O que mais adoro nos roteiros das animações de forma geral, é que se trabalha com a ideia de que a humanidade progride, mesmo quando sofre, se odeia e cria males. Me sinto sempre propensa a acreditar que isso vai acontecer na vida real apesar de, mesmo com, etc.
RAYA é exatamente assim. Há uma linda personagem central que aparece no início e no final apenas, mas que é a alma do filme, na verdade. Alguém de espírito nobre a ponto de acreditar que a guerra e a discórdia podem nascer da insegurança e não do ódio e que não vê o ódio como um fruto maquiavélico da natureza humana, mas como nascido de dores mal resolvidas e perguntas e inseguranças sem resposta.
Atualmente nem sei mais se uma animação assim é programa apenas para crianças porque nós estamos terrivelmente sozinhos e necessitando ver a luz da bondade que habita em nós porque o planeta não aguenta mais uma geração assim do jeito que estamos/somos.
Um reino que se transformou em cinco por medo de perder e que quase se destruiu por querer tirar para si os melhores pedaços, já que tinha medo de perder. Alguma semelhança com o nosso momento? A Disney e sua capacidade de transformar o terror em poesia, em princípios humanos e valores.
RAYA terá o mesmo medo, não se entregará a confiança, perderá quem ama e encontrará lindas personagens exatamente no mesmo dilema que ela. Tudo se fará com tanta beleza, em todas as dimensões de uma animação, mas a gente não pode esquecer que é uma história saída da alma humana e que ao mesmo tempo, o mundo vive o dilema de se unir para salvar o clima para as próximas gerações. Teremos alma humana para criar uma história que nos retrata e nenhuma alma humana para resolvermos problemas reais?
Arte linda, grafismos lindos, trilha perfeita, roteiro perfeitamente estruturado, no filme, foram iguais a um final feliz. Quando vejo Boris Johnson comparar a COP26 a um filme de 007, não sei se ele percebe que como um dos grandes precisaria apenas dar o passo, dar o exemplo e teria muitos países à sua volta. RAYA entregou sua pedra em confiança, foi petrificada pelo mal e isso engatilhou a entrega de todas as pedras para a pessoa menos confiável que foi quem cumpriu com sua palavra e salvou a todos, uniu os reinos e trouxe de volta os dragões. A pergunta que fica no ar é: não iremos confiar e vamos seguir depredando tudo, até que a próxima geração morra ou que viva em cápsulas de oxigênio, sem liberdade e possibilidade de ver as matas, o céu, os mares? O que RAYA fez poderá ser a mesma coisa a fazer para salvarmos o mundo?
Quem tem amor que responda. Você tem?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Gente, se eu tivesse direito a um desejo mundial, pediria que todos no mundo assistissem a este filme e no final conversassem, se “ajeitassem”, se entendessem, e juntos, finalmente, se dedicassem por um bem comum. Como no filme, precisamos baixar a guarda, confiar, respeitar e resolver o nosso futuro. Não para os “malandros” nos enganarem mais uma vez e outra e outra, mas para todos entendermos que a única saída é com todos unidos, confiando, respeitando. Sei bem, na pele, e vocês também, que existem pessoas que será difícil colocar nesta “energia”, mas talvez todos consigamos convencer esses mais cépticos ou “exploradores”, ou egoístas. Enfim, vocês entenderam...
É impressionante como em todas as artes plásticas, na cultura, o ser humano expõe suas preocupações, grita os problemas, disponibiliza-se para as mudanças necessárias. Mas os poderosos politica e economicamente, seguem cegos, aproveitando a vida, sendo apenas o que sabem - sendo “espertos”. Pagaremos todos bem caro por isso. Alguns já pagaram, alguns pagam e alguns pagarão. Não sou eu que digo, não – quem sou eu? – é o clima, é o planeta, o universo, o karma, o destino.
Os filmes de animação nos meus tempos de criança eram muito educativos. Talvez o único lugar educativo de muitas crianças. É importante que esse lugar se mantenha, na falta de todos os lugares, na falta de família, de pessoas com valores saudáveis, o lugar da salvação para as crianças. E, nos últimos anos, estes filmes viraram recados para os adultos, também. Tantos e tão bons, desde o primeiro “Rei Leão”, passando pelo “Divertidamente” – uma autêntica aula de neurociência. Muitas vezes pensei que seria difícil fazerem melhor. Mas fazem sempre melhor. Incrível. Quase na proporção contrária com que alguns líderes políticos fazem coisas erradas.
A história, o roteiro, as animações, os detalhes. As cores, os traços, as personagens, as falas, o conteúdo. Belo. Encantador. Emocionante. Se eu posso lhe dizer algo que você leve a sério, por favor veja este filme. Se possível com seus filhos, se possível com seus alunos. Com as pessoas maiores. Conversem no final. Não escondam as lágrimas. Falem sobre elas, se surgirem. Temo que tenhamos que ser nós, os “simples cidadãos” a fazer algum movimento para parar esta loucura de destruir o lugar que nos recebeu para vivermos a nossa vida.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Em um reino conhecido como Lumandra, uma Terra reinventada e habitada por uma civilização antiga, um guerreiro chamado Raya está determinado a encontrar o último dragão.
Diretor: Don Hall, Carlos López Estrada, Paul Briggs
Vozes: Kelly Marie Tran, Awkwafina, Gemma Chan
Trailer e Informações:
https://www.imdb.com/title/tt5109280/