Outro filme baseado em fatos reais, como a gente adora, no Bug. Depois da primeira meia hora eu fui ver se era suspense, ao invés de drama porque o coração dá mil saltos. Resumindo: o que transforma uma pessoa perdida em alguém que persegue o que quer com unhas e dentes? E a dor pode ser transformadora. Como muitos sabem, eu sou fonoaudióloga de formação e quando você aceita um paciente, há um acordo que existirão desafios e dores a serem enfrentadas. Me lembro que Ewald Hackler me passou uma atriz que perdia a voz com frequência e, diante de sua voz verdadeira, sofreu muito – e era uma dor emocional, não física e emocional.
Quando você está diante da morte, ali, cara a cara, e a morte te cobra uma posição de enfrentamento radical, poucos se colocam corajosamente diante do fato de que é possível morrer, mesmo quando você não quer, mesmo quando você tem 20 e poucos anos e se acha indestrutível. O filme é incrível ao nos apontar a nossa fragilidade. Você pode ser jogador de hockey no gelo, mas há um momento onde cada de um de nós é um humano diante de suas fraquezas.
Em O PODER E O IMPOSSÍVEL, cada minuto do filme é feito desse e para esse enfrentamento. Na vida real, o rapaz ficou 8 dias no gelo, sem comer, caminhando, fazendo buracos na neve pra dormir, perdeu as duas pernas congeladas – mas viveu e conta a história em palestras de inspiração que dá até hoje.
No filme, dá vontade de desistir. Mil vezes, acho. A fotografia é incrível e branca. Tudo branco. Dá vontade de deixar o gelo vencer. Afinal, basta se deixar ficar onde está e morrer. Não. Porque sempre há a opção de viver. De lutar. De ver membros se deteriorando, enfrentar sua cabeça e vencer. Subir a sua montanha e se superar.
Num momento como o que vivemos – onde vida e morte dividem e brigam pelo espaço de ficar em casa ou sair – vale à pena aproveitar e assistir. Dá força. Estimula. Sempre é mais fácil ficar na sua de conforto, obedecer, ficar lá na neve e morrer. Só que não. A gente teima e vive. E fica em casa.
Está no Telecine, que está com ao sinal aberto.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Adoro ver filmes sobre esporte, sobre superação, sobre enfrentar a vida e os medos, e de acontecimentos verdadeiros da vida real. Adoro. Talvez a minha paixão por esporte e atividade física e a influência da sociologia e psicologia nessas áreas tenha algo a ver... Talvez porque nessas situações se veja o que somos verdadeiramente e ver a verdade da vida sem mentiras e hipocrisia é sempre tão mais belo.
Dizem que todos temos capacidades residuais de mais ou menos 30% que nunca utilizamos na vida. A não ser em situações extremas de vida ou risco de morte nossa ou dos que amamos. Exemplo: o pai não sabe nadar muito bem. O filho está se afogando, ele salta para a água sem pensar se sabe ou não, nada para salvar o filho, salva e se afoga por “cansaço”. Exemplo 2: a pessoa acha que só consegue caminhar 20 minutos, mas se tiver de fugir de um assassino, correrá até à exaustão. Conhecemos muitas situações em que ficamos perplexos com o que a pessoa foi capaz de fazer para sobreviver. Fez porque utilizou as suas capacidades residuais.
Este filme fala disso, mostra isso, num lugar extremamente agressivo: a montanha no inverno. Baixas temperaturas, ventos, lobos, neve, gelo, falta de alimentos. As assustadoras mudanças súbitas de clima nestes lugares podem deixar as pessoas em situações muito difíceis. A maior parte das vezes saindo sem vida. Como todos sabemos, nos momentos que precisamos, a bateria do celular/telemóvel está baixa, dessa vez não levamos comida, não existe rede de operadoras onde estamos, etc.
Aprendi que comer gelo ou neve desidrata. Devemos derreter a neve ou o gelo e beber essa água. Mais um filme que nos alerta para manter a nossa vida resolvida emocionalmente, porque podemos não ter tempo para o fazer no futuro. Aborda a dificuldade que temos em mudar comportamentos e hábitos e depois vem a vida e nos obriga a conseguir coisas muito mais difíceis. E muito rapidamente mudamos. Estes filmes, estes momentos difíceis de outras pessoas nos mostram como podemos e como somos capazes quando somos colocados à prova. Somos capazes de grandes coisas. Somos capazes de sobreviver a situações impensáveis. Somos capazes. Todos somos capazes.
Veja no filme o quanto pode sobreviver um ser humano. Como pode se tornar um exemplo de vida para os outros. Ser Coach e Mentor sem nunca ter tido uma “unha encravada” tem algo errado.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt5503688/
Diretor: Scott Waugh
Elenco: Josh Hartnett, Mira Sorvino, Sarah Dumont
Sinopse: O jovem Eric (Josh Hartnett) é um atleta profissional de hóquei no gelo, que atravessa uma fase ruim na carreira. Após abandonar a equipe, ele se entrega às drogas e fica longe do esporte. Um dia, para compensar os problemas, decide praticar snowboard numa montanha, mas toma um atalho proibido. Com a chegada de uma nevasca, não consegue mais encontrar o caminho de volta. Perdido, sofrendo com frio, fome, sede e com um ferimento grave na perna, ele deve encontrar forças para sobreviver.
Telecine
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Circuito de Cinema Saladearte
Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha