O quê um filme de pouco mais de vinte minutos, no Afeganistão, pode ter de semelhança com o Brasil atual? Talvez tudo. É já uma calamidade, a falta de perspectiva da nova geração diante de tudo o que se propala sobre o que os jovens devem querer da vida. A pessoa estuda, se esforça e consegue... o quê? Se você é paupérrimo, totalmente desguarnecido, o que a vida tem para lhe oferecer, mesmo que esteja motivado, alegre, esperançoso?
Este é TRÊS CANÇÕES PARA BENAZIR. No início, nós nem sabemos materializar que aquilo que era apenas um nada, na verdade era um tudo, era o momento de felicidade – porque num pequeno espaço de quatro anos, as vidas pioraram – como se isso fosse possível.
Quando olhamos para aquilo que a aristocracia que habita o mercado parece olhar com conforto – educação inexistente, oportunidades inexistentes, dinheiro e emprego inexistentes, higiene inexistentes – turva a nossa visão a perspectiva real dos resultados com os quais já estamos convivendo – basta a gente pensar qual é a perspectiva que o setor de entregas dá aos entregadores. Escola, salário, saúde, estágio em outros níveis, possibilidades de evolução, aposentadoria – nada. O deserto do Afeganistão, o Brasil e Haiti ficam logo ali, quando projetamos o que a economia fria propõe para o futuro da gente.
Se alistem, lutem, matem bastante, torturem. Ou trafiquem, plantem, colham a matéria prima para drogas potentes e se viciem. Qual é a perspectiva, afinal? Qual é mesmo este projeto de sociedade, de ambiente, de futuro?
O filme é tão chocante que a gente nem repara que o que faltam de drones - que agora habitam todos os filmes - sobra – em um roteiro denso, difícil de engolir e que quando o filme acaba, fica martelando no cérebro de quem quer que tenha o mínimo de consciência.
Assista antes de votar porque “é machista e precisa se autoafirmar ou porque Deus mandou pela boca de outrem o nome certo para as urnas”, votando nos machos “men” ou falsos religiosos de plantão – aliás, eles estão dando em cachos, atualmente. Quem vota, coloca um tijolo no futuro e o futuro, quando dá tiro, faz queimada e rouba, é caos, miséria, guerrilha urbana e perdição – lembrem bem disso – ou corram das inúmeras balas perdidas que nos perseguem pela vida.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e Tv
O mundo não é só o lugar onde vivemos, nem só o país onde nascemos. Precisamos lembrar sempre isso. E cada lugar, com a sua cultura, impõe limites ao que se deseja fazer na vida. Uns lugares mais do que outros.
Viver de uma forma pobre, simples, com poucas oportunidades de trabalho é a vida de muitas pessoas no mundo. E quando tens coragem, visão, determinação para quebrar o enguiço de fazer o que todos fazem e terminar da forma como todos terminam, é devastador se isso é impedido por outros.
Também é chocante ver como vivem atualmente no Afeganistão as pessoas que foram afetadas pela guerra.
Documentários são sempre importantes de assistir para nunca perdermos a noção de que o mundo é complexo. Imperdível.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Mesmo que o amor de Shaista por Benazir seja palpável, as escolhas que ele deve fazer para construir uma vida com ela, têm consequências profundas.
Diretor: Elizabeth Mirzaei, Gulistan Mirzaei.
Trailer e informações: