Tony Blair enfrentou uma inglesa. Uma. Uminha. E foi tudo o que ele precisava. Porque um País não se divide enquanto povo olhando apenas entre esquerda ou direita, mas entre o que é certo e errado. Não existe privilegiar filho de esquerda ou de direita; não existe corrupção de esquerda ou de direita. E nos distraem assim para que não haja um único brasileiro que aponte com coragem o que sabe sobre questões nacionais como Marielle, caixa 2, laranjal em eleição.
Uma única mulher denunciou a engenharia nefasta que precipitou as ações contra o Iraque, na guerra que derrubou Sadam Hussein. Uma mulher. Uma. Uminha.
Muita ação, muito suspense, muita reportagem investigativa. O Brasil tem algum jornalista investigativo para enfrentar com fatos indiscutíveis o poder? Por que essa noção que todos temos de que em Brasília reina a treva?
Nossa cabeça dá voltas na Inglaterra, mas todos os meus pensamentos recaíam no Brasil, em Brasília. O poder pode tudo? Até mentir para nós? Quem não mente pra nós? Este presidente não mente pra nós? O outro mentia? Quem disse a verdade? E a imprensa? Ela vende afinal notícias ou silêncio sobre o que vendeu não dizer, não denunciar, não compartilhar conosco?
Para esclarecer: tabloide denuncia a calcinha da deputada que apareceu na saída do carro oficial, o porre de um excelentíssimo qualquer. Mas imprensa vende o encontro escuso, o plano de desvio de verba, o flagrante de corrupção, o uso de robôs que enganam as pessoas e fabricam notícias. Quem tem coragem de denunciar o que é errado, aqui? Sem a moita pra o pessoal se esconder atrás falando de direita ou esquerda, mas com o escudo do que é certo, honesto? Sem colocar Deus no meio, mas o que é ético?
É. Como filme é imperdível, com interpretações maravilhosas, sensíveis, nada de gritos, escândalos e misérias. Só pessoas diante de uma decisão a ser tomada e o sofrimento decorrente disso. Para receber seu salário, você abandonaria sua visão do que é certo ou errado e deixaria seu País entrar em guerra sem falar nada? e perderia milhares de brasileiros? Dormiria à noite? Olha que aqui muitos roubam da previdência, da saúde, da educação, juntamente com os que sabem do que está sendo roubado, com os laranjas que emprestam seus nomes para desvios e todos dormem como anjos... somos menos brasileiros, menos patriotas?
Um filme fiel aos princípios que defende sem levantar a voz. Sensível, forte, sufocante, estimulante. FILMAÇO!!!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que vendo, não veem.”
José Saramago
É arrepiante quando “vemos” a realidade e a forma como enquanto seres humanos, escolhemos ser o que somos. Ser alguém honesto, íntegro, justo, é hoje saber que se pode ser preso, acusado de crimes contra a sociedade e contra os Governos. Contra leis que muitas vezes nem sabemos que existem. E se vivemos num país diferente do país que nascemos, somos muitas vezes surpreendidos pelas regras e leis que nunca imaginamos existirem. Mas mesmo que as leis sejam conhecidas, elas são interpretadas e “cumpridas” de forma sempre de acordo com o poder que temos na sociedade.
Quantas vezes fomos e somos enganados, quantas vezes mentiram e mentem ao povo, pessoas que estiveram e estão em cargos poderosos cuja função é zelar pelos povos – não é mentir nem acusar quem descobre as mentiras, nem impedir que os que procuram a justiça e a honestidade possam fazê-lo. Pessoas que são pagas com dinheiro público, dinheiro de pessoas que não têm dinheiro para comer, para ter uma casa, um lar. Como se consegue chegar a esse ponto?
Temos sérios problemas em ser justos nos lugares de poder. Sérios problemas em lidar com o poder. Em TER PODER. Julgo que em todos os países do mundo, devemos cuidar deste aspeto na educação das crianças e jovens, urgentemente. Não é possível que se ensine o bem e o mal, a justiça, a honestidade, a existência do Pai Natal, a bondade como algo que depende da nossa opinião. Temos de ter noções mais reais de que esses momentos de infância deixam marcas para sempre. Marcas que separam os seres humanos cada vez mais.
Katharine Gun, é um ser humano incrível. Alguém que deve ser um exemplo do que todos devíamos fazer. Pensar no povo, proteger o povo, destapar as mentiras e trapaças de que quem está no poder e se julga intocável. Somos todos iguais, todos. E todos devemos zelar por todos.
Este filme, baseado numa história verídica, dá uma pequena noção das monstruosidades que são feitas pelo mundo, a todo o momento, com a proteção das leis, dos silêncios e do medo. Nós, pequenos mortais somos enganados a todo o instante. E a todo o instante podemos ser engolidos pelos sistemas. E a todo o instante escolhemos não ver...o que vemos...
Amei o finalzinho...amei... as amizades são para sempre, mas não a qualquer custo. Veja o filme para entender. Finalmente aumentou a quantidade de filmes que retratam histórias de vida determinantes e exemplares. Uma forma de sabermos que não estamos sós. O Bug Latino agradece. Quando o Bug procura parceiros, procura “mãos” que ajudem, como o jornalista que escreveu a notícia e como o advogado que aceitou o caso. Amizades construídas com base no bem e na luta pelo que é certo.
Milhões de pessoas que morrem a todo o instante sem ter culpa de nada. Pessoas que ficam sem país...viva em outro país por alguns anos para sentir o que é não fazer parte...e aí tente imaginar o que é nem país ter. Pessoas que ficam sem nada apenas porque quem está no poder do mundo decide que é assim.
Esquecemos que vivemos em sociedade para todos terem proteção e direitos. A sociedade se transformou num lugar onde só protege quem aceita o errado, ou quem cala, ou quem faz o que tem vontade sabendo que está protegido. Olhemos para dentro de nós e tentemos ver o que podemos mudar, em nós e em nossa volta. Porque estamos num momento em que damos tiros nos próprios pés com a sociedade que criamos. E os que andam “soltos”, fazendo o que querem e rindo na nossa cara, precisam ser “domados”, consciencializados, ensinados, “melhorados”. Eles não têm “freio” moral. Necessitam de aprender a respeitar a vida dos outros seres humanos. Necessitam de se imaginar no lugar do outro. Como todos nós tentamos fazer, todos os dias. Umas vezes melhor outras vezes errando, caindo e levantando para tentar de novo.
Ana Santos, professora e jornalista
Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/title/tt5431890/
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