Tamanho único é um espetáculo que certamente não tem um só tamanho, não tem nada dos saberes pasteurizados e propõe – praticamente expõe – a dança como mais um elemento que quer e precisa se comunicar de outras formas para além do que os corpos humanos são capazes de expressar.
São 9 coreografias, das quais a plateia deve assistir 7. São sorteadas e sorteáveis, o que faz com que “apostadores” possam ir ao ICBA jogar e ver se conseguem ver as 9 em dias salteados. E passando por este único impedimento, Tamanho Único é único... Primeiro porque expõe de maneira clara que lindos corpos têm o dever de mostrar ao público o que significa o amadurecimento, a idade, o envelhecer, sendo belo, harmônico, energético, pulsante.
Portanto, deste ponto de vista, Tamanho Único tenta fugir do lugar comum da sociedade que quer se mumificar, fazer lifitings, botox, preencher, preencher... Pois a harmonia, a sincronia, o ritmo, a mensagem em cada coreografia preenchem muito mais, por preencherem a alma de quem esteve lá.
Com enorme naturalidade você percebe ao final da coreografia 1 o quanto esteve tenso até ela acabar. E se perdoa por relaxar e usufruir.
A qualidade do mix entre dança e cena – separados em inúmeras coreografias – dão o toque de surpresa que cada espetáculo deve ter. Adorei o contorno da coreografia tempo, adorei a sinergia de alguma coisa a ver com as palavras, adorei a simplicidade tônica de é só isso, adorei a força de pacífico, adorei, adorei, adorei. A única ressalva que devo fazer porque esbarra exatamente no que faço e sempre fiz, que foi modelar a melhor forma de dizer as coisas é: se o bailarino quer falar, deve falar. Mas como todos os que falam, deve aprender a falar. E foi uma sucessão de coisas que foram faladas e que não compreendi, que insistiam em me fugir por ali ninguém ter trabalhado as direções para onde seriam faladas. E sem núcleos sonoros definidos, intenções, respirações, pausas e suas relações com picos dramáticos se perderam momentos que deveriam ser mais selvagens ou fortes, ou agressivos, ou, ou, ou... apenas se perderam mais grandes momentos, entre tantos que eu vi. Aponto a beleza da fala de Dina Tourinho – se ela tivesse dominado a forma de dizer, poder-se-ia ter criado uma fala gigante num corpo pequeno, uma antítese – um soco no estômago daquela mãozinha...
Vale à pena ver. Vale à pena ver. Vale à pena ver. Vale à pena ver. Vale à pena ver. Vale à pena.
Ana Ribeiro - Direção de Teatro, de Cinema e de TV
Um formato de espetáculo interessante, diverso, inquietante.
9 mensagens, 9 tentativas de comunicar, 9 formas de ver o mundo.
Precisamos mais disto, de nos mostrarmos, de partilharmos o que cada um vê e diz sobre o que nos rodeia. As diversas formas de comunicar se misturam, se ajudam: movimento, fala, objetos, cenário, figurino, interação com o público. A vida nos mostra que existem muitas formas de comunicação e você vai experimentando e tentando usar todas as formas que pode para falar com os outros, para partilhar, para pedir ajuda, para viver. E aqui tem uma entrega corajosa e nobre do que cada um é, do que cada um tem a dizer.
Quando um corpo aprendeu a base e os significados de cada movimento, como estes bailarinos profissionais, você vê muita vida vivida nos seus corpos. Muito caminho. Muito a dizer. Com as ferramentas afiadas, afinadas, adequadas. Como é bom ver corpos fazendo o que aprenderam tão bem. Parece tão fácil, como tudo o que é difícil.
É muito bom vê-los sem serem repetidores, criando e assumindo sua mensagem. Você talvez goste mais de umas mensagens do que de outras, mas não é assim a vida? Mas vai amar todas!
Ana Santos - Corpo
Até domingo, dia 29 de julho de 2018, no ICBA - Salvador/BA