Eu preciso de filmes um pouco “água com açúcar”, principalmente quando se lê “baseado numa história real”.
Se diz que um filme está dividido em roteiro, diretor e atores. Se tudo isso for bom é uma obra prima; se a escolha do diretor falha, você tem bons momentos; se a escolha do ator falha, você tem algumas boas cenas; se a escolha do roteiro falha, você não tem quase nada porque se sustenta através e por causa dele. SOMOS TODOS IGUAIS tem roteiro baseado na vida real, o que faz muita diferença – pelo menos pra mim. Saber que aquelas pessoas existiram é uma coisa essencial porque nos vincula à vida e à possibilidade de construção de soluções amorosas fora da tela também.
Djimon Hounsou é um ator estrondosamente bom. Não que os outros não sejam excelentes, mas ele brilha mesmo quando não está fazendo nada, mesmo quando está parado no escuro. Portanto, sendo excelentes, Greg Kinnear e Renée Zellweger não aparecem da mesma forma.
A trama se confunde com o que vemos atualmente porque são cada vez mais pessoas que perdem o equilíbrio na vida e passam a viver sob situação de rua. No Brasil, erradamente nos acostumamos com algo com o qual não se deve admitir conviver. A pobreza extrema não pode mais fazer parte do cotidiano do Brasil e a nossa permissividade com os governos que entram e saem sem fazerem nada com relação a isso precisa acabar. Portanto, o filme fere mais, à medida que mostra uma situação de rua bastante melhor que a dos nossos pobres daqui, sendo que a situação de lá já é inadmissível.
Sendo linda, triste e real, a história aponta para uma mudança que precisa acontecer dentro de nós, mas que aqui nem passa perto. Sendo real, nossa capacidade de amar pode responder a isso sem religiosidade porque ela não é o mais importante; o mais importante é mesmo a capacidade de amar.
Sendo real, passar debaixo das marquises das cidades ganha um contorno de preocupação social e amorosidade que precisamos aproveitar para ajudar, criar movimento em torno do tema, falar do assunto. Se não, os políticos, entre uma fatia e outra de frios e pãezinhos, vão preferir os gostos dos ricos, ao invés das necessidades dos mais pobres.
SOMOS TODOS IGUAIS é tão bondoso que você chega a se lamentar quando acaba, mesmo com alguns problemas insolúveis de roteiro. Você acaba o filme se sentindo mais adequado ao reclamar/brigar/tentar mudar alguma coisa.
Vejam, chorem, curtam porque vale demais à pena.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Uma história da vida real, inspiradora, avassaladora. Imperdível!!!
Pessoas incríveis e bondosas mudam o mundo e salvam outras do sofrimento. Isso é uma dádiva. É algo muito especial. Conhecemos muitas pessoas que fizeram ou fazem isso todos os dias. Todos podemos fazer isso também. Tornar visíveis os invisíveis, os desabrigados, os indigentes, o que vivem nas ruas. Dar uma mão, abrir uma porta, sugerir um caminho, ser cuidadoso, carinhoso, gentil. Não ficamos menores, muito pelo contrário. Somos abençoados e devemos ter essa consciência em vez de fecharmos portas, impedirmos os outros de serem felizes, deixarmos os que estão frágeis à sua própria sorte.
O filme nos lembra que muita coisa errada e injusta acontece com pessoas boas. E todos sabemos disso mas fingimos que não sabemos. Pode acontecer com a gente. E não tem nada que ver com ser capaz ou não ser capaz. Sabemos bem. Todos. E em vez de cuidar dos outros, de tentar salvar os outros, fugimos aterrados como se tivéssemos medo de ser contagiados. Com o marido inicialmente acontece isso. E acontece de novo mais tarde. Mas, de alguma forma ele consegue recuperar a sua bondade e perder o medo de ser bom, de fazer as coisas certas. Talvez a vida seja isso mesmo. A tentativa de cada um de fazer a coisa certa. Falo dos que vieram para ser bondosos, claro.
Um filme incrível, com atores incríveis. Renée Zellweger, tem aqueles trejeitos estranhos de atriz famosa, mas é uma excelente atriz. Mais um filme em que ela demonstra isso muito bem. O que dizer de Djimon Hounsou? Sou apaixonada pelo trabalho dele. Talentoso, lindo. Que performance sensacional!!! Continua sensível, com um corpo “falante”, expressivo, doce, gentil. Algumas cenas entre Djimon e René são de uma riqueza extraordinária. É uma benção poder assistir.
Penso que precisamos muito de ver estes filmes para nos olharmos de vez em quando. Para enfrentar e resolver com suavidade assuntos difíceis das nossas vidas. Para aceitarmos que a vida é muito difícil e a partir daí, fazermos o que pudermos por nós, pelos outros, sem distinção. Como dizem no filme, somos todos iguais e todos viemos descobrir ou construir o nosso caminho de volta para casa/lar. Não perca este filme de forma nenhuma. E tenha uns lencinhos por perto.
Ana Santos professora, jornalista
Informações:
Sinopse: O negociante de arte internacional Ron Hall deve fazer amizade com um perigoso sem-teto para salvar seu casamento com sua esposa, uma mulher cujos sonhos os conduzirão na jornada de suas vidas.
Diretor: Michael Carney
Elenco: Greg Kinnear, Renée Zellweger, Djimon Hounsou.
Trailer:
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