vida fora. Riscos visíveis e invisíveis, desde que nascemos. Todos os dias precisamos de uma certa quantidade de sorte para sobreviver. Sorte no DNA, nas pessoas com quem escolhemos viver, nas pessoas da nossa família, com o nosso corpo, com nossas escolhas, com as surpresas da vida. Não basta ser capaz, ser forte, ser corajosa, ser cuidadosa, fazer tudo direitinho, ser saudável, dormir nas horas certas, comer comida saudável. Todas conhecemos histórias reais que não terminaram bem de mulheres que faziam tudo direitinho na vida. Mulheres melhores do que nós, mas que nem por serem perfeitas enquanto seres humanos, foram poupadas. Nem por serem jovens, nem por terem filhos, nem por nenhuma razão de bom senso. Outras ficam marcadas para sempre. Amputadas no lugar mais feminino, mais visível socialmente, mais estético, amputadas na vaidade, na beleza, na feminilidade. Um pequeno pedaço de carne que carrega enorme simbologia. Outras, sua amputação não é tão visível, mas aconteceu e marcou. Outras passam uma vida pensando quando será a sua vez e como será a sua vez.


Nas horas difíceis lá estão as de sempre: nossas avós, nossas mães, nossas tias, nossas irmãs, nossas amigas. Mulheres que já caminharam nesse espaço escuro e solitário e nos estimulam a esperança, a luta, a perseverança. Mulheres que, no meio da multidão de afazeres, filhos e familiares, arregaçam as mangas e enfrentam as tempestades da vida sozinhas. Sem queixas, sem lamentos. Habituadas a fazer o caminho sozinhas, contam consigo. Não abrem espaço a desilusões. Medem forças com o futuro, com a vida, sem vacilar. Exemplos de onde retiramos forças para os nossos caminhos. Caminhos esses que ficam tão mais leves porque as “levamos” dentro de nós. Entregando nosso corpo, no melhor estado que nos é possível, com a serenidade, paz e confiança total no tratamento, aos especialistas, como a melhor forma de ajuda e colaboração. Desejando que cada especialista, cirurgião, enfermeira, esteja bem, esteja feliz, esteja preparado para poder se entregar totalmente na luta pela nossa cura. E, nessas pequenas ações, nesse estado de aparente transcendência talvez a gente ajude mais do que pensa e talvez a gente tenha a sorte de permanecer por aqui mais uns tempos. Valorizando cada segundo da grande benção que é viver.


Para o mundo existe um mês, o mês de outubro, o outubro rosa. Para cada uma, no seu silêncio, existe cada momento, cada dia. A vida inteira. Os auto exames diários, as rotinas dos exames médicos, o mistério do resultado. Ufa, mais seis meses ou um ano de descanso. Ou, outros exames, suspeitas, biópsias, algo não está bem. Marcação de cirurgia, de tratamento, reorganização da vida, do futuro. Lutar, lutar, lutar.


Em todos os supetões da vida os nossos anjos protetores surgem. Podem parecer poucos, mas sempre são suficientes. Fazem o que é mais precioso. Estão. Muitas vezes não sabem bem o que fazer, mas não interessa, desde que estejam, que amem. Nem precisam falar. São tudo, estando e acompanhando a caminhada. Isso é tudo e isso basta.

Ana Santos, professora, jornalista

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