Faça uma viagem pela beleza da Bahia com a exposição “Héctor Bernabó: O Carybé da Bahia”, no Museu da Misericórdia – Pelourinho.
Do outro lado da rua a exposição de Pierre Verger. Você pode fazer uma manhã ou tarde cultural de uma riqueza dobrada. Como os dois eram muito amigos, ainda fica mais adequado fazer as visitas no mesmo momento.
Conhecer a cidade de Salvador é também conhecer a obra de Caribé. Desde a casa de Jorge Amado - agora museu, a grade que rodeia o campo grande, os painéis inacreditáveis de orixás expostos no Museu Afro-Brasileiro, na antiga Faculdade de Medicina, etc, é impossível não amar a sua obra. E esta exposição vem somar a algo que já consideramos raro.
Pinturas intensas, com técnicas diversificadas, de traços simples e, principalmente, extremamente descritivas do que era a Bahia e do que são as características ainda deste lugar tão particular.
Traços simples que definem com clareza, misturas de cores que iluminam nosso pensamento. Olhar estas obras é respirar ar puro e pairar sobre o encanto.
Pinturas sobre o Candomblé, que de tão intensas, espelham bem o que se vive e o que se sente nesses terreiros e nessas cerimônias. Os traços simples e coloridos que quase cantam a Bahia.
Parece tão fácil pintar quando se observa obras tão incríveis assim. Parece tão fácil amar a Bahia quando se vê tanto amor em telas pintadas que parecem dançar e cantar quando as observamos.
O lugar escolhido é também incrível. O Museu é lindo e acolhedor, com profissionais que nos fazem sentir em casa.
Muito grata!!!
Ana Santos, gringa, professora e jornalista
É um choque entrar no Museu da Misericórdia e logo no Átrio dar de cara com obras e mais obras de Caribé. As primeiras, escuras – uma coisa estranha pra luminosidade que ele costumava criar às pinceladas. Mas, passo a passo, a gente vai se misturando a uma das melhores percepções que alguém teve da Bahia – muito mais clara, pessoal, emocional e emocionante do que muitos olhares nativos. Caribé tinha um olho único, um traço, uma relação espacial incrível e que aparece de maneira sensacional nos ângulos que ele cria entre redes, pessoas, berimbaus, capoeiristas.
É um assombro. E mais assombroso ainda foi estar lá ao meio dia, o sol no meio do átrio, a luz da Bahia te acompanhando, enquanto você caminha pela sombra e vê – e se vê entre – orixás, axés, energia, traços e braços firmes, fortes, luzes, iluminação, energia – Bahia. Mas a força do traço não rouba a simplicidade que ele tem. Como o movimento do passo do cavalo pode ser conseguido com aquele tracinho único, puro, aquela angulação que prevê a orelha naquele lugar... Que não desenha anatomicamente, mas aponta o lugar pra imaginação da gente ver, brilhar.
Ao final de 30, 40 minutos, eu e a outra Ana saímos melhores do que entramos. Quanto tempo levamos para melhorar como pessoas, apenas com o uso dos olhos? Daí atravessamos a rua e encontramos o outro amigo. Aquele que faltava pra completar o olhar único que os mestres deixaram. O olhar de Pierre. O Verger.
A exposição de Caribé é um luxo. E quem não for, vai perder.
Ana Ribeiro
Diretora de teatro de teatro, cinema e TV.
Nota: as fotos que estão nesta crítica não são as pinturas mas parte de cada uma.