Exposição de Azulejos, Porto, Portugal
- portalbuglatino
- 10 de ago.
- 2 min de leitura
"Estas são um pouco as histórias de pessoas que conhecemos. De fato, eles tentavam fugir todos os dias, não estavam contentes sendo pobres, mal tendo o que comer, não gostavam daquela vida. Mas quando eles tentam fugir, como numa tragédia grega, é nesse momento que eles desmoronam, porque bebiam muito tentando fugir da realidade, porque se tornavam violentos achando que retomavam o controle da realidade. O que é a violência? Para muitas pessoas é uma forma de dizer: "Eu retomo o controle da minha vida. Não sou apenas uma vítima." Assim, quando alguém é violento, não é a pessoa violenta que é responsável. Quem tirou tudo daquela pessoa é que é responsável, porque a pôs numa situação na qual ela manifesta a violência para reencontrar sua vida, para reencontrar o poder. E no fundo, todos tentam fugir. E isso é algo que demorei muito tempo para entender, porque quando era um transfuga de classe (uma pessoa que muda de classe social, geralmente passando de uma classe mais baixa para uma mais alta. A palavra "trânsfuga" tem uma conotação negativa, sugerindo que a pessoa está abandonando ou desertando da sua origem social), que tentava fugir, com 15, 16 anos, pensava que só eu queria fugir. Tinha uma espécie de arrogância de pensar: "Eu quero ir embora. Eles não querem. Eu quero fugir. Eles não querem. E hoje, nos livros que escrevo, tento corrigir esse erro e mostrar que todos querem ir embora, em todos os sentidos, só que existem fugas que libertam e existem fugas que condenam, como numa tragédia grega."
Édouard Louis
filósofo francês
Fotografia de João Paulo Pimentel
Professor de Cerâmica na Escola Soares dos Reis, Porto, desde os anos 80.
Artista.
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