“A INTERNET E A DESCOBERTA DO FOGO” Bug Sociedade
A internet é um tudo; é a roda e o fogo, a entrega de informação de toda a parte. Como então ela pode ser tão perfeita e ao mesmo tempo virar vício, crime, malefício?
Bem, essa é a nossa pergunta de 1 milhão de dólares. A internet nos dá acesso à informação, mas não ao conhecimento – busca individual de aperfeiçoamento. Nossa busca. Temos trocas que não deveriam entrar em nenhuma negociação e conversar, trocar experiências na vida real, certamente são partes dessas coisas. Já é notícia comum sabermos de meninos que ficam mais de dois dias jogando direto, sem comer ou dormir, sem beber água pra não terem vontade de fazer xixi. E isso acontece nas casas e ninguém parece perceber que jogar 48, 55 horas consecutivas é tão doentio quanto qualquer outro vício. Quanto apostar em jogo, por exemplo.
Insistir pra que as pessoas, as famílias toquem em assuntos complexos como assédio, bullying ou vício de internet é uma coisa necessária. Os pais não querem, a vida dá cada vez menos tempo, mas isso não se negocia. Se antigamente eu ouvia minha mãe falando nos perigos dos “maconheiros”, atualmente a maconha é muito mais resposta a problema do que problema em si. Todo o resto é viver do passado, ter preconceito. As drogas sintéticas, porém, são muitas e cada vez em maior número. K9, K2, K4, spice, space, supermaconha, maconha sintética, Crazy Monkey ou Fentanil, por exemplo – verdadeiras pragas. Já nem conheço essas drogas novas. Nem por foto(!). Como se diz na internet, não fazem parte do meu “nicho”.
Falando em nicho: Quem sabe responder sem medo de errar quais são os nichos de cada um de seus irmãos ou filhos, sobrinhos? Dos netos? Quem já percebeu que os canais de TV fechada estão ficando “nichados”? Que redes de gamers podem também vir a ser redes de gangs que ameaçam sexual e criminalmente aos nossos meninos?
Quem já percebeu que internet vicia? Que essa incrível e fascinante descoberta pode comprometer toda a nossa criatividade e que é imprescindível variar internet com conversa, brinquedo, praia, bola, teatro, cultura, diversão em tempo e vida real? Eles ficam tão bem comportadinhos no quarto jogando, né? Quase não se percebem os riscos que correm...
O tempo do mundo vem passando mais rápido e a gente que trocava de geração a cada 20 anos (bons tempos)... agora, trocamos a cada 5 ou 10... Não percebemos também quando os mais jovens diminuíram suas capacidades de funcionamento em grupo. A nova geração compete entre si e não sabe dominar mais o funcionamento em conjunto – mas nós, a antropologia inteira nos aponta ainda como os reis do funcionamento conjunto, rei das tribos globais!
Eles ficam tão comportadinhos ou... nós estamos ficando cada vez mais permissivos? Talvez omissos? Nossa atenção também está mudando, perceberam? Passamos de três minutos + renovação para oito (8!) segundos + renovação. Não temos atenção focal suficiente para atravessarmos uma rua movimentada, estamos dispersos e solitários.
Mas a internet também é o céu, nunca esqueça! É você entre dois fogos, entre céu e inferno, fogo e água. O que mais sobra, quem pode ajudar?
Você, seu bom senso e experiência. Use tudo isso e converse, se exponha. Conheça os amigos virtuais de seus filhos e irmãos na vida real, conheça e construa amizades com pessoas reais. Nunca – nunca – ache normal ficar 8, 9 horas na frente de um computador jogando qualquer tipo de jogo. Há mundo fora da sua janela, comida na geladeira e descarga no banheiro. Use-os e na prática! A vida acaba rápido!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Não se foge do Carma/Karma” Bug Sociedade
Uma vez perguntei à minha mãe se ela sentia que tinha a idade que tinha. Estava com uns 85 anos quando lhe fiz a pergunta. Olhou-me nos olhos calada, fez um sorriso de sabedoria e disse: “Ana, eu tenho imensa vida dentro de mim. Desejo e vontade de fazer muitas coisas. Na minha cabeça, sinto-me com 40 anos. O corpo já tenta me travar o que desejo, mas eu continuo a insistir. Ai Ana se eu tivesse corpo para o que ainda quero fazer...” Eu, que achava que íamos envelhecendo no corpo e na mente, mais ou menos ao mesmo tempo, percebi naquele dia, que não sabia nada de nada. E nos olhos e palavras da minha mãe vi, pela primeira vez, o que é envelhecer verdadeiramente. Como professores aprendemos a ter resposta para tudo. Temos de ter resposta para tudo. As pessoas não entendem um professor que diz que não sabe. E deviam entender. E acho que isso persegue os professores – essa necessidade de sabedoria espontânea e constante em profissionais que estão mergulhados em burocracia, em tarefas, em planificações, em avaliações, sem tempo para pesquisar, refletir, ver o mundo.
Thubten Wangchen, monje budista tibetano, diz que “devemos ir em busca de aprender o que não sabemos. Existem muitas coisas para aprender, aprender coisas novas é interessante e te torna melhor pessoa.” Ficar parado na aprendizagem, ensinando os outros, sem tempo para mais nada, necessariamente te vai deixar vazio, um dia. E esse dia, será provavelmente, perto da tua aposentadoria. E isso é um perigo – emocional, espiritual, pessoal, profissional.
Thubten Wangchen também fala que “aquilo que sabes, deves ensinar aos outros, mas apenas aos que querem. Não forces as aprendizagens.” Ué, as escolas têm cada vez mais alunos sem vontade de aprender.
Que todos estamos buscando a felicidade mas “não é suficiente desejar, rezar e orar pela felicidade para a alcançar. É preciso cultivá-la sozinho. Que cuidamos a aparência exterior e a vigiamos constantemente – olhamos o espelho e corrigimos o cabelo, a roupa, etc, antes de sair e durante o dia. Mas porque não fazemos isso diariamente com o nosso interior?”
Thubten Wangchen me fez lembrar de pessoas como Jair Bolsonaro, Robinho, Daniel Alves, Putin, etc. Além de punidos pela justiça humana, eles serão punidos pela sua própria culpa. Pelo seu próprio carma/karma. É revoltante ver, por exemplo Robinho, continuando a viver sua bela vida, indo em festas de casamento, jogando seu “baba”, tirando fotos com “amigos” e a justiça na sua lentidão burocrática. Ver Jair Bolsonaro falando de anistia, de se candidatar não sei a quê, se considerar vítima. De Daniel Alves dizer que perdoa a menina. De Putin seguir destruindo o que quer e ter virado o mundo e a vida de tantos milhões de pessoas de cabeça para baixo, ou de as matar. Mas, ao mesmo tempo, dá pena deles. Com aquele ar de quem se está dando bem, ou sabe como se dar bem, ou com aquele ar de total poder sobre tudo, esquecendo o carma/karma. E não interessa muito se você acredita ou não. O carma/karma está em você, no que você faz. E Thubten Wangchen, até parece que adivinhou quando falou que não interessa se não tem câmeras, se não tem gente vendo, se você consegue enganar a justiça. O que você fez está feito e isso tem uma consequência. Se foi bom o que você fez, boa consequência. Se foi mau o que você fez, devemos até ter compaixão porque não vai ser “doce” o que os espera. Pessoas que com certeza não conhecem “You’ve Got a Friend” de Carole King, transformada num sucesso mundial por James Taylor – esta versão foi cantada há um mês. É uma pena. Quem sabe, teriam aprendido coisas que com certeza não aprenderam. E o mundo teria sido bem melhor. Para todos.
Ana Santos, professora, jornalista
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