Vamos logo resumir: Eu a-do-rei! Desde “Estrelas além do tempo” não saía do cinema capaz de enfrentar qualquer pessoa, falando qualquer coisa, de qualquer assunto e com “Suprema” aconteceu mais uma vez!
É incrível como a arte gera inspiração, força, capacidade de ultrapassar frustrações. E neste filme a gente tem a experiência inteira. Não penso nele como um filme feminista, mas num filme que aponta os inúmeros erros de doutrinar uma sociedade para que ela seja e funcione para homens. Não vejo nele apenas um filme que aponta o dedo para o machismo, mas como um filme que afirma que precisamos nos preparar para defender uma ideia, um conceito em que acreditamos em todos os momentos da nossa vida. Você estaria pronto “agora”? Tic tac. Ou “agora”?
Uma pessoa pode estar pronta e ao mesmo tempo continuar se preparando para defender um conceito durante 20 anos? Uma MULHER pode estar pronta e ao mesmo tempo continuar se preparando para defender um conceito durante 20 anos? Em Suprema, a resposta é um vibrante sim, com atuações brilhantes.
Não vou falar de Felicity Jones e Armie Hammer – impecáveis – mas destacar o trabalho da atriz no papel de filha deles, nos lembrando que a rebeldia tem um fundamento, pode enriquecer relacionamentos e ser produtiva. Tudo muito positivista – talvez. Mas estamos atravessando um período no mundo onde precisamos desesperadamente de positividade.
Há momentos em que o roteiro poderia ser melhor desenvolvido – creio que sim. Mas o que está na tela é inspirador o suficiente para que “desadotemos” os termos “empoderamento feminino” para adotarmos “precisamos continuar”, não importa quanto isso nos custe. Apenas porque nenhuma desigualdade pode ser suficientemente aceitável. Nenhuma é. Por isso “precisamos ir em frente”. Nada muito próximo do discurso da moda, mas detesto os papagaios! Portanto, não vamos “desconstruir, quebrar paradigmas ou empoderar” – vamos seguir em frente e preparar o discurso, a maturidade, o conhecimento, os valores para o momento de olharmos nos olhos da vida, do representante do poder ou whatever e ir em frente. Com medo, mas com coragem. Pisando no escuro do novo. Mas com coragem.
O filme é isso. E isso basta.
Imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Advogados, estudantes de direito, não podem perder este filme. Mulheres não podem perder este filme. Ninguém pode perder este filme.
A linguagem, a escolha das palavras e a história. A primeira imagem é lindíssima e avassaladora. A quantidade de mulheres na advocacia, no mundo profissional era quase nula e os homens que achavam que estavam ajudando, estavam carregados de preconceitos. Não tinham nem noção do poder das suas palavras. E, no meio de tudo isso, um marido, um homem, um ser humano extraordinário. Ainda hoje seria extraordinário. Pelo que dizia, pelo que fazia, pelo que pensava e pelo que estimulava. Uma pessoa incrível.
O mundo foi sendo construído baseado nas capacidades físicas melhores para a sobrevivência das espécies. Ninguém decidia se era por serem homens ou mulheres. Isso nos levou a um maior espaço, poder e obrigações por parte dos homens, por serem considerados os mais fortes fisicamente. O mundo mudou, percebeu injustiças, mas as mudanças são lentas. Demasiado lentas na maior parte das vezes. Para quem sofre são sempre mais lentas. Neste caso, as mulheres. E a vida traz deveres, compromissos, educação dos filhos e os sonhos se embolam e se esfumam. E damos um passo atrás para fazer o que é certo e aconselhável na vida. Mas quando a natureza da pessoa e os seus sonhos não a deixam sossegada nem satisfeita com essa paragem, aí como dizem os brasileiros, não tem jeito não. E não interessa quanto tempo demora ou quando isso é feito. Mas um dia aquele ser humano fará o que sua natureza lhe pede e o que sua alma considera certo. Não tem jeito mesmo.
Ana Santos, professora e jornalista
Saladearte
Informações sobre o filme