“JANELA DE TEMPO” e “Um olho no peixe, outro no gato e outro em você” Bug Sociedade

“JANELA DE TEMPO” Bug Sociedade

                  Tic tac. Todos olhando a vida a partir de seus próprios pontos de vista, enquanto perdem a beleza das sombras – se a melhor lei do mundo não se preocupa em fiscalizar, a lei está nos olhos dos passantes – se eles virem. A América precisava mesmo de um salão de baile para 999 pessoas, enquanto se continua a matar o povo, na Palestina? Tic tac. Temos mesmo que relevar para sempre a falta de trabalho do Congresso Nacional? Os tais conservadores que não fazem outra coisa a não ser cuidarem de seus próprios interesses enquanto destroem o que resta de verde em suas cidades? A quem se reclama quando a galeria de esgoto recebeu tanta areia e lixo que acabou soterrada?

                  Tic tac. Salvador, na manifestação vazia, quer reclamar e está anestesiada ou acha que não há motivo nenhum para reclamação porque se sente desinteressada? Quem vê os ratos esmagados pelos carros, na rua, imagina quantos estão vivos, andando por onde andamos? Vemos os moradores de rua já fazendo suas camas de casal de papelão pra terem privacidade? Não temos interesse? O que nos interessa? O filho da gari foi assediado no banheiro do transporte público, bateu no idoso e foi chamado à delegacia para prestar depoimento. Antes dos políticos me massacrarem com suas pautas morais inúteis, quem vê alguma argumentação contra os pedófilos? A mulher trans não pode fazer xixi no banheiro feminino, mas o idoso hétero pode “pegar” jovens no banheiro do transporte público?

                  Orla sombreada é o futuro? Orla sombreada e com ratos entrando e saindo do buraco dos cocos vazios, largados na areia da praia, são o futuro? Nenhuma campanha para que o povo aprenda a – pelo menos - separar suas latinhas, do lixo comum? Quando se pensa cidade, o que cada pessoa vê? Bueiros totalmente tapados? Festas com bebidas à rodo, som alto e pisando no lixo, vendo milhares de pessoas dormindo na calçada durante o carnaval, da mesma maneira que dormem na calçada fora do carnaval?

                  Tic tac. O que você pensa, quando imagina Salvador? A Anitta pedindo à Prefeitura para repensar seu trabalho? Ninguém com nem um pouquinho que seja de vergonha, quando vê a Anitta gravando pedidos para que a nossa Prefeitura se preocupe com a cidade?

Tic Tac. Há algum tempo, uma criança de 1 ou 2 anos estava brincando com um bichinho no portão e era uma ratazana. Ah sim, sua mãe conhecia um vereador, que mandou o serviço de tosa do mato, mas quando as pessoas não conhecem nenhum vereador, aprendem a adestrar ratos? Ninguém relaciona o lixo solto pela rua aos ratos?

                  Nessa pequena janela do tempo, você se sentiu parte da cidade em algum momento ou passa olhando tudo pela janelinha? A quantas pessoas costuma dar bom dia? Percebeu que as crianças não estão mais nas pracinhas? Que não se vê ninguém conversando com elas? Nem mesmo os pais? Perdemos nosso espaço de vida com alguma segurança, graças aos senhores políticos inúteis. Nessa mesma janela do tempo, quantas vezes você usou o scroll do celular, em busca de... sei lá o quê...

                  Tic tac... Enfrentamos deputados federais “sinistros” olhando na cara deles, no meio da rua, no Brasil inteiro - e deu certo. Mas os vereadores podem se sentir à vontade aqui, exatamente aqui, onde os Malês pisaram?

                  O que faremos quando os sabiás fugirem?

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, Tv

“Um olho no peixe, outro no gato e outro em você” Bug Sociedade

A novela “Trump Lula” rende muito trabalho aos jornalistas e eles andam felizes por estarem ocupados. Mas se olharmos com sabedoria vemos que o que está acontecendo é algo histórico e vai fazer parte de muitas aulas de comunicação profissional nos próximos anos, décadas, séculos – se a nossa espécie ainda estiver viva, claro. A capacidade do Presidente Lula resolver este assunto, para lá de complexo, com seu charme e sabedoria, é impressionante. O Brasil precisa estar muito agradecido pelo que ele está conseguindo fazer, aparentemente com apenas sorrisos e abraços – quem trabalha com comunicação sabe como é difícil, complexo, exigente o que está acontecendo nos bastidores. Agradecidos também precisam estar os que se colocam do lado de Bolsonaro e ajudaram a construir esta confusão e este enorme e grave problema. Faz lembrar os filhos (Bolsonaro) que só constroem problemas e os pais (Lula) vão lá e resolvem tudo. Isto tem custos: financeiros, morais, relacionais. Deixo aqui uma frase que dizem ter sido dita por Lula no primeiro encontro, na Malásia: “Em três reuniões comigo você vai perceber que Bolsonaro era nada.” Como é bom se ouvir palavras e com elas se materializar o que o mundo inteiro pensa mas não pode dizer.

Israel divulgou uma lista de fotos de pessoas do Hamas que foram assassinadas, com foto e com a palavra “eliminado” a vermelho. Sim, parece que foram identificados como alguns dos responsáveis dos horrores de 7 de outubro de 2023, mas também parece que voltamos ao faroeste onde a justiça é súbita e fria, sem espaço para uma justiça que pune mas dentro da lei e de forma humana, mesmo os mais vis criminosos. Como também é horrível e com cores de faroeste assistir às imagens das pessoas brasileiras que vivem nos EUA, são apanhadas na rua e desaparecem, num circo de horrores e de burocracia da emigração que lamento profundamente. Mais ainda porque sou também eu uma emigrante. Você paga os impostos, você se dedica ao país, esse tratamento não é certo.

Para quem assistiu ao Real Madrid – Barcelona, o grande derby, o jogo da grande rivalidade esportiva em Espanha, também viu que jogadores profissionais e milionários, não aceitam e não sabem perder. Desta vez foi o Barcelona que perdeu e perdeu a cabeça mas se fosse o inverso, seria igual infelizmente. E, como se costuma dizer em conversas informais, “perdem o jogo mas não perdem a viagem”. Irritam o adversário no final do jogo, convidam para ajuste de contas, para a “porrada”, com cara de meninos que nunca aprenderam nem vão aprender a lidar de forma madura com as coisas duras da vida. Porque perder é duro, mas depois fica mais suportável, mesmo ficando difícil. É uma aprendizagem necessária, não é para fugir. Vinicius Jr também não aguenta uma substituição e eu me pergunto como vai ser a vida emocional deste menino quando for mais velho e um ser humano como os outros? O Ego continua a prevalecer, não tem jeito. É ridículo, triste e estraga todas as aprendizagens que professores e treinadores bons tentam construir nas crianças e jovens. Podem estar cheios de dinheiro, fama, sucesso, saúde, beleza, patrimônio, mas isso não lhes tira nunca a necessidade de se cuidarem ao nível cívico, educacional, moral. Mas eles lá sabem disso...

Precisamos perder algumas vezes e enfrentar essa dor da humilhação, essa vergonha, essa sensação de incapacidade e o bullying dos que se acham Deuses. Precisamos passar por isso sem destruir nada em volta – emocional ou material, precisamos passar por tudo isso e perceber como é mau estar ali. A partir disso perceber que não são os outros que vão mudar, que depende de você, do seu esforço, das suas ações.

No domingo assistimos a uma peça de Teatro que vai ecoar na minha mente para sempre: “A Alma Imoral”, com Clarice Niskier e baseada no livro com o mesmo nome de Nilton Bonder. Aprendi tantas coisas, me avisou de tanta coisa, me confirmou tanta coisa e tudo isso é tão bom, mas tão bom que desejaria que a peça fosse vista em Portugal. Alguém conhece algum produtor que possa fazer parceria com as produtoras que acompanham a peça? Me falem por favor.

Falo na peça porque ali tudo é dito sobre quem somos, quem jugamos ser, quem queremos que os outros sejam, e em como não fazemos ideia da importância e valor de cada momento da vida. Nada sabemos. Nós vemos as coisas, as aprendizagens são colocadas na nossa frente. Alguns aprendem outros não. Umas vezes aprendemos e outras vezes não. Situações explicadas de uma forma, nos passam ao lado, mas se explicadas de outra forma, vemos de imediato. Depende da pessoa que diz, do que ela significa para nós, mas principalmente, depende do que somos e sentimos naquele momento. Isso fará o nosso olhar, ver, ou nem perceber o que nos está a tentar ser ensinado. A peça e o que foi falado nela, eu não via, nem prestava atenção, anteriormente. Talvez por isso, se tivesse assistido à peça durante estes 19 anos que está em cartaz, não entendesse metade do que entendi e nem metade do que me tocou. Mas agora, eu vi ali, tantas coisas que me são ditas como sendo defeitos meus, mas são qualidades, são quem eu sou e vejo agora que não sou só eu que sei isso – nossa como é bom saber que existem pessoas que veem o mesmo que nós. Eu achava que estava no caminho certo mesmo com todas as críticas e risos e gozos e silêncios e recusas mas encontrar um aliado destes, um sábio como o Rabino Nilton Bonder, como Clarice Niskier que é muito mais do que atriz, dá um alento meus senhores, um alento que te recarrega baterias para mais um milénio. Como isso é bom e útil a todos.

É fundamental preencher a necessidade das pessoas, todas, de assistirem cinema, teatro, exposições, bailados, lerem livros de verdade, ouvirem música de verdade. É imprescindível se enriquecerem culturalmente, mesmo se pobres, mesmo se vivendo dramas terríveis, a sua riqueza cultural as salvará no momento que a oportunidade aparecer. E pode ser adquirida ouvindo outras pessoas com outras experiências e outras culturas. A cultura oral igualmente valiosa e tão preciosa e menosprezada. A riqueza cultural do mundo à nossa volta pode ser adquirida de forma gratuita. Nunca esqueça isso, não esqueça de si, não esqueça do que quer fazer, nem do que veio fazer. Tudo o resto são distrações. Distrações que distraem né? Por isso cuide do seu foco e concentração.

E já agora, que tal transformar o seu celular na sua universidade em vez de o deixar ser sua destruição?

Ana Santos, professora, jornalista

Terça-feira, dia de escrever sobre o que acontece no dia a dia. De crítica, de conselhos, de admiração, de espanto, de encontrar caminhos melhores para todos.

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Imagem: Nicolina Vaz de Assis, Fonte de Tritão, passeio público