Mais um filme que te incentiva a quebrar a sua caixinha de lógica e tentar entender o funcionamento de uma mente como a de Antonio Ligabue – chamado de demônio, doido, internado, menosprezado, inferiorizado, não reconhecido, depois de ter enlouquecido de tanto ser humilhado, espezinhado. E foram muitos e enormes sofrimentos mentais, emocionais, espirituais.
A atuação de Elio Germano é memorável. Memorável mesmo. É, talvez, o que fica de mais pregnante do filme – sua interpretação. Mas ela não destoa da montagem, dos cenários, dos elementos cênicos – o filme é muito bem produzido e aquele “toque over” que vemos nos filmes italianos casa com a crueldade da história, que pra piorar um pouco foi baseada em fatos reais. No mundo, somos mesmo imbatíveis em crueldade.
Pra aquelas pessoas que acham inadmissível não “terem a palavra final” sobre a vida, o filme A VIDA SOLITÁRIA DE ANTONIO LIGABUE é mais uma aula grátis sobre o fato indiscutível de que ninguém tem o direito de taxar, etiquetar e a partir daí tentar destruir o alguém diferente – qualquer diferente. Nesse caso, a diferença é que Antonio Ligabue era um gênio. O mundo está lá no seu fluxo e, de repente, ao ver uma pessoa que age, pensa e vê o mundo diferente de você, ao invés de se aproximar pra tentar ver que mundo está ali naquele caleidoscópio, não – você vai lá e tenta quebrar o caleidoscópio - porque o seu é melhor. Vemos isso todo dia – alguém diz que não vai dar o dinheiro da cerveja do guarda ou quer denunciar uma compra desonesta e aqui no Brasil arca com ameaças grotescas porque o normal é você se render que é assim mesmo.
Antonio Ligabue imitava os olhares dos animais, suas posições de ataque e depois os punha em óleo sobre tela. Nós podemos dizer que achamos errado, que não vamos mais tolerar qualquer tentativa de coação de ninguém. Nós podemos olhar um brasileiro verdadeiro – honrado, sincero e aberto – e imitar seus passos, deixando a macaquização dos puxa-sacos na lata do lixo. Quebrar a caixinha das vaidades em mil pedaços.
O filme pode lhe dar sobrevidas, coragem. O filme pode reafirmar que o seu espírito arredio está certo e que mesmo parecendo loucos, podemos querer ser honestos sempre. O filme pode lhe assegurar que quando optou pelo amor, você estava certo e que a vida é enfrentar com coragem o que o seu amor lhe traduz na alma.
Pode ser um filme triste por um lado, mas A VIDA SOLITÁRIA DE ANTONIO LIGABUE é incrível, espiritual e estimulante, muito mais do que triste. Porque você pode enlouquecer sem se deixar abater, sem se omitir ou omitir nada.
Basta amar e se entregar.
Eu amei o filme.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O diretor, nos coloca imediatamente perante o percurso de maus tratos psicológicos e físicos que LIGABUE, um dos maiores artistas italianos do século XX, sofreu na vida. É um choque. E não mais largamos o enredo, de uma vida real. Repito, um filme sobre o que aconteceu com uma vida real. Uma vida que será conhecida para todo o sempre pela sua genialidade em pintura e escultura. Mas que poderia ter sido uma vida de alguém desconhecido, como tantos. E, pensar, que um ser humano pode e é tratado assim, é inacreditável. Precisamos melhorar tanto como seres humanos...
Um filme incrível, um ator incrível, um filme importantíssimo a ser visto. Vai passar num instante. Começa e logo é feita uma ligação afetiva com o público. E não queremos largar o filme enquanto ele não termina. E precisa ser conhecida esta vida, este percurso, este artista. E precisa ser conhecido, como se trata alguns seres humanos. Como as pessoas muitas vezes nem percebem o efeito nocivo que existe nos seus comportamentos com outras pessoas.
É assustador como a vida “tem de ser”. Uns de nós parecemos protegidos pela vida e tudo o que desejamos, de alguma forma o universo conspira, para que o alcancemos. E outros, parecem ter de atravessar calvários e, desses, só alguns conseguem se fazer entender, comunicar, mostrar a sua genialidade. Quantos se perdem pelo caminho? Quantos, por conta dos nossos preconceitos e “achismos”, não podem viver dignamente, nem desenvolver os talentos e genialidades que possuem dentro de si?
Lhe digo, pessoalmente, que deve tentar ver este filme. Importantíssimo. Se gosta de arte, é um filme obrigatório. Se é apaixonado pelas questões sociológicas, psicológicas e emocionais do mundo, imprescindível. E depois, se quiser conhecer melhor sua obra, basta dar uma pesquisada no google e levar um susto. O maior impacto para mim foi com suas esculturas – gênio.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
Diretor: Giorgio Diritti
Elenco: Elio Germano, Oliver Ewy, Leonardo Carrozzo.
Sinopse: A vida de Antonio Ligabue, um dos maiores artistas italianos do século XX vivido por Elio Germano com uma interpretação que lhe valeu o Urso de Ouro de Melhor Ator em Berlim. Antonio vive durante anos em uma cabana sem nunca ceder à solidão e à fome. O encontro com o escultor Renato Marino Mazzacurati é o início de uma redenção.
Link de IMDB
https://www.imdb.com/title/tt8478554/?ref_=ttrel_rel_tt
Festa do Cinema Italiano