“21 DIAS PARA QUE OS HOMENS TENHAM NOJO DO QUE FAZEM DIARIAMENTE CONTRA AS MULHERES” e “Respeite o feminino da vida” Bug Sociedade

“21 DIAS PARA QUE OS HOMENS TENHAM NOJO DO QUE FAZEM DIARIAMENTE CONTRA AS MULHERES” Bug Sociedade

                           Alguém pode se achar injustiçado – problema! Que botão foi ligado no governo Bolsonaro para que os homens não sintam vergonha do que está sendo feito em nome do machismo no Brasil? É o mais completo desequilíbrio. Se há décadas atrás, o crime contra Ângela Diniz chocou o Rio, hoje ele acontece tantas vezes que nem chega mais a ser notícia. 

                           Me digam, o que uma pessoa (claro que no caso, a pessoa sempre é do gênero feminino porque homem não tem coragem pra matar homem do mesmo jeito que mata mulher) pode falar para que o seu ex-namorado passe com o carro em cima dela diversas vezes e, tendo-a enganchado nas ferragens do carro, saia arrastando-a pelo asfalto por 1 quilômetro? Alguma coisa que ele acha que não é nada, já que se declarou inocente, na delegacia.

                           Para os homens é difícil pensar na questão porque, efetivamente, seria inusual, incomum, praticamente impossível que uma mulher se prestasse a um papel miserável desses... mas pra nós é impossível não pensar nisso – todos os dias.

                           Uma atriz faz sucesso, é linda – e pode ser atacada pelo produtor, manager de TV ou qualquer homem com um cargo que lhe dê poder. Estupro ganha nome tépido como “teste do sofá”; assédio ganha o nome de “cantada” – tudo muito singelo. Se a mulher é assediada e estuprada, “a culpa é dela” – o que vestia influi, o sorriso, a gargalhada, a forma como cruza as pernas ou qualquer coisa que se queira dar como desculpa. Aqui em Salvador os homens puxam “a coisa pra fora” e fazem xixi em qualquer lugar. Ninguém corta aquilo fora, ninguém ataca. Mas no carnaval deste ano de 2025 uma mulher foi fazer xixi na praia – sim, o mesmo xixi que os homens fazem à vontade pelos muros, paredes, pontes, árvores – e foi estuprada por um bando de tarados. O que foi dito na cidade? Também! Foi fazer xixi na praia com tanto banheiro químico... alguém pensa em banheiro químico pra indicar pra homem? Querem comparar o banheiro químico de Salvador com o do Japão? Nem vamos falar da estética, mas da limpeza! Do cheiro miserável que a gente sente ao andar na mesma calçada do maldito banheiro químico!

                           Uma mulher comum entra no elevador com um homem comum e os olhos dele quase lhe caem em cima; uma mulher comum anda na rua ouvindo todo tipo de grosseria, enquanto o homem “acha que aquilo” é elogio; uma mulher comum pode ser atacada por um tarado que se roça nela normalmente no ônibus, trem, metrô, bonde, a pé, no taxi, Uber, 99.

                           Inúmeras mulheres, depois de serem estupradas, vitimadas, atacadas pelos homens, dizem que eles as obrigam a fazer sexo oral neles. Talvez porque elas não tenham mais forças para se defenderem, morderem.

Se a mulher apanha, a culpa é dela porque deu mole – deveria ter ido embora antes. Tudo para essa sociedade absolutamente machista é fácil de resolver. Se ela não dá mole é ainda assim é estuprada, assediada, forçada, é porque jogava duro demais e teve que ser “amaciada”; se é criança e ainda assim é atacada e engravida, se não quiser o filho é pecado. Nunca os tarados aparecem sendo chamados de alguma coisa que a pessoa do gênero feminino é chamada por existir, por ser bonita, por se vestir bem, por estar cheirosa, por ter nascido. Eles apenas olham e atacam. São treinados para atacar desde crianças e nenhuma prefeitura, governo, secretaria mostra o vergonhoso comportamento masculino nas chamadas comerciais educativas. 21 dias para discutirmos o aumento da violência contra o gênero feminino – quando os homens vão começar a discutir o que fazem todos os dias na rua, na praia, no carnaval, no ônibus, nos bares, restaurantes, na política – na vergonhosa política do Brasil?

A campanha ideal daria 21 dias para os homens sentirem vergonha e nojo do que fazem todos os dias. Depois multas pesadas, prisão, cadeia, mostrar a cara de tarado, de agressor, de cínico na TV, mostrar a cara dos deputados relatores de barbaridades contra o gênero feminino, os machistas ridículos de cabelo raspado e barba “modelo Rasputim” ou mauricinhos com logorreia machista e voz infantil.

21 DIAS PARA QUE OS HOMENS TENHAM NOJO DO QUE FAZEM DIARIAMENTE CONTRA AS MULHERES

Amadureçam!

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

“Respeite o feminino da vida” Bug Sociedade

Aprendemos bem cedo que existe um lado masculino e outro feminino, como se fossem dois lugares ou dois territórios separados. E não são! Todos os seres humanos têm dentro de si o feminino e o masculino, mas muito não sabem, muitos não aceitam, felizmente muitos nunca acharam isso problema.

Quem não conhece a canção extraordinária de Gil, aqui cantada por Gil e Caetano, chamada "Super-Homem, A Canção"? Até este homem e artista extraordinário fala na porção feminina de si e que ela é a sua melhor versão. E, cito “quem dera todo o homem pudesse compreender, quem dera” (...) “Quem dera que o Super Homem viesse nos restituir a glória...por causa da mulher”. Grandes homens dão valor ao seu lado feminino, entendem a importância de revelarmos nossa feminilidade, sejamos do gênero masculino ou gênero feminino.

Preocupados em colocar a Bíblia nas Escolas, esquecem de ensinar desde cedo que cada um deve admirar seu lado feminino e respeitar a forma como os outros vivem seu feminino. Isto para começar já não estava nada mal, mas a educação virou um nome, virou lucro, virou trampolim para políticos. Evaporou-se a educação que ajuda, que salva, que desenvolve.

Estereótipos de gênero são papéis atribuídos a homens e mulheres, praticamente desde que nascem. As roupas que se oferecem aos meninos recém-nascidos costumam ser azuis, e às meninas costumam ser cor de rosa. Aos meninos bolas e às meninas bonecas. Triste. Sempre troquei todas essas voltas, mas fui sempre chamada de esquisita e de “inovadora” – mas não era essa a palavra que diziam quando eu não estava presente. Não existem cores para uns nem para outros, nem objetos, nem profissões, nem espaços, nem escolhas. Cada um com sua vida, os outros que cuidem da sua.

Todos somos doces, meigos, sensíveis, emotivos, cuidadosos, frágeis, delicados (alguns dos estereótipos femininos) e todos somos fortes, corajosos, responsabilidade, ambição (alguns estereótipos masculinos). Todos devemos cultivar os dois lados – feminino e masculino – em nós. Só assim seremos melhores, socialmente melhores, humanamente melhores.

Gisela João e Carolina Deslandes são duas cantoras portuguesas que lutam contra os estereótipos de gênero, mas lutam mesmo e vão a lugares que ninguém se atreve. E é por isso que as amo e as admiro. Gisela João tem uma canção chamada “Louca”, onde fala na forma como facilmente se considera louca uma mulher que não aceita que mandem nela e que decide fazer o que quer. Carolina Deslandes, na sua canção “Feia”, vai nessa direção também e ambas falam o que milhões de mulheres gostariam de ter a coragem de falar. Carolina Deslandes tem mais. Sua canção “Tento na Língua”, por exemplo, é outra pérola. A espanhola Elena Gadel, também tem a canção “Lobo”, que é impressionante e seu vídeo muito real – sobre violência contra a mulher. Amo, amo que estas mulheres tenham esta coragem e assim permitam que os nossos espaços sobrevivam, que a nossa luta se mantenha viva e que nos estimulem a seguir lutando também. Não considere que com você não acontece porque algo sempre acontece com alguma pessoa do gênero feminino, por isso se cuide, por isso esteja atenta.

O espaço feminino na sociedade está muito ameaçado, e é assustador que está ameaçado pelo lado mais horroroso do espaço masculino, da agressividade, da grosseria, da barbárie, da frieza e do faz de conta que está tudo bem, do “essa mulher é louca”. Tanta coisa horrorosa se faz às mulheres e eu gostava de saber por que e gostava de saber porque se tenta calar as mulheres que tentam defender o espaço e a vida de todas. Gostava de saber por que o homem chega a esse lugar tão fundo do horror. Como ele é capaz e por que os outros ficam olhando e seguindo suas vidas, ou ficam desculpando, ou olhando para o lado?

Hoje li uma notícia de uma mulher de 30 anos, que estava caminhando com um amigo, o ex-namorado passou de carro, atropelou-a e arrastou seu corpo por um quilómetro. Foi preso depois de fugir e comentou que não sabia que ela tinha ficado presa no carro, quando as imagens mostram como ele andou com o carro para a frente e para trás, com a mulher debaixo. O corajoso de carro vira o pateta mentiroso e falso com a cara tapada. Devia ser proibido tapar a cara.

Esta mulher perdeu as duas pernas, luta pela vida e terá um caminho longo para recuperar emocionalmente. Eu me pergunto e pergunto à vida: o que ela fez de tão terrível ao ex-namorado para ele se sentir no direito de fazer isto? Esse ego, esse orgulho, esse machismo, essa sensação de poder, de superioridade, esse achar que são donos do mundo. Não é possível que continuemos a assistir e a lamentar, com as coisas piorando. Como isto é possível?

Estou cansada de ver homens casados e com filhos, fazendo queixa à “mãezinha”, porque aquela mulher não o cumprimentou, ou porque ela não faz o que ele quer. Ou os que se afastam, te demitem, não te contratam, porque você, mulher, sabe mais do que eles e isso não é aceitável. Cresçam! Só as mulheres têm de crescer, aguentar, calar, resistir?

Que é isto gente?

Acham mesmo que 21 dias de “esforço” institucional, de recadinhos nas redes sociais, vão parar estes monstros? E vão parar os monstros que andam no meio de nós, aguardando o momento de fazer as suas monstruosidades? 21 dias de responsabilidade teórica vão levar estes homens ao tratamento antes de fazer algum horror? 21 dias vão fazer com que tudo melhore? 21 dias de mensagens obrigatórias e está resolvido o assunto... Melhora tanto que as atrocidades continuam....nos 21 dias.

O que é preciso acontecer para isto mudar? É que não sobra ninguém. Nem em Hollywood, com Espstein, Weinstein, etc, nem na Casa Branca, com Trump, Clinton, nem nas famílias reais, com ex-príncipe André, ex-rei de Espanha, Juan Carlos, etc. Nem vamos ao mundo religioso porque ficaríamos aqui dias a fazer a lista.

Estou incomodada com a incapacidade legal, jurídica, política, social, humana do ser humano. Construir uma sociedade e não saber o que fazer com ela. Que triste! Que pobreza!

Ana Santos, professora, jornalista

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Imagem retirada do site Blend Edu