Quem se emocionaria com um polvo, com uma vida de polvo, no fundo do mar? Parece impossível, à priori, mas o filme é lindo. Primeiro, porque quem filmou sabia exatamente o que estava fazendo, sabia o que estava captando, sabendo como captar. Segundo, porque há momentos na vida onde você tem a rara oportunidade de se ver como é - uma poeira cósmica, um pozinho diante da imensidão do ser que rege a harmonia do Universo. Eu senti isso quando um boto colocou a cabeça fora da água e respirou – ssshhhh. Aí você olha onde está e percebe qual é o seu lugar na vida, naquele instante.
O filme mostra exatamente qual é o nosso papel, sem cargos, carteiradas ou status. É você diante de um bicho que toma todas as formas, que é o rei dos disfarces e ele, por confiança, cria um laço, uma comunicação com você, um carinho. Ele te toca por vontade.
Dentro do nosso estresse inexplicável, vem um polvo e lhe dá aulas ininterruptas de como viver, de como ultrapassar seus limites e conviver, aceitar, levar em consideração as diferenças. E não foi o humano a dar essas atitudes supostamente superiores – o nosso representante humano estava lá de boca aberta, tentando acertar e aprendendo a se doar.
Numa luz perfeita, movimento, aventura, ação, amor, compaixão, dor, luto – tudo isso passou pelos tentáculos pacientes do professor polvo, que bailou ao redor dos meus olhos de uma maneira emocionante.
Quando e quanto vamos aprender com ele, não sei. Craig Foster teve o privilégio das aulas presenciais e de uma maneira mágica, nos colocou diante do mar da África do Sul, de seus mistérios e da extrema maestria de nos colocar diante de uma sabedoria que não é a nossa, embora os grandes mestres a tivessem e nos tivessem demonstrado tanta capacidade de doar. Mas quem somos, diante dos mestres? E como um polvo pode ter, intrinsicamente ao seu ser - como nadar e se disfarçar - a sabedoria que quase nenhum de nós tem?
Assista ao filme e faça-se essa pergunta ao final. O que você pode fazer por alguém? Você pode confiar? Se entregar? Ser você mesmo, sem disfarces? Apenas tocar e se deixar tocar? Que espécie de vida você é capaz de ter?
Como veem, minha aula continua.
Imperdível.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme com um roteiro bastante inusitado. Surpreendente, sensível. Não venha com preconceitos, porque vai engolir todos.
Um filme com incríveis imagens da natureza e com uma história simples – de amor puro. Amor à natureza, aos animais, ao planeta, à vida.
Tem mensagens muito importantes. Uma delas, a de que não somos visitantes deste planeta – fazemos parte deste planeta. Por isso, convém sempre lembrar das nossas responsabilidades.
Um filme que nos alerta para o que não devemos perder, para aproveitar os que amamos, para partilhar nossas paixões pela natureza e para tentarmos fazer algo bom com o que sabemos e como podemos neste planeta que tanto precisa. Tente não perder.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
Sinopse: Um cineasta estabelece uma amizade incomum com um polvo que vive em uma floresta de algas da África do Sul, aprendendo enquanto o animal compartilha os mistérios de seu mundo.
Diretor: Pippa Ehrlich, James Reed
Elenco: Craig Foster, Tom Foster