Emocionante. Num momento mundial onde a gente presencia a ultra direita tentar ininterruptamente invadir o espaço da democracia, mais emocionante é, ainda. Poucos atores teriam força dramática para assumirem a genialidade daquele que, pra nós, foi o maior mímico que a arte nos mostrou historicamente, como Marcel Marceau; Jesse Eisenberg fez isso, dosando com extrema inteligência os momentos de performance da personagem e mostrando peso dramático, heroísmo, ao contar momento de sua biografia que eu, francamente, não conhecia.
O roteiro e a direção de Jonathan Jakubowicz são incríveis e a interpretação nos coloca frente a frente com a “construção da ilusão de ótica” que a ultra direita usa para atordoar os fracos. Aqui estamos diante de “patriotas” – cegos – que apontam crimes de ódio dos outros, cometendo esses crimes de ódio. Que o nosso novo governo apenas lhes mostre o que é crime e puna os culpados. Lá, da mesma forma, a ilusão histórica da prisão, da tortura, da morte, da perseguição, sendo vendida como liberdade. É incrível como as pessoas não levantam os olhos para a história.
Jesse Eisenberg é judeu; poderia ser negro, indígena, nordestino, mulher ou gay – o fato é que se precisa de um coletivo que um grupo grosseiro e agressivo possa tentar humilhar. Não foi o nosso caso, nem o da França, na segunda guerra.
O fato é que ver alguém que você amava assistir e que inspirou toda a construção de Denise Stoklos – grande artista brasileira – se transformar num herói de guerra que salvou milhares de crianças judias da sanguinolência nazista é... emocionante.
De alguma forma, nesse nosso momento brasileiro, os nordestinos enfrentaram tudo para que vencêssemos. Marcel Marceau indo para a Suíça na neve e enfrentando tudo e nós movimentando as redes para que o interior pudesse chegar às urnas. Talvez eu esteja meio romântica, mas ... o filme é emocionante. Pela história, pelo talento dramático dos atores, pelo momento que vivemos, entendendo que cada um de nós pode defender a democracia da sua maneira, pela genialidade de Marcel Marceau – não importa o motivo. Apenas veja, curta, se emocione e vibre porque arte é isso.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Marcel Marceau. Qualquer filme sobre uma parte da sua vida será sempre interessante e imperdível. Este filme mostra uma faceta e um período da sua vida que não é muito conhecido. Mais imperdível ainda, se é que isso é possível.
Considerado o maior Mimo do mundo, o mais famoso de todos os tempos, o homem que provou a existência de músculos da cara com o seu trabalho, com a sua pesquisa, com a sua dedicação a uma arte tão incrível quanto difícil. Lembro perfeitamente, ainda hoje, de uma aula de anatomia na faculdade, com o Professor Nuno Grande, e de ele nos contar essa contribuição para a ciência, nomeadamente a identificação de dois músculos do lábio que os especialistas na época consideravam ser apenas um músculo. Marcel Marceau provou que eram dois.
O filme acontece pelo ano de 1938. É além de tudo um filme de história. Não existe um europeu que não foi informado e avisado sobre as guerras, principalmente a segunda guerra mundial (1939-45). Assistir a este filme e à forma cuidada e detalhista como narra os acontecimentos, impressiona, relembra e nos embrulha o estômago, pelo passado tenebroso, mas porque vivemos tudo de novo, apesar de ser de outro jeito – a invasão da Ucrânia pela Rússia, os refugiados desesperadamente fugindo do Sudão do Sul, Síria, Mianmar, Venezuela, Afeganistão, e os países que precisam receber estas pessoas, umas vezes sem condições, outras vezes sem grande interesse, outras vezes com a frieza das leis e dos seus interesses políticos, económicos, etc. Ver este filme é ver e receber recados sobre a atualidade preocupante. Tem uma cena em que duas pessoas falam sobre a perseguição histórica aos judeus, enquanto um homem negro assiste a tudo em silêncio. É isso, recados sendo dados para vários problemas históricos. Um filme cheio de avisos, de motivos de reflexão, de questões existenciais, de dores, de dificuldade. Somos uma civilização cheia de problemas que segue criando mais problemas, sem resolver os que já tinha.
Marcel Marceau foi tocado pela bondade, por propósitos válidos, nobres. Era tão bom se todos fizéssemos o mesmo...
Tente não perder este filme. Intenso, lindo, bons atores, baseado em fatos verídicos. Amei.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: A história do mímico Marcel Marceau enquanto trabalha com um grupo de escoteiros judeus e a Resistência francesa para salvar a vida de dez mil órfãos durante a Segunda Guerra Mundial.
Direção: Jonathan Jakubowicz
Elenco: Jesse Eisenberg, Clémence Poésy, Matthias Schweighöfer, ...
Trailer e informações: