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OH, OH - OOPS! / Natal Bug


OH, OH - OOPS!

Oh, oh, oh, é Natal! Mas, oops! Que Natal estamos tendo? Eu não tenho filho, quando muito, afilhado – mas sou assombrada com o que restará do mundo no futuro dele. Há no Facebook, mil anti-Gretas que vão chamá-la de pirralha, mas quando vemos a Avenida Niemeyer interditada, o mar enfurecido batendo contra as pedras, o fogo queimando a Amazônia, destruindo a Califórnia, matando defensores da natureza daqui em larga escala e quando todos falam que a Greta é “a adolescente/aborrecente chata”, ninguém sente nem um “friozinho na barriga”? Ninguém teme nem um pouquinho que ela esteja certa?

Ontem, numa exposição onde as pessoas podem circular, pisar, sentar livremente nos cenários pra ouvir histórias, eu vi crianças muito pequenas – muito mesmo, deveriam ter perto de um ano apenas – paradas, fascinadas, congeladas diante de uma atriz que apenas abriu um livro e ali começou a contar histórias. E quando ela dizia que havia um cachorro, um garotinho maior corria em busca dele naqueles elementos cênicos. Ali, estava o “Natal humano” que todos nós merecíamos – um lugar livre, onde a gente senta, anda, deita, fala, ouve, interage. E discorda. Pega a cobra ao invés do cachorro e pergunta se na história vai ter cobra. O que estamos fazendo desse nosso pedaço humano? Aquele que usa a comunicação como troca e não como forma de imposição? Como forma de conhecimento e aceitação da diferença? Alguém tem alguma dúvida de que existem gays desde que acompanhamos dados da história? Gente de todas as cores? Mulheres e homens? Mulheres que se vestiam de homens, que se travestiam? Homens que se vestiam de mulheres? Isso realmente importa ou importa mais se haverá mundo para as crianças que vi ontem e que existem aos milhões no mundo? Nós vamos dominar o clima ou vamos ser aniquilados por termos acabado com as condições do planeta gerar vida através de condições climáticas que nos permitam sobreviver?

Se fosse apenas pra dar um grito na Greta e mandar ela pro quarto seria fácil. O problema é que nós é que deveríamos estar de castigo lá dentro, reaprendendo a usar a comunicação não como uma coisa partidária, mas política; a ver o mundo sob a perspectiva do futuro e não apenas como parte de uma discussão onde “eu sou a maior porque gritei, porque obriguei”. E se os adolescentes morrerem? As crianças todas? Os velhos? As mulheres? Afinal, são mesmo os mais fracos. Os que batem no peito olharão em volta e verão... Jesus? Será que conseguiremos ver Jesus em quantos outros Natais, se os Natais acabarem por falta de clima propício para saímos de casa e irmos nos reunir para comemorar o nascimento de alguém? Como nos aquecer ou resfriar no frio da Europa e América? No calor do Brasil, da África?

Tenho um braço à esquerda e outro à direita de mim e isso é ser perfeita. Ninguém nasce com dois braços direitos, nem esquerdos – isso é o senso comum, é o que vemos andando na rua, somos nós. E se nem vemos que é normal discordar, veremos o Planeta ir acabando? Porque é claro que para o deleite dos que não se comunicam, a Terra deve mandar um documento com alguns meses de antecedência – claro que fora da Conferência do Clima porque isso é apenas retórica – avisando que o mundo vai acabar. E entrar na fila da burocracia. Com paciência. A paciência dos que não têm dinheiro.

Mas ontem, ontem eu vi crianças e não me importei de cogitar de onde elas vinham, se eram ricas ou pobres. Eram apenas crianças ouvindo e interagindo com histórias, pegando cobras e perguntando se elas poderiam ser trocadas por cachorros. E meninas pegavam capas e perguntavam se os adultos queriam ouvir outras histórias diferentes, talvez de bruxas, monstros – as 3 capas eram pretas e pareciam de bruxas, pelo menos pra minha imaginação! Mas a Greta, a Greta está dizendo que é uma vergonha que talvez não deixemos um mundo pra ela viver, ter filhos e lhes contar histórias. Nós ainda pensamos em histórias? Falamos? Trocamos? E Jesus nasceu para quê? E morreu com qual objetivo? Ele era o “desajustado” que falava que todo mundo era irmão, lembram disso?

Será que vai nos bastar ouvir, no futuro: “Perdoa-lhes Pai porque eles não sabem e nunca souberam o que faziam”?

Bom Natal.

PS: Nesse Natal, por favor desliguem seus celulares e curtam a presença um do outro. Se a Greta estiver certa... Oops!

ANA RIBEIRO, Diretora de teatro, cinema e TV.

Natal Bug

O cheiro de pinhas no forno de lenha avisa meu cérebro que está chegando o momento. Também me avisa do frio nos dedos dos pés com a ponta do sapato que é sempre a última a secar. Ou a molhar de novo e de novo. Não tenho nem tempo para pensar nisso, apesar da minha garganta começar a doer um pouco. Este ano já vi qual a zona do muro do vizinho da frente da nossa casa que tem o musgo mais fofinho e desenvolvido para o chão do presépio. Se me chamarem para esse momento já posso ajudar. É a parte que mais amo. Temos de ter muito cuidado para não partir os pedaços grandes. Fica mesmo sensacional quando conseguimos tirar os pedaços maiores sem quebrar. Depois, não sou muito de ficar montando o presépio. Somos tantos que nem sei quem o termina. Mas que ele fica bonito, fica. Coloca-se do lado da televisão a preto e branco e de um canal. Não dá para colocar junto da lareira porque este ano temos a Sagrada Família nesse espaço. Uma destas noites vamos ter de rezar todos junto da Sagrada Família, na salinha pequena, antes de dormir. Somos uma família de ruídos, de palavras. Quando estamos em silêncio sinto medo e na hora que rezamos com a Sagrada Família é um desses momentos. Tudo muito sério, muito silêncio. Meus pais ficam com uma cara muito pesada, séria, preocupante. Não gosto de os ver assim. Espero ser eu a levar a “caixinha religiosa” à casa da família seguinte. A única forma de poder caminhar depois de escurecer na aldeia. Gosto muito. Ninguém na rua, eu, a escuridão, o silêncio e o mundo em paz.

O momento de ir buscar água na fonte com os garrafões pendurados na bicicleta, adoro. E este ano a fonte melhor é a que está dentro da floresta. É mais longe mas é uma maravilha. O silêncio da floresta é sereno e aconchegante. O Natal da natureza é maravilhoso.

Tem o momento em que meu pai chega com a árvore de natal, com pinhas, com pruma. E estes últimos anos as pinhas estão sempre cheias de pinhões. Cheias. Isso significa que vai chegar para todos sem preocupação. Não esquecer que eles entram nos mexidos, nos pratinhos de frutos secos que enfeitam a mesa. Mas mesmo assim vai dar para comer um, de vez em quando, enquanto quebro as cascas de todos. Uma delícia.

Novamente não sei se vou ter tempo para escrever uns pensamentos. Tenho essa paixão, mas nem sempre o tempo. Muitas coisas para fazer, muitas pessoas para conviver. Será este o ano?

O momento da noite que ligamos para a Marconi para agendar ligação para a família fora do país. Pode demorar mais de uma hora, mas depois é uma delícia. Todos nós em volta do telefone e meus pais e tios falando com os de lá, desejando boas festas. Um dos momentos que nos une mais. Com silêncio mas me sinto melhor neste silêncio. Meus pais sorriem. Todos sorriem.

O Circo. Não posso esquecer do Circo. O Circo Monte Carlo, do Mónaco, na televisão, um dos momentos da época. Sensacional, apaixonante. Um dos únicos momentos na vida que meus pais aceitam mudar os hábitos ou regras da casa para podermos assistir.

Também é uma época de muitas visitas. Muitas pessoas vêm desejar Bom Natal ao avô, aos meus pais, minhas tias. É uma festa. Um momento em que os mais velhos parecem mais jovens, parecem crianças alegres e entusiasmadas com a vida. Sem preocupações.

O momento de partir as cascas das nozes que foram apanhadas no quintal, deixadas a secar desde o ano anterior. Esse momento é muito fofo porque se conversa muito. Muito. A gente ri, a gente entristece, a gente recorda pessoas, momentos. E se for um ano especial, falamos e decidimos coisas importantes que vão ser importantes na vida de todos.

Durante o dia 24 e 25 de dezembro sempre que alguém se recorda, cantamos o refrão de uma música de natal muito antiga: “Olhei para o céu, estava estrelado, vi o Deus menino em palhas deitado, em palhas deitado, em palhas estendido, filho duma rosa, de um cravo nascido.” É sempre uma alegria.

Dias de cozinha cheia, de tarefas, de panelas, de movimento. De amor.

As ruas com música de Natal. Concertos de música clássica na rua, no frio. E fica tão quentinho viver um desses momentos. Meninos tentando aprender a patinar no gelo. O Bolo Rei e o Bolo Rainha, as rabanadas, o bacalhau, o azeite, o amor, a família. As tuas raízes, a tua cultura, a tua casa. O coração descansa baloiçando numa rede baiana.

Por vezes, junto da porta de casa “as janeiras” acontecem. E acontece magia. Quadras natalícias, entrelaçadas com o nome do dono da casa e a gentileza da amizade. Um encanto.

Momentos parados no tempo para sempre. Uns se repetem, outros se recordam. Jamais esquecidos. Presentes da vida, presentes em nós. Ter vivido é uma riqueza. Viver, outra. E desejar o futuro, outra. A vida muda num instante. Obrigatório aproveitar, saborear, sentir. Se este é um dos momentos bons, aproveitar, se este é um dos momentos menos bons, aguardar e recordar.

Bom Natal

Ana Santos, professora, jornalista


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