Não é como um filme de suspense comum, cheio de adrenalina, onde você sente medo do que vai acontecer a cada segundo. O filme – baseado em fatos reais, diga-se de passagem – tem uma verdade que não queremos aceitar desde o primeiro segundo. Neurocientificamente, não conseguimos mesmo ver o mal em pessoas bonitas, cheias de charme. Não, não é uma discussão – é um fato.
Nesse filme há um adendo que todos vão sentir, com certeza. Ninguém – embora, no fundo todos saibamos – quer acreditar que aquela pessoa tem a face de um psicopata porque os psicopatas podem ter qualquer face, já que seu problema está na amígdala cerebral e não visível aos nossos iludidos “olhos especializados”. Minuciosamente, o diretor planta na figura dele o anjo apaixonado e cordial e o demônio inescrupuloso. Mas, a beleza, os olhos azuis, o sorriso encantador e o extremo cinismo colocam a nossa certeza em xeque a todo momento. Quando a perícia aponta numa direção, uma cara de vítima, um sorriso de anjo.
Que filme! Passo a passo, ficamos frente a frente com um assassino em série e nem assim assimilamos a informação porque não a queremos. Havia um homem ao nosso lado, gemendo, coitado, que parecia querer dar um aviso que não tinha voz para gritar. Como as serpentes encantadoras de sapos, o homem ao meu lado queria fugir daquela certeza maligna, mas ficava encantado com os olhos, o sorriso, a simpatia estampada no rosto daquele assassino.
Cheio de grandes atores que generosamente mergulham num universo de Interpretação orgânica e generosa, a adrenalina do filme está exatamente na nossa negação do que os olhos apontam. E sofremos em silêncio, nos convencendo de que temos que condenar um anjo caído. Um Lúcifer. Um lobo, em pele de cordeiro.
Afinal o único que não cai na conversa do cara é o cachorro, que acabou nem sendo adotado, mas que deu a dosagem do que estava sendo sentido – e que deveria ser admitido - naquele segundo.
Filmaço! Quem não for ver, vai perder!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Filme bem feito, com roteiro sensacional e uma excelente direção. Adorei. Uma horrível história real contada sob o ponto de vista da namorada do serial killer e de uma forma totalmente diferente. Sensacional. Filme sem uma pinga de sangue, mas com relatos do que ele fazia tão fortes e impactantes que deixam a pessoa colada na cadeira. Tinha até um senhor do nosso lado que fazia sonoplastia dos acontecimentos.
Quando você ama, você acredita, você confia. Quando você é obrigado a ver a realidade, e essa realidade é assustadora, primeiro você não quer ver. Não quer ver provas, não quer ver fatos, porque não quer acreditar que é possível ter confiado e se ter enganado. Até o dia que tem de o fazer.
Quando somos crianças aprendemos, não sei porquê, que os assassinos, criminosos, ladrões, corruptos, são maus, feios, grosseiros, mal educados. Na verdade, frequentemente eles são bonitos, impecavelmente vestidos, vaidosos, charmosos, com glamour, apaixonantes. E com uma autoconfiança inabalável. E é por isso que eles conseguem cativar as vitimas, mentir e ser convincentes durante anos ou a vida inteira. As pessoas são seduzidas por eles e por isso, ficam frágeis e desleixadas, permitindo que os lobos ataquem. Seja de que forma for. Neste caso verídico, cometendo atos horríveis.
Extremamente inteligentes, talentosos mas que, como diz o juiz em tribunal, escolhem caminhos diferentes.
Zac Efron, Lily Collins estão sensacionais e trabalham com um conjunto de atores de enorme qualidade, como por exemplo John Malkovich que em Portugal conhecemos bem.
Os atores americanos realmente são diferenciados. Não fazem de conta que são alguém de uma forma bem feita. Eles são tão bons que passam a ser as personagens. É impressionante. Neste filme isso é muito forte. Acho que não deve perder.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/title/tt2481498/
Itaú Cinemas – Glauber Rocha