O filme é uma explosão de energia, como qualquer coisa que vá discutir sexualidade na adolescência. Sentimos a vibração, o tremor que passa pela pele, pelos olhos. É um filme que, muito mais do que o argumento, mergulha nas nossas sensações e assim acaba nos inundando de memórias – as nossas.
Há tanto sofrimento que pode ser evitado na vida e a ação de se perder e de sofrer porque você se sabe, mas parece distante de se alcançar, lá está. O objetivo estaria ao alcance de suas mãos e de repente o preconceito ou uma visão pré-concebida e distorcida te afeta, te atravessa e, como num pesadelo, você se perde de si mesmo, ao ter que enfrentar a censura que te pressiona sem parar do lado de fora.
Claro que o filme poderia ter enfoques, cenas e abordagens diferentes, mas se fosse assim, se transformaria num filme ocidental. Então, com estranhezas e explosões, é perfeito como se apresenta. Descontrolado, apaixonado, sofridamente terrível e com níveis de expansão para o sentimento lindas, realmente lindas. Há uma visão do tempo particular, onde o diretor espera que nada seja importante o suficiente para ser dito - e usar o silêncio no cinema é mágico. Há cenas onde sentimos apenas. Não foram feitas com falas, não servem para falarmos delas. Então ao verem o filme, eu adoraria que fossem convidados a sentir, a se desprenderem dos corpos de adultos e suas eternas justificativas, para sentirem.
Um bom momento para ouvir seus adolescentes e perceber que por trás dos silêncios dentro do quarto existem almas que explodem e que o preconceito da sociedade é sempre abjeto.
Se descubra, se permita, se reveja em sua adolescência. Quem sabe, com seu filho ao seu lado?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme que exige maturidade emocional para ser entendido. Para se perceber o dano humano de Lei Marcial, Racismo, Homofobia, Xenofobia, Aporofobia, Ditadura, etc. Para nos questionarmos porque as pessoas não podem viver de forma honesta, pura e verdadeira o que sentem. Porque o verdadeiro amor vira tantas vezes um fardo e uma travessia de sofrimento quando poderia ser um caminho de luz e encantamento? Porque opinamos e criticamos o que os outros vivem e sentem verdadeiramente? Será que é porque não sabemos amar? Porque não nos permitimos mergulhar no verdadeiro sentido da vida? Um enorme filme para uma enorme conversa no final. Principalmente com quem se fala cada vez menos – os adolescentes.
Muito interessante que refira constantemente a importância do filme “Birdy” / “Asas da Liberdade” (1984), com Nicolas Cage e Matthew Modine. Se puderem, assistam a este filme. O grande filme destes dois atores consagrados. Onde se aborda igualmente como exercer a liberdade quando não conseguimos ser livres nas regras impostas pela sociedade.
Amizade, amor, educação, cultura, sociedade. Está tudo lá para nos olharmos de novo. A forma como somos amigos, como amamos, como fugimos ou enfrentamos a vida pode dilacerar os que nos amam profundamente... Era bom assistir a estes dois filmes e falar sobre isso com quem é importante. Enquanto podemos.
Lindos atores, talentosos, um roteiro com cara de história verídica. Olhares, risos, uma aula de expressividade com atores muito jovens. Tem algumas cenas que deveriam ser exemplos de representação, em aulas de universidade. Trilha sonora fabulosa. Uma tristeza de perda e uma angústia terna em todo o filme, próprias de uma cultura oriental tremendamente sensível e que sofre intensamente e interiormente. Novamente, Taiwan mostrando que o cinema é uma ferramenta essencial no século XXI.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
Sinopse: Em 1987, com o fim da lei marcial em Taiwan, Jia-han e Birdy se apaixonam em meio à pressão familiar, homofobia e estigma social.
Diretor: Kuang-Hui Liu
Elenco: Jean-François Blanchard, Akira Chen, Edward Chen