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2 Contos Atuais

Atualizado: 13 de dez. de 2022



Conto “QUE NOJO DE HOMEM ASSIM!”

Ali estava ele: Se sentindo um Deus romano, com seu nome romano, naquele corpo, com aquelas palavras...

- Safadas. Como um cara de mais de 70 anos pode manter - com essa pose de safado - a maior cara de pau do mundo?

Olhou de novo sua performance no YouTube – cínico, ordinário, com aquela boca caída e tratando todos os presentes com altivez e ignorância... Ele pensa que pode – que alguém pode – tratar uma pessoa como se pudesse castigá-la apenas por existir e assim o importunar?

- Criminoso é você, seu verme... Coloca aí a sua gravata e já se sente superior para exercer sua sordidez... Seus subordinados “não rastejantes” devem sofrer toda a sorte de abusos – igualzinho ao que seu chefe fez durante seu tempo na liderança das nossas vidas.

- Mas acabou! Fora da nossa vida! E você vai ter que dar depoimento sim! Vai ter que se explicar! E tomara que dessa vez você pague crime por crime.

Sentada na cadeira, viu o escândalo das próteses penianas para os “velhinhos tarados” se divertirem. Todo mundo passando fome e eles com aquela justificativa asquerosa de que “os velhinhos também precisam se divertir”.

Qualquer mulher do mundo os conhecia de longe. Sim, os “saidinhos”: piadinhas grosseiras, indelicadezas, frases que nem no botequim mais pé sujo a gente ouve. E quando olhamos feio, lá estão aqueles “olhinhos brilhantes” completamente nojentos... Qualquer mulher já viu por aí esse tipo de homem (são bem comuns, infelizmente): o avô ou o pai taradinho da sua amiga, o militar aposentado, o machão arcaico que não se aguenta, sem agredir o gênero feminino com palavrões e suas... piadinhas... tocando na gente sem autorização – com aqueles “olhinhos libidinosos” que fingem ingenuidade...

- Lá estava ele, fugindo de responder perguntas, enquanto seu chefe se escondia encostado às paredes, chorando pelos cantos...

- Super machos, hein? Mas quando a coisa aperta... Que nojo de vocês...

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


Conto “A Rainha do Futebol”

A vida da Ana está uma complicação. Cansada, noites mal dormidas, preocupações, raciocínios, problemas, análises, eu sei lá mais o quê. Não quer e não pode perder pitada do que acontece na Copa do Mundo. Ela se sente gente de verdade nesses momentos. Fala a linguagem do mundo, faz parte, sente que domina o mundo, que sabe mais do que muitos, muito mais do que jogadores e muito mais do que técnicos. Assiste conferências de imprensa, entrevistas, jogos, programas esportivos, relatos de futebol, estuda esquemas táticos, analisa substituições, cartões amarelos, foras de jogo, pesquisa sobre treinadores, fisioterapeutas, etc, etc, etc. Sua vida é cheia, lotada. O trabalho verdadeiro está em “stand by”, mas não tem problema porque seu patrão é seu pai e ele segura a barra. É rico e tem um negócio que não depende dela e do trabalho bom ou mau dela, e Ana se sente feliz assim.

O que importa é analisar tudo e estar no auge dos comentários e saber mais do que todos. A sua seleção ganha? Está tudo bem mas não deixa de apontar isto ou aquilo, afinal sempre tem algo errado, algo que ela faria melhor. Porque aquele jogador jogou? E porque aquele não jogou? Porque o jogador falhou? Porque o jogador não estava “ali” e afinal estava “aqui”? Porque a seleção não tem psicólogo? E porque tem psicólogo? E porque treinou de manhã? E porque não treinou de manhã? E porque o treinador não ficou com os jogadores? E porque ficou? E porque o jogador saiu antes dos colegas? E porque se riram tanto? E porque dançam? Que maravilha! Um mundo cheio de coisas para criticar.

Não gostou que o “seu” melhor jogador tivesse sido suplente. Sua seleção venceu, fez um grande jogo, mas mesmo assim ela tinha que encontrar o que apontar. E em vez de defender sua seleção, ataca tudo e todos. Todas as coisinhas. É o seu momento, finalmente ela é a melhor, ela é quem sabe, ela é a poderosa a sabichona, a “sabona”.

- Mãe?

Seu filho está na sua frente, de pé, com a fralda tão suja que o cócó e o xixi vão pingando pela casa. Cara e mãos num estado preocupante.

- Mãe? Mãe? A gente vai comer hoje?

Ana ouve uma voz bem longe. Está ouvindo uns jogadores antes do jogo e outros depois do jogo, as redes sociais. O tempo não chega para tudo e ela precisa de saber, saber, saber, opinar, opinar, opinar. Como o mundo é tão fraco, como os jogadores não sabem nada de futebol, como é possível que não saibam jogar como ela sabe? E treinar? Ela é que sabe! E falar? Ela que sabe! Que mundo infeliz onde ninguém é capaz de saber e decidir como ela. Ela quer ser ouvida, ela quer que saibam que ninguém presta, só ela é, só ela sabe.

Tem noção que existe uma pequena diferença, um mínimo detalhe: sabe tudo sentada no sofá, afinal está com peso a mais, as costas doem, tem uma unha encravada e nunca entrou num campo de futebol, nem no gramado, nem na bancada. A casa está num estado deplorável por falta de limpeza, na cozinha um monte de louça suja. Mas que diferença faz isso? Nenhuma. Claro que nenhuma. Só faltava agora dizerem que ela não presta, nem presta o que diz ou pensa por causa desses pequenos e insignificantes detalhes da vida.

- Mãe? Mãe?

Tem uma criança na frente dela. De repente recorda que tem um filho e que ele está na sua frente, todo borrado, carregando um cheiro bastante forte e bastante desagradável. Logo agora que é o momento dos pênaltis.

- Oi filho. A mãe já vai brincar com você viu? Só está terminando um trabalho aqui e já vai.

Ana Santos, professora, jornalista

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