Como esse filme não foi indicado em nenhuma categoria para o Oscar? Nem melhor ator? Nem melhor ator coadjuvante? Foram muitas modificações na comissão e nos critérios de indicações, mas ainda precisamos de mais mudanças porque este é outro daqueles filmes que as escolas deveriam tornar parte do currículo, caprichar na escolha dos profissionais para aproveitarem a situação para orientarem pais e filhos.
O filme não tem nenhuma preocupação em ser ou criar situações distantes da vida real e exatamente por isso é sensacionalmente humano. Não tem grandes gestos, grandes heróis, grandes vilões, grandes resgates emocionais. O 911 deles não tem teores miraculosos, as pessoas sofrem overdoses, você vê as pessoas se deteriorando, ali na tela. Mas o fato 1, o fator de erro principal está lá, estampado: temos que falar dos assuntos. Temos que falar. Nesses tempos loucos onde a contribuição social mais importante parece ser os “meninos vestirem azul e as meninas rosa”, Querido menino mostra que o uso de droga deveria ser mostrado como algo de ruim e destrutivo porque não o reconhecemos assim, não parece assim. As drogas nos enganam porque deixam apenas boas sensações, no começo do começo. O fim... o fim dispensa tudo, dispensa a vida, dispensa qualquer humanidade.
Alguns críticos não gostaram da escolha da trilha, do volume da trilha e tal. Vou contra tudo e digo que a trilha está ali segurando a emoção nas alturas. E emoções não têm nada de óbvias. Dor é dor e precisa sair de dentro de nós. A trilha serve como um escape da confusão e da dor – pelo menos funcionou assim pra mim.
O fato é que precisa ficar claro que a busca do que está dentro de nós, não se acha fora de nós. Essa busca meio caótica por “semelhantes”, em meio à tantos “diferentes” precisa pelo menos deste foco, que precisa vir da escola, de casa, do mundo adulto. Muito preconceito gera essa total ignorância, onde parece que basta falar “droga é uma droga,” que os adolescentes vão entender tudo! Uma hipocrisia que custa vidas demais, ainda que fosse apenas uma vida.
Querido menino é um senhor filme que usa cada enquadramento, trilha, falta de foco pra nos arremessar pra dentro de nós mesmos. Que fala que o amor, se existe, está lá, ainda que confuso, em algum lugar. Que um filme de drogas não precisa mostrar traficantes maus e todos esses lugares comuns. E principalmente que devemos falar do assunto drogas para entender porque tantos meninos não conseguem sair dessa armadilha.
Quer não for, vai perder com certeza! É filmaço!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Veja os créditos do filme até ao final. Terá uma excelente surpresa à sua espera. Aqui em Salvador, as pessoas parecem estar sempre com pressa de ir embora, logo que termina o filme. Desta vez espere um pouco. Vale a pena.
Adoro Timothée Chalamet. Simplesmente adoro. Lindo, fofo e um excelente ator.
Filme baseado em dois livros, escritos pelo pai e jornalista David Sheff, onde fala do seu filho viciado. Muito emocionante, muito assustador, muito importante de ser divulgado este testemunho. É referido em algum momento do filme que o problema não é o vício, mas o vazio ou insatisfação que existe em você e que você tenta resolver dessa forma que te torna um vegetal, dependente e sem capacidade de decisão. Arrepiante. Diga você se nunca sentiu o vazio e a insatisfação de se sentir diferente, não compreendido, desajustado. Se nunca sentiu uma sensação de inquietude e solidão. Todos sentimos, todos calamos e todos procuramos saídas para esses vazios. O esporte, a arte, a cultura, o trabalho, a família, o voluntariado, etc, etc, etc. Nem sempre acertamos. Vamos tentando e buscando o que é melhor naquele momento e adequando conforme o vazio e a insatisfação. Mas quando a escolha vai para lugares que te viciam e tomam conta de você e das suas decisões, quando essas escolhas te degradam galopadamente, aí o perigo te pegou. E, se algumas drogas são perigosas, existem drogas que são atômicas na forma e velocidade como destroem as pessoas. E aí, algumas pessoas sabendo que basta uma vez para viciar terrivelmente nem se aproximam. Mas algumas pessoas têm fascínio pelo perigo e também consideram que serão capazes de dominar os desejos e as sensações. E foi...
O que existe já é terrível, mas cada vez mais se criam formas de viciar ainda mais rapidamente e profundamente. Numa época onde as pessoas não sabem lidar com frustrações, onde as depressões aumentam e os suicídios se tornam banais, a luz está vermelha e piscando cada vez mais rápido. É preciso cuidado com um copo de uma bebida, uma passa de um cigarro, uma comida que nos é oferecida gentilmente, mas não sabemos o que contém. Acredito que não precisamos de viver com medo, mas precisamos viver atentos. E, tem coisas que não precisamos de experimentar. Você quer ser atropelado, levar um tiro ou uma facada para saber como é? Não precisa né?
Sei que não é tão simples assim. Nos anos que trabalhei em algumas escolas de comunidades, conheci situações que nem pareciam verdade. Mas são. E tudo piorou. Famílias que são destruídas completamente, a todos os níveis.
Aqui vemos uma casa sensacional, com pessoas que têm um suporte profissional, financeiro e, por isso, emocional, que permite dimensões de ajuda especiais. Mesmo assim é horrível.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt1226837/
Site da Saladearte
http://www.saladearte.art.br/