Eu amo drama. Drama bem feito então... Num sábado de aleluia de um ano eleitoral no Brasil poder mergulhar no universo de Gregório de Matos e entender sua alma conturbada foi bendito e maldito. Bendito porque a gente só ouve falar de Gregório e seus palavrões, grosserias e tudo o que ainda hoje somos obrigadas a ouvir em inúmeras rodas sociais, aqui e vê-lo em toda a sua energia, com todo o seu sofrimento, sarcasmo e rebeldia foi maravilhoso. Maldito porque, mesmo sabendo que o cara viveu em meados do século XVII, não consegui me afastar da realidade que ele descreveu, o que me empurrou pra um lugar que há 3 séculos busca solução para os mesmos problemas - serão os Fs de furto e foda, coisas permanentes entre nós? Um karma insolúvel?
Ainda não falei nada do ator? Ricardo Bittencourt apontou para o lugar certo em muitos momentos e talvez apenas a clareza articulatória tenha perdido para a quantidade de informações biográficas enquadradas no tempo em que o espetáculo se passou - algo perto de 1 hora. A opção pelo hard rock foi perfeita, maravilhosa, incrível - Gregório teria amado a escolha. E o dueto entre Ricardo e o guitarrista foi perfeito, incontestável.
No final do espetáculo estava chorando de frustração absoluta porque se antes Gregório apontava o dedo em riste para a Bahia, agora temo que ele estaria surtado ou suicidado por aí, dado o número de Bahias que hoje cabem no Brasil... o que matará a praga dos puxa sacos, totalmente desajustados de quem somos enquanto povo, pendurados nas "bolinhas" dos políticos, que saem com as pernas abertas arrastando essa gente por aí?
Brasil: PRE-SEN-TE! Obrigada Gregório! Obrigada Ricardo!
Ana Ribeiro - Voz, Direção de Teatro, Cinema e TV
Ser portuguesa e assistir a uma peça sobre Gregório de Matos leva o pensamento imediatamente para Bocage. Dois excepcionais "malditos"! Se quisermos ficar pela rama são duas hipóteses de humor, como as anedotas sem fim de Bocage em Portugal. Mas, se quisermos sentir a alma rasgar, visitamos a exposição enquanto aguardamos e na peça vamos sentindo que o tempo foi o único que caminhou. Tudo o que Gregório de Matos criticava, permanece. Porque vivemos séculos vendo as coisas erradas permanecerem? Porque não fazemos nada?
Como gostava de conversar, desabafar e pedir conselhos a Gregório de Matos.
Cenário minimalista, gosto. A forma como o músico faz parte e todo o seu corpo moderno, adorei. Ricardo Bittencourt, experiente, texto difícil, longo, diferentes ritmos, bem acompanhado pelo corpo. Um Senhor! Pessoalmente prefiro um corpo menos formal e menos clássico, mas me prendeu a peça toda e me fez viver um momento importante. Lhe agradeço.
Queremos agradecer a gentileza de nos cederem dois ingressos para assistir à Vossa peça. Muito Gratas! Sabemos que os bilhetes são fonte de rendimento direta ou indireta e por essa razão ainda somos mais gratas pelo gesto. Assumimos o compromisso de, em troca de ingressos, fazer a crítica do espetáculo, algo que não existe em Salvador.
Ana Santos - Corpo