Pra quem é capaz de abrir mão da prisão da sua lógica, é um filme adorável. Tem a explosão dos filmes italianos e, à medida que a gente se entrega a uma nova forma de ver – totalmente diferente da norma social a que nos habituamos - o filme é um passeio por emoções delicadas, amorosas, ao mesmo tempo em que mostra desejos do corpo que ainda não são perceptíveis às palavras.
De novo vamos para a dificuldade de comunicação atual, que se confunde com cuidado ou falta de cuidado. De uma forma totalmente diferente, a mãe precisou de uma ausência para tentar sintonizar o seu desejo de se comunicar com o filho e não com a norma vigente. Creio que a maior parte das pessoas vê isso o tempo todo, atualmente.
Mimado e mal educado pode ser confundido com corajoso? No Brasil, parece que sim. No filme, você vê os olhares que avaliam o que é – e se é - doido ou normal. E dentro do dito ou sabido como normal, nomeamos as camadas chamando-as de fases e nos organizamos, ação a ação, reação por reação.
Se há então uma lógica pra o dito normal e o não, basta entendermos que podemos talvez perder mais tempo entendendo qual ela é ou ensinando qual é a nossa naquele momento, já que a lógica é uma estupidez apenas, se não pode ser mudada em nada.
Difícil seguir por esse raciocínio? Talvez. Mas depois do filme, nem tanto. VOLARE abre caminhos deliciosos dentro de quem estiver disposto a uma viagem onde há muitos caminhos diferentes para se chegar ao sorrir, relaxar, viver.
O jovem ator protagonista tem uma atuação incrível, que quebra e descarta padrões. Aliás, o elenco tem uma forma especial de lidar com a criação, de criar reações.
VOLARE vai surpreender e deve ser visto por todos. Porque “o que os outros vão dizer ou pensar ou falar ou cancelar” não pode ser tão vital ao ponto de te impedir de ser feliz. Mesmo com o volume da TV que aumenta de repente, quando você fala mais alto porque está animada, feliz, chateada. A vida nunca é uma linha reta. A linha reta é a ausência de batimento, é a morte.
VOLARE é vivo, grita que está vivo, incomoda por viver. É lindo.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme poético, que parece inventado. Mas na verdade é baseado numa história verídica, quer dizer, muito do que está ali aconteceu. Fica para cada um imaginar onde está a realidade. Mas isso não interessa muito porque este filme nos mostra como a vida pode ser esquisita mas bela, estranha mas feliz, diferente mas intensa. Uma criança “diferente” estimula os adultos a olharem a vida de uma forma mais verdadeira, talvez por não existirem alternativas. Porque fazemos sempre isso? Só quando não temos alternativa é que realmente vivemos profundamente? Vincent é a luz que permite que os adultos se confrontem com o que eram, com o que são, no que se tornaram e, principalmente, no que ainda podem ser, se quiserem, se desejarem, se viverem com a explosão deste menino fofo – inteiros e entregues à beleza da vida. E, se acontecerem coisas menos boas ou não entendermos o que está acontecendo – frio. Vamos com medo ou pedimos para nos ajudarem a entender. Se entendermos e gostarmos do que está a acontecer – quente. Vamos viver tudo, tudo, tudo o que pudermos. Tão fácil a vida pelos olhos de Vincent. Tão bela a vida no seu estado puro. Sem a poluição dos adultos, achando que são maduros...
Trilha sonora maravilhosa com músicas super famosas, cantores super famosos. A canção “Vincent” de Don McLean é de conhecimento obrigatório para qualquer ser humano. Muito mais do que uma canção. E para ficar tudo completo, muitas músicas lindas italianas, ternurentas. Dá vontade de entrar no filme para dançar, para curtir o ambiente, para saborear a vida e o convívio com amigos e família – algo que desde março de 2021 deixou de existir, para os seres humanos responsáveis.
O início do filme tem uma frase que diz mais ou menos isto: “O besouro tem asas frágeis para sustentar o seu corpo. Ele não sabe disso e voa assim mesmo.” Define o filme e muitas vezes define a vida. Se você deseja muito algo, não pense se tem asas frágeis. Pense no que deseja e se esforce muito por isso. Se ficar olhando suas asas e pensando se será capaz, a vida passa...
O ator adolescente, Giulio Pranno, é incrível. Sensacional. Ele é o filme. Na vida real, este filho, Vincent, deve ser uma pessoa incrível que adoraria conhecer.
O diretor, Gabriele Salvatores, doce e sensível, que observamos nas suas entrevistas um gênio, se olharmos para a sua filmografia. E para além disso tudo, um sorriso fabuloso que diz muito de si e da sua bondade.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações
Sinopse: Quando Vincent vê sua mãe Elena chutando o estranho que acabou de aparecer na porta deles, ele não tem dúvidas: esse é seu pai. Vincent decide ir embora quando vê seu padrasto Mario culpando-a por deixar o estranho entrar. Ele entra no carro do estranho sem saber seu novo destino.
Diretor: Gabriele Salvatores
Elenco: Claudio Santamaria, Valeria Golino, Diego Abatantuono, Giulio Pranno
Link de IMDB
https://www.imdb.com/title/tt8365398/
Vincent (Starry Starry Night)
Don McLean
https://www.youtube.com/watch?v=9tCZc_uWYIk
Entrevista com Gabriele Salvatores e Giulio Pranno
https://www.youtube.com/watch?v=41_dunbbKjw
Festa do Cinema Italiano, 17 a 27 de junho, online e gratuita