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2 Contos sobre 11 de setembro


Conto “UM SÉCULO QUE NÃO DEVERIA TER COMEÇADO ASSIM”

Tic tac, 8 da manhã, um cafezinho de mais um dia de setembro. Que dia, mesmo? 11. 11 de setembro. De repente, tudo deixou de ser compreensível.


Trim!


- Vocês viram o avião que bateu no World Trade Center?


- Como assim bateu? Não é algo difícil de se enxergar de longe, né?


- É... mas bateu assim mesmo.


Corri para a TV e já dava em todos os canais. Um dia de sol como os da Bahia, mas com um avião entalado no prédio.


- Não viram um prédio de mais de cem andares? Que espécie de barbeiragem é essa?


E no meio dessa conversa ainda meio pueril, vi quando apareceu no canto da tela da Tv o segundo avião, vi quando se inclinou e buum! – explodiu na segunda torre.


Silêncio na vida. Black out total de pensamentos. O que era aquilo? Qual significado tinha, que repercussão, então não era um acidente? Tudo ficou desencontrado ali e continua assim. Guerras novas com motivos antigos, bastante ambição e golpes onde os americanos sempre acham que se deram bem, pra o tempo mostrar que se deram muito mal.


Tic, tac. 20 anos atrás, meus olhos não conseguiam se descolar da tela da TV – e a marca do novo século – a queda das torres – criou novas consequências que talvez terminem com o que o Talibã fez com as mulheres de hoje, sem ninguém esboçar nem um ai, ai, ai, machões malucos.


Tic tac e o mundo se polarizou. Saiu o Bush – péssimo - entrou a brisa inteligente de Obama. Nenhum deles pensou nas mulheres do futuro. Nem as mulheres pensaram naquelas manas – como se os americanos soubessem fazer o que fazem...


Tic tac e o mundo aprendeu a mentir descaradamente nas redes sociais, inventou nomes bonitos pra gente mentirosa e arruaceira, pra fofoca e maledicência. Tic tac e lá vem o Trump descendo a ladeira, as torres gêmeas viraram um lugar de visitação e todos se esqueceram que ainda havia soldados no Afeganistão, escolas, pequenas mudanças. Que havia mulheres por ali. ¨Tic tac. Mulheres na escola, nos times, no trabalho. Tic tac e as mulheres faziam de novo parte da vida. Tic tac, tic tac. Não fazem mais.


Bin Laden mudou o século sem bombas, 3 aviões e muita maldade dentro de seu coração doido, radical. Tic tac. O Brasil tenta inventar uma instabilidade política para ignorar que a gente tropeça em 600 mil mortos e milhões de pobres abandonados pelo Governo. Tic tac. Por aí tem um mortinho, uma cova, uma risada louca, uma língua deformada falando à Nação como eu vi na tela da TV Bush falando, Obama falando, Trump logorreico como sempre e uns brasileiros ridículos escrevendo em inglês na manifestação mais cafona da história do mundo.


Cachorros loucos passam andando no Afeganistão, na América, no Brasil. Não que não se queira meter uma pedra no cachorro, mas apenas... é melhor deixar que eles passem, ligando pra “carrocinha” vir pegar os cães, antes que eles matem um inocente útil.


Tic tac. Em meio aos discursos “embromativos” de sempre, para justificar os erros de cálculo que não consideraram as consequências que marcaram a morte de Saddam Hussein, a expulsão dos Talibãs do Afeganistão, a volta dos cachorros loucos Trump e seus extremistas de chifres invasores de Congresso, greve de caminhoneiros incentivada por um presidente que não sabe o que fazer para desfazer, vida, morte, covid, vacina, indígenas abandonados, Amazônia violada. Tic tac. Que cenas...


Clic. Controle remoto maldito esse da vida, credo.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


Conto "11set01"

Tinha terminado o almoço e estava a arrumar a mesa da sala e a lavar a louça na cozinha. Ligou a televisão enquanto estava nessas tarefas. Queria ouvir um pouco das notícias do dia. Dali a uma hora era hora de sair de novo para o trabalho e gostava sempre de saber o que estava acontecendo pelo mundo. Na verdade, nem estava prestando muita atenção porque estava mais tempo na cozinha e a televisão estava com som baixo.


Quando terminou tudo, se preparou para sair. Gostava de ir mais cedo para não ter problemas com trânsito ou com alguma conversa surpresa com vizinhos. Passou pela sala para apagar a TV. Nesse horário o jornal da tarde já devia ter terminado e com certeza devia estar a passar um daqueles programas da tarde bem aborrecidos.


Olhou para o écran da TV e viu uma imagem estranha. Não entendeu logo de primeira. Via um prédio enorme deitando muito fumo pelo meio. Seu dedo já estava quase desligando a Tv nesse instante, mas parou para tentar entender. Palavras em vermelho: Urgente, Avião foi contra edifício, Nova Iorque. Tinha outro edifício do mesmo tamanho, mesmo do lado. Nossa, que incêndio terrível, pensava. Enquanto tentava aumentar o volume para saber mais informações percebe que algo se move no ar. Parece uma ave. Não, é maior. Nossa...quando “isso” fura como manteiga o outro edifício, percebe que é um avião. E nesse instante, na sua cabeça tudo se torna ainda mais esquisito, mais estranho, mas totalmente intencional. Não, não é acidente. Como é possível? E a loucura da realidade se instala. Dois aviões intencionalmente, embatem nas torres gêmeas. Um dos símbolos da cidade e um dos locais com mais serviços, mais pessoas, lotado de empresas poderosas.


Sente um mal estar, um alívio, uma pena, uma culpa, tudo misturado. Precisamente no ano anterior, também ela fez viagens em aviões daquelas companhias, fez viagens naquelas linhas áreas, com os mesmos destinos. Lembra que eram aviões com cadeiras bem estreitas e que um simples refrigerante já tinha de ser pago em dinheiro. Era a primeira companhia área a impor taxas e preços para consumo, no avião. Em 2000, isso era tão estranho que ela nunca mais esqueceu. Imaginou-se no lugar daquelas pessoas. Ela podia ter sido uma destas vítimas. Simples assim. Sem ter a mínima hipótese de evitar. Não foi. Está indo para o seu trabalho e no final do dia vai ao cinema. “Vida louca, Vida. Vida breve”(Cazuza).


O destino? O Karma? A sorte? Não sabe o que é. Como a vida generosamente a poupou e não o fez com pessoas como ela? Se sentiu muito próxima daquelas pessoas. Das que morreram, dos seus familiares. Percebeu mais uma vez que não controla nada. Nada. Quando algo tem de acontecer, o mundo dá voltas e voltas e acontece. Por estranho que possa parecer. O que parece seguro, parece. O que parece eterno, parece.


Desliga a televisão e vai para o trabalho. O cinema vai ser noutro dia porque quer voltar logo para casa para ficar colada na televisão. Sente que algo vai mudar e precisa se preparar.


“Vida louca, Vida. Vida breve” (Cazuza).

Ana Santos, professora, jornalista

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