As palavras de Julia Duailibi definem muito bem o filme: é a narrativa dos fatos que todos vimos por pequenas frestas das grades – e eu complemento: por isso tanta coisa perdemos. Haveria muito por dizer, mas talvez eu pergunte exatamente o que não está no filme: o que acontece quando um juiz – aquela figura máxima de autoridade e credibilidade – falha com você? Porque por acreditar nessa dos juízes, acreditei na fala do atual senador Sérgio Moro. Mas...
A compreensão de uma injustiça pode ter muitos contornos e certamente o melhor filtro que a história nos dá é mesmo o tempo. E o que nos diz Iroko, o orixá do tempo? Quando o Lula prisioneiro olhou para a imagem de Xangô – o orixá da justiça – e lhe perguntou o que ele deixou de fazer, já que ficar preso era tudo o que ele não queria, não podia, era tudo o que considerava injusto, se poderia imaginar que a machadinha de Xangô, o seu Oxé, devolveria a sua liberdade envolvida numa campanha eleitoral vencedora? Que seriam os nordestinos que liderariam essa vitória, voto a voto, andando a pé contra todos os impedimentos, blitzes, montanhas de dinheiro do candidato adversário, barganhas, deslizes e toda a sorte de coisas que agora finalmente poderão ser provadas?
VISITA, PRESIDENTE fala de momentos que não soubemos, não acompanhamos. Fala de uma pessoa nordestina, acostumada à vida difícil e que talvez por isso, tenha batido o pé em torno não da importância de sair da prisão, mas de sair de lá com o nome limpo. O fato principal é que, ao limpar seu nome, o nome do atual senador Sérgio Moro - ex ministro da justiça do candidato perdedor, um de seus “estranhos coachs de debate” – saiu da posição de juiz e “rápido como um corisco”, se assumiu como político. Saiu do armário. Quebrou o armário, aliás.
E, depoimento por depoimento, VISITA, PRESIDENTE constrói a percepção de que, para além da política, a história precisa nos contar sem máscaras, sem lados, o que aconteceu. O filme não responde, nem pergunta. Ao não fazê-lo, deixa no ar as perguntas que cada um de nós, brasileiros, devemos nos fazer.
Eu acredito profundamente na justiça de Xangô. Se ele definiu que esta seria a única forma de vencer a luta da liberdade contra a opressão, eu acredito e me curvo. Lula, o Lulinha que cuja moça pobre, paupérrima de “marré marré deci”, cantou no filminho que alguém postou no WhatsApp, é o queridinho dos pobres e dos que nasceram com o espírito livre. E isso basta. O filme não falou do meu espanto diante de tantas almas aprisionadas pela crença cega de que precise haver um salvador para a Pátria amada Brasil que não sejamos nós mesmos. Mas estou boquiaberta com eles. Com sua violência. O filme não falou, mas continuo acreditando que nós devemos ter voto facultativo no Brasil para que os senhores políticos tenham que trabalhar muito mais para nos convencer a sair de casa e votar. Mas, ao falar de Lula, VISITA, PRESIDENTE desviou meu olhar de sua trajetória, de seu quartinho de 20 metros quadrados e um basculante, uma cama, uma esteira, armário e estante, direto para os olhos dos atuais: senador Sérgio Moro e deputado Deltan Dallagnol. Quem são essas personagens? E tentando me distanciar inclusive de ideologia e partidos: quem são esses homens, quais serão suas verdadeiras intenções e pretensões e, principalmente: o que Xangô – o orixá da justiça – guardou para o final da história deles? – já que o “imbrochável” chorou, chorou e... sumiu de sua própria história, se auto imputando o castigo da covardia – aquela que o Lula não teve ao ser preso, permanecer preso e só aceitar ser solto mediante a limpeza de seu nome.
Que o presidente Lula, a partir de 1º de janeiro de 2023 nos escreva o final da sua. E eu? Eu me curvo: Caô Cabiecilê!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um milagre. Ou, como um ser humano é capaz de fazer algo que parece um milagre, que parecia impossível. Daqui a muitos anos ainda se falará de como tudo isto aconteceu. Ficará para a história. Isto e muitas coisas que têm acontecido nestes últimos 4 anos. E talvez aquilo que fica de mais pregnante é que as amizades verdadeiras e o amor verdadeiro proporcionam milagres, proporcionam esperança, proporcionam energia, estímulo, persistência e uma tremenda vontade de acreditar, de fazer acontecer o que nunca foi feito.
Um documentário do canal de TV de notícias mais importante do Brasil, a GloboNews, comparável à SIC Notícias em Portugal, mas simples, com alguns depoimentos da intimidade das relações do Presidente Lula, dos pormenores da sua vida na prisão. Tem alguns momentos muito emocionantes, nos mostra como um homem saiu melhor de uma situação bizarra, perigosa e com tudo para o destruir. O amor salva, sempre salvará. E a lealdade e a nobreza das relações humanas, de amizade, de respeito também.
Tente assistir. É muito interessante ver o ponto de vista das pessoas que ajudaram um homem muito especial a reerguer-se. Para terminar, penso num homem que quase “morreu” por perder as eleições para a presidência e imagino o que seria se fosse ele que vivesse tudo o que Luíz Inácio da Silva viveu. Após assistir a este documentário parece tudo muito romântico, mas esse período nada teve de romântico. Nem para o Presidente Lula nem para os brasileiros. Interiormente cada brasileiro está agradecido por este ser humano ter conseguido reerguer-se e voltar melhor, mais experiente, mais sensível e cheio de energia. Graças a Deus, cuidará da verdadeira Pátria de todos e zelará das famílias que precisam.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: um registro sobre os 580 dias em que Lula ficou preso na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba.
Direção, de Julia Duailibi e Maira Donnici Roteiro e Edição de Maira Donnici
Link do “Trailer”
GloboNews Documentário: Visita, Presidente - chamada (28 Dez 2022)
https://www.youtube.com/watch?v=9bQf4Kj8sRU
Documentário Completo