Pense em pessoas bonitas. Pensou? O elenco inteiro é assim, num roteiro esperto, envolvente, cheio de jogos verbais. Uma comédia muito diferente das americanas, sem dúvida – sem convites para gargalhadas, mas cheia de meios sorrisos.
Planos fechados. Muito fechados. Você vê de novo pessoas normais com sorrisos normais, dentes com aquele apinhamento que era um charme, a beleza do brilho dos olhos – totalmente diferente dos dentes estranhamente branco-neve, formatados por aparelhos para serem iguais entre si. E diálogos, jogos de palavras, apartamentos minúsculos e grandes praças.
Não que você vá sair do cinema discutindo com Freud sobre padrões da personalidade humana, mas o filme consegue ser agradável e inteligente, usando como arma secreta os detalhes daquelas pessoas, todas lindas, todas elas com o zoom fechadinho nas suas expressões.
E mais do que o roteiro - que é bom – o filme nos devolve à percepção das nossas expressões, da nossa expressividade, dos olhares, dos sussurros secretos – nem parece que falo de um filme francês, do século XXI, mas falo e vale à pena ver. A evolução do cinema entre Europa e América tem apenas um oceano entre elas, mas muitas vezes parece uma distância interplanetária, dado ao uso que a nossa imaginação desempenha, já que ela é parte dos filmes europeus – na verdade, eles contam com ela, a estimulam.
Não conseguiu imaginar? Eu sei. Vá ver o filme, ora!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
A primeira coisa que reparei quando vi o filme foi a beleza dos atores. O filme nos dá planos tão próximos que conseguimos ver as micro expressões. Todos tão bonitos, belos, naturais, expressivos, com características pessoais lindas e únicas. Talvez o sorriso mais bonito do filme seja o da atriz Laetitia Casta. Um ou dois dos dentes estão um pouco fora do seu lugar e ficam sensacionais. Imagino que se alguns profissionais pudessem, já lhe tinham colocado uns dentes perfeitos, mas não tão bonitos. Porque são dela, naturais. Vejam o filme e me digam se existem dentes comprados que possam superar aquele sorriso. Esse dinheiro podia ser utilizado em formas muito mais úteis.
Outro ator que me deixou impressionada com sua beleza e expressividade facial foi Joseph Engel. Que coisa mais fofa da mamãe. Tão novo e tão talentoso.
O filme tem uma leveza estonteante. Me lembrei um pouco de ”Insustentável leveza do Ser”. Uma sinceridade espantosa e por vezes absurda dos personagens, mas que deixa você sem saber se vai virar filme de terror, de suspense ou apenas retrata a vida real. Por que pode ser qualquer uma delas. E para mim, virou a vida real, onde a todo o momento você se surpreende com o que as pessoas dizem, fazem, pensam, são capazes. A sinceridade assustadora das crianças e o que elas fazem que nunca esperamos. Como na vida real.
E fala de coisas muito sérias de uma forma original. Por que muitas pessoas que estão indecisas entre o que sentem por duas pessoas por exemplo, como no filme, escolhem de formas muito versáteis e por vezes pouco edificantes. Resolvem um problema. Problema esse que pode voltar. De uma forma boa ou mais ou menos. Mas vejam o filme por que vale a pena o mistério.
Ana Santos, professora, jornalista
Site de informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt8075202/
Circuito Saladearte