“O SAMBA SAIU PRA PIRAR O TRUMP” e “Sem Anistia” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- 23 de set.
- 6 min de leitura

“O SAMBA SAIU PRA PIRAR O TRUMP” Bug Sociedade
Domingo cedo, como todos os dias, saímos para caminhar na Av. Centenário, aqui em Salvador. Muitos bons dias e sorrisos, mas a movimentação das pessoas, à medida que íamos chegando na Barra estava totalmente diferente. Havia um burburinho no ar, um bom humor. Todos tinham rumo certo. E nem parecia cedo – tinha gente chegando, chegando, sem parar.
É engraçada a sensação de finalmente estar de volta, sentada no meio fio, esperando a manifestação começar. Era algo talvez ligado ao Rio de Janeiro e a passeata das Diretas, ao uso que o Rio sempre fez do espaço mais lindo do mundo para protestar alegremente contra alguma coisa – mas sempre às voltas com a ideia que muitos fazem da diferença entre democracia e ditadura.
Veio a chuva, todos fugiram e se esconderam debaixo de alguma coisa – baiano não é fã de tomar chuva, acreditem. Mas de uma maneira poderosa, ninguém saiu de lá. Todos foram ficando ao redor do Cristo, conversando. Não havia música, batuque, nada. Havia gente. E não paravam de chegar!
Ali no Cristo, o sabor comum não era de direita, nem de esquerda – era de democracia. A ideia era falar alto e claro “NÃO” aos projetos abjetos que a Câmara tinha inventado para livrar-se a si mesma das mãos da justiça. E ali, sentada no meio-fio, relembrei novamente que o nosso medo muitas vezes virava coragem, no Brasil, como lá na Candelária, na passeata das Diretas já, com 100 mil pessoas – e foram tantos anos de ditadura, sem ninguém nas ruas, que a tomamos e lotamos com esse tipo de medo que vira entusiasmo e a gente nem sabe dizer como tudo aconteceu. Fafá de Belém era a dona absoluta do Hino Nacional naquela época. E a gente só chorava e cantava com ela, de mãos dadas.
Eu vi essa democracia nascer. Fui uma de suas parteiras. Engravidei dela também. Foi um parto coletivo, difícil, de homens e mulheres que, naquela época, sabiam muito melhor a diferença entre ditadura e democracia - e não perdiam tempo apontando e discutindo sobre direita ou esquerda porque sabiam a importância de ser livre.
Ali, sentada no meio-fio, diferentemente do que vi muitos falarem nas redes sociais – sem música, com chuva, gente comprando capa por R$5,00, sem cerveja, sem água, sem comércio – só mesmo a capa por R$5,00 – percebi que eu fazia parte daquela construção também e senti orgulho. Os anos perdidos sem rua foram recuperados num instante porque todos naquele espaço se sentiam igualmente responsáveis por mandar um recado com a clara sinceridade dos brasileiros: é SEM ANISTIA no cardápio, dessa vez, Excelências. É sem PEC da bandidagem também. Podem guardar essa cara de pau na gaveta de novo e tenham medo porque os chefes chegaram – chegou o povo, senhores.
Vendo Caetano, Gil, Ivan, Lenine, Geraldo, Paulinho, Chico, Djavan, Frejat; mas vendo, sobretudo, Maria Gadú sustentando os tons pra eles, uma geração diante da outra, a humildade dela diante daqueles mestres, desabei porque é muita emoção ver pessoas de 80 anos com esse mesmo espírito de brasileiro, que não se aposenta da brasilidade nunca, mas se deixando ajudar pelas mãos doces dos que vieram depois. É lindo nos ver dando nossos bastas. É lindo ver que isso já foi conquistado e agora os mais novos precisam se incumbir de ocupar as ruas e exigir respeito, quando nós não pudermos participar. Eu não ligo mais se tem ou não música na concentração, se tem ou não discurso logo cedo – eu sei o que fui fazer lá e isso me basta. Espero que os mais novos cheguem nesse mesmo lugar. Mas exigir democracia é o essencial e eu a vi escorrendo por nossos dedos... faltou um tantinho à toa pra tudo voltar ao passado escuro, trevoso, tenebroso onde, às vezes, na Urca, se viam “foguetes” humanos saindo do mar – eram corpos de torturados e mortos que, com o gás da putrefação, se desprendiam das cordas e “voavam” pra fora d’água. Ou quando meu coração se acelerou ao comprar meu primeiro livro do grupo Tortura Nunca Mais. Ou quando parar na fila de entrada de um festival de rock virou levar umas quantas cacetadas do guarda só porque ele olhou pra mim, de cima do cavalo, e “quis”. Eu não era comunista, nem esquerdista; era apenas uma estudante carioca – uma transeunte, como diria Nelson Rodrigues.
Domingo, portanto, foi dia de lembrar e chorar – e de receber cards estranhos no dia seguinte, querendo comparar a anistia do passado, à dos golpistas atuais. Foi dia de ter esperança na herança que todos nós deixamos e deixaremos para os mais jovens. Somos assim: num dado momento, enfrentamos tudo – e sambando, e rindo – e é isso o que está pirando Trump.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Sem Anistia” Bug Sociedade
Neste final de semana aconteceu um funeral com cerimônia memorial - que se assemelhou a um funeral de Estado. Para quem? Para Charlie Kirk, um ativista de extrema direita, assassinado em 10 de setembro de 2025. Um homem que dizia horrores de mulheres, de atletas como Simone Biles – chamou-a de “vergonha nacional”, chamou de “canalha” a George Floyd. Como se não fosse estranho, Trump ainda discursa. Ninguém desejava que fosse assassinado. Mas que não era uma pessoa boa para os Estados Unidos da América, nem ex-Presidente, não era.
Ontem os brasileiros de bem mostraram ao mundo, mas principalmente, mostraram aos políticos corruptos, que não vale tudo. Não, não, não. Pessoas de todas as idades nas ruas, literalmente de todas as idades, apanharam chuva, tomaram um sol de torrar miolos, mas estavam lá. “Sem Anistia”, era o mote. As joias do Brasil, bem velhinhos, tiveram a gentileza de estar presentes: Daniela Mercury e Wagner Moura em Salvador; Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan, Lenine, Maria Gadú, Ivan Lins, Geraldo Azevedo. Que seres humanos tão incríveis. Onde estará Ivete Sangalo nestas horas? Como ela consegue não estar junto? Tenho pena. Existia um movimento político paralelo, mas o verdadeiro movimento de ontem era social, de justiça, de democracia, de humanidade. Não estar presente é estranho.
Nenhum de nós tem anistia para pagar impostos, para ter a revalidação de diplomas estrangeiros, para nada, nada, nada. O Brasil é rígido e fiscalizador com todos nós, porque não seria com quem teve regalias? Com quem falhou profundamente? Com quem fez mal a tanta gente? E quanto ao PEC da “Bandidagem”, é bom aprenderem a ter um pouco de desapego, a terem a sensação de que não podem tudo, de que o povo não dorme. Essa agora...
Hoje acontece o discurso do Presidente Lula, na Assembleia da ONU. Escrevo antes de ouvir seu discurso. Desejo muito que possa ter a coragem que tem tido, de dizer umas verdades, tranquilamente, mas dizendo as verdades a Trump e a todos. É o que desejamos sabendo bem que não é fácil. Não somos mais meninos nem meninas e sabemos como é uma situação sensível ao mesmo tempo que muito importante. Estar na “terra” de Trump, apontando, criticando, precisa saber fazê-lo e o Presidente Lula sabe. Convém evitar ideias loucas daquele homem – e ele tem muitas. Presidente Lula com toda a certeza tomará todos os cuidados para não “cair” numa cilada ou arapuca, como aconteceu por exemplo com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski.
As redes sociais, muito atacadas e criticadas, são também muito poderosas e muito úteis a todos. Saber utilizá-las pode ser uma enorme vantagem para qualquer pessoa, empresa ou país. Saber seus limites e seus perigos também. Aproveitar a ida aos EUA para reunir com o dono do TIK TOK, não será para tomar café e falar de “emoji”. A idade e a experiência fazem milagres na alma dos corações bons. Não tanto com pessoas que “as más línguas” dizem que se divertiam junto com Epstein. Por isso a recente aproximação de Trump ao “Tik Tok” e a divulgação pelo mesmo Tik Tok do que a primeira-dama “Janja” falou para o Presidente da China, Xi Jinping, num almoço privado, serão alguns dos assuntos extremamente sensíveis e importantes a tratar com toda a certeza. Muito poder e o rumo do futuro estará implícito nessa conversa.
Em setembro de 2025, Portugal reconhece oficialmente o Estado da Palestina, juntamente com o Reino Unido, Canadá, Austrália. Tanto tempo para chegar a este dia, tanta morte, tanta destruição, tanto sofrimento. Porque não se faz as coisas antes da destruição? Caramba que loucura!!! O Embaixador de Israel aparece na televisão portuguesa a lamentar a situação. É para assustar? E Portugal não tem autonomia para dar passos humanos? Não existe outro jeito. Ou deixamos de ser humanos...
Todos vamos envelhecer, se continuarmos por aqui. Quando desaparecer a arrogância, a vaidade, a frieza, a gula, a infâmia, a corrupção, de políticos e governantes, no meio de Alzheimer ou outra doença incapacitante, o que restará dessas pessoas? Isso não é importante para elas? Devia ser... Porque a vida nos entrega uma doença ou mais, devagar ou de repente, sem anistia...
Ana Santos, professora, jornalista
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Terça-feira, dia de escrever sobre o que acontece no dia a dia. De crítica, de conselhos, de admiração, de espanto, de encontrar caminhos melhores para todos.
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