Que série maravilhosa! Um lugar onde, como na vida real, os homens ficam frente a frente com crimes nascidos dessa “praticamente amalucada” defesa de crimes nascidos do machismo masculino, adotada pela sociedade. Em O SILÊNCIO DO RIO, diversidade, amizade, feminilidade, gênero, preconceito, machismo, luto, morte, assédio, pedofilia perpassam cenas, momentos, com um capricho, uma delicadeza, uma qualidade de texto, interpretação e direção impressionantes.
A produção é mexicana e, pela primeira vez, consegui sair daquele ritmo sempre novelesco, característico dos roteiros de lá, com aquele desenho cênico de sempre para mergulhar no universo “muxe”. E que maravilha é ele! Feminino, em primeiro lugar; honesto e em busca de respostas reais do significado de estar vivo ou mesmo de não haver significado em não se ser quem você sente que é.
Lindos momentos são como pingos de chuva, numa noite chuvosa – acontecem sem parar.
Os atores... que privilégio poder conhecer o trabalho de todos... Trinidad Gonzalez dispensa comentários. Ela é arrebatadora. Tem enorme química com Diego Calva, numa relação onde sinceridade é a palavra de ordem. O mesmo pode-se dizer de Frida Sofia Cruz - que faz Sicaru criança, ainda chamada de Manuel e Mauro Guzmán. Aliás, a escolha dos atores e as tomadas onde o diretor mostra em momentos consecutivos a imagem criança e adulta das personagens diante do fato, do trauma é espetacular.
Roteiro que deve ser premiado pela qualidade, cenários, elementos cênicos – um capricho do começo ao fim, num tema que as sociedades realmente precisam discutir e finalmente aceitar – ninguém “escolhe” este ou aquele gênero – as coisas simplesmente acontecem dentro de cada um de nós.
E dentro do machismo mexicano, o amor – este, universal.
Lindo, imperdível. Torço para que a Netflix banque mais temporadas.
Veja em família. E fale do assunto porque todos merecem amor e verdade na vida.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
Não costumamos indicar seriados, mas este é incrível. Excelente roteiro, direção, elenco, produção. Imperdível. Tem tanta coisa boa, mas tanta que nos apaixona desde o episódio um – são 8. Cada episódio tem entre 30 a 40 minutos – vê-se muito bem, muito rápido. Fala da cultura mexicana de uma forma sensível, encantadora e educativa, assim como fala das vivências de gênero de cada criança, cada jovem, cada adulto.
O enredo circula em volta de um momento infeliz, num casamento, e também em torno da dificuldade que é existir uma sociedade saudável com tanto machismo e tanto preconceito. O amor, sempre o amor guiando as decisões, guiando as vidas verdadeiras. O preconceito, sempre o preconceito manchando e guiando as invejas, os ódios, a maldade, os abusos.
O seriado aborda imensos temas importantíssimos. Deveria ser obrigatório nas escolas, nos cursos de sexualidade, nos cursos de igualdade de gênero, contra os preconceitos. Os diálogos nos estimulam a falar o que somos, o que sentimos, com os amigos, e estimula os amigos a serem leais – em vez de obterem essas informações para te menosprezarem nas tuas costas. Novamente a importância de falar, de concretizar em palavras e ações o que se sente, seja amor por pessoas do mesmo gênero, seja aversão a pessoas que não seguem os padrões sociais, culturais que a sociedade tinha como sagrados e obrigatórios. Falando o que se sente sobre nós e sobre os outros, sendo leal conosco mesmos e com os outros, seja o que for que digam e sentem, é um enorme passo para nos compreendermos. Falar nas costas, gozar, ser desleal, humilhar, é distanciar-se da verdade e daquilo que deveria ser o amor, a amizade e a vida em sociedade.
Os atores são espetaculares, espetaculares mesmo.
A personagem principal, é uma criação de um roteirista com um talento e uma sensibilidade muito fora do comum. E no percurso da vida dessa personagem, percebemos várias coisas em nós, nos outros. Deixo apenas uma que me encantou, com que me identifiquei muito – por vezes a vida obriga-te a afastar para te salvares, salvares quem amas e gostarias de ter por perto, encontrares noutro lugar e em outras pessoas o apoio, a possibilidade de viver de forma saudável. Nem sempre ficar é bom, apesar de sabermos da dor e sofrimento que é “deixar” e ou não estar presente.
Fala das Muxes, pessoas que nascem sendo consideradas do gênero masculino, mas que se identificam como pessoas do gênero feminino. E elas falam muito do que sentem, do que sofrem, de como precisam enfrentar uma sociedade carregada de preconceitos. Fala das linguagens e costumes dos povos tradicionais da floresta – lindo!!!
Não percam. É tão, mas tão importante o que se aborda neste seriado, que gostava que o percebessem como um “medicamento” ou terapia para a alma.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Dois meninos, Erik (Frida Sofia Cruz) e Manuel (Mauro Guzmán), testemunham uma morte secreta e se tornam amigos inseparáveis. Vinte anos depois, já adultos, eles se reencontram e enfrentam o passado comum, traumas e segredos enterrados.
Direção: Alberto Barrera
Elenco: Trinidad González, Mauro Guzmán, Frida Sofía Cruz Salinas.
Trailer e informações: